Este é o terceiro artigo de uma série da SembraMedia sobre como os sites de notícias independentes podem alcançar estabilidade financeira. Veja a primeira parte e a segunda parte.
La Silla Vacía é um dos sites de notícias políticas mais importantes da Colômbia. Ele surgiu em 2009 como uma iniciativa dedicada ao jornalismo independente e inovador, é 100 por cento digital e se concentra em cobrir "os movimentos do poder".
Desde então, a diretora Juanita León e o resto da equipe entenderam claramente a importância de ser uma organização próxima a seus leitores. Por exemplo, é comum ver Juanita e os jornalistas do La Silla argumentando e participando da seção de comentários de cada blog, artigo ou reportagem que publicam. La Silla Vacía foi uma das primeiras organizações de mídia digital da região a lançar uma plataforma - chamada La Silla Llena - que permite aos usuários seguirem, lerem e interagirem com especialistas de áreas específicas que escrevem através do meio.
Dito isso, não é exagero afirmar que La Silla Vacía foi uma das pioneiras do jornalismo público na América Latina. Sua primeira campanha, em 2012, foi chamada de Super Amigos do La Silla Vacía. De acordo com Juan Esteban Lewin, coeditor do La Silla, sempre houve dois objetivos para essas campanhas: em primeiro lugar, diversificar as fontes de renda, apostando em modelos de negócios que garantam a independência editorial; e, em segundo lugar, se aproximar de sua comunidade de leitores.
No último trimestre de 2016, La Silla realizou sua quinta campanha coletiva de captação de recursos, com resultados bons e ruins. Em 38 dias da campanha, 600 doadores contribuíram com COP89 milhões (pouco acima de US$29.000), um montante não insignificante que representará quase 5 por cento do orçamento anual do La Silla em 2017. Com esses recursos, La Silla vai comprar câmeras, microfones e treinar seu time para fortalecer sua seção audiovisual. Eles também realizarão cinco grandes investigações jornalísticas.
De acordo com Juan, antes do início da campanha de 2016, eles estabeleceram um objetivo específico: superar o número de doadores em 2014 e atingir 750 Super Amigos. "Nós não conseguimos, mas superamos o número de doadores do ano anterior, e obtivemos um recorde de doações em pesos colombianos", explica ele.
No entanto, em 2016 eles ainda estavam longe de seu objetivo [de captação de recursos], apesar do La Silla ter publicado uma cobertura excepcional sobre o processo de paz da Colômbia entre o governo e as guerrilhas das FARC, o que lhes valeu um Prêmio Gabriel García Márquez de jornalismo em 2016.
Juan Esteban explica dois motivos possíveis por que não atingiram seu objetivo: "Por um lado, acreditamos que não temos estratégias claras suficientes para distribuir nossa mensagem entre leitores, amigos e pessoas além de nossos círculos. Não há nenhuma pessoa responsável pela campanha e sempre fomos muito populares, e isso pode ser uma fraqueza. Não somos especialistas em marketing e nunca contratamos agências de publicidade ou produtores."
"Por outro lado, ainda temos problemas técnicos com a plataforma de doação. O que é mais frustrante é que existem pessoas que querem doar, que tentam uma, duas, três vezes e não podem por motivos técnicos."
Gracias a todos nuestros Súper Amigos por apoyarnos y fortalecer nuestra independenciahttps://t.co/CZafeU4qci pic.twitter.com/4Y6U8CUVUz
— La Silla Vacía (@lasillavacia) December 9, 2016
Tuite publicado pelo La Silla Vacía durante a campanha de crowdfunding de 2016.
Para facilitar as doações do exterior, durante sua última campanha de crowdfunding, La Silla Vacía usou uma plataforma de doação - Payu Latam - especificamente projetada para a campanha e integrada no site, além do Indiegogo.
Como o site salvadorenho El Faro, La Silla Vacía também estabeleceu um limite máximo para cada doação, US$350, para não se sentir em dívida com nenhum doador. Para Juan, o lado positivo é que há pessoas dispostas a passar de uma ideia à ação, que concordam em doar e apoiar o jornalismo investigativo. "Eu diria que as campanhas de crowdfunding do La Silla Vacía têm o potencial de continuar crescendo, mas precisamos de uma estratégia mais clara. Se continuarmos fazendo o que fizemos, já chegamos ao nosso limite", diz ele.
"A cultura de doações não existe na Colômbia", acrescentou Juan em entrevista à revista Semana da Colômbia. "Decidir doar significa quebrar sua inércia. Mas ao fazê-lo, os doadores não só ajudam a manter-nos vivos, mas também a garantir que outros projetos jornalísticos como La Silla possam surgir no futuro."
Este artigo foi traduzido e republicado com permissão (veja o original em espanhol aqui). Faz parte de uma série sobre a criação de jornalismo financeiramente viável pela SembraMedia, uma organização dedicada a melhorar a qualidade do conteúdo de notícias disponível em espanhol.
A fundadora e diretora executiva da SembraMedia é Janine Warner, bolsista Knight do ICFJ, uma especialista em ajudar empreendedores de mídia digital a implementar práticas de negócios sustentáveis e gerar novas fontes de receita online. Saiba mais sobre seu trabalho como bolsista Knight do ICFJ aqui.