Como ter resiliência e adaptação no centro da cobertura sobre a mudança climática

Jan 9, 2024 em Reportagem de meio ambiente
climate crisis

Em novembro passado, a Conferência do Clima da ONU, mais conhecida como COP28, foi realizada em Dubai.

Durante o evento, o gestor de comunidade do ICFJ, Paul Adepoju, falou com David Kerkhofs, coordenador de adaptação climática da organização Humana People to People, sobre como jornalistas podem fazer uma cobertura melhor da crise climática e mostrar aos leitores como populações são afetadas pelo fenômeno.

"Nós temos que perceber que o clima está mudando", disse Kerkhofs. "Não vamos voltar ao normal tão cedo, então precisamos estar preparados para o futuro."

A seguir estão mais conselhos de Kerkhofs sobre como jornalistas podem colocar a resiliência e a adaptação no centro de sua cobertura sobre o clima. 

Foque nas populações vulneráveis

No dia de abertura da COP28, os países concordaram em operacionalizar um novo fundo de perdas e danos para oferecer suporte financeiro à destruição causada pela mudança climática. Os países se comprometeram a assegurar mais de US $700 milhões para o fundo.

"Isso é progresso", disse Kerkhofs. "Mesmo que não seja o suficiente, e que não esteja sendo o rápido o bastante, e que devesse haver mais dinheiro [...], ele foi estabelecido. É um passo adiante."

Porém, observando a forma como os países têm reagido à mudança climática como um todo, Kerkhofs segue preocupado com a falta de apoio às populações mais vulneráveis do mundo. Esta é uma área na qual jornalistas podem ajudar, orientando discussões sobre os impactos da mudança climática.

Kerkhofs disse que jornalistas devem olhar para como as pessoas estão se preparando para potenciais eventos climáticos e destacar como populações estão atualizando seus sistemas atuais de resposta. As consequências da crise climática diferem dependendo do local, então essas respostas precisam ser elaboradas exclusivamente sob medida para as necessidades individuais das comunidades.

Kerkhofs encorajou os jornalistas a adaptarem sua cobertura para focar nas consequências atuais da mudança climática em suas regiões, em vez de simplesmente cobrir potenciais efeitos futuros, como os efeitos do uso de combustíveis fósseis.

"As pessoas estão morrendo hoje por causa da mudança climática; isso não é algo que vai acontecer um dia, no futuro", disse Kerkhofs. "Nós vemos tudo isso ao nosso redor: ciclones, inundações, ondas de calor, secas, etc [...] e eu não acho que isso é bem representado na mídia."

A resiliência climática, ou seja, a habilidade de grupos ou comunidades resistirem a choques climáticos, é outra medida importante para jornalistas examinarem, disse Kerkhofs, acrescentando que sua motivação para destacar os efeitos de comunidades vulneráveis vem de sua experiência em testemunhar consequências danosas de eventos relacionados ao clima na África e no Caribe.

Kerkhofs acrescentou que embora pareça que os líderes políticos não estão trabalhando duro o bastante nessas questões, há ativistas e organizações da sociedade civil que têm dedicado suas carreiras para trabalhar no sentido de soluções, adaptações e resiliência climática. Há alguns resultados desse trabalho, como a criação do novo fundo de perdas e danos e o promissor – ainda que bem limitado –compromisso de eliminar gradualmente os combustíveis fósseis

Cobertura da COP

Tendo feito a cobertura de outras edições da COP, Adepoju deu sugestões adicionais para jornalistas que venham a cobrir o evento:

  • Não busque simplesmente por manchetes e grandes anúncios. Em vez disso, encontre oportunidades para discutir questões específicas com os líderes. Tópicos como a forma como os países estão construindo resiliência a desastres naturais e como estão se adaptando à atual crise climática são ambos ótimos pontos de partida para discutir com partes interessadas;
  • As redes sociais podem ser um ótimo lugar para encontrar inspiração. Pesquise hashtags relevantes para descobrir sobre o que as pessoas estão conversando;
  • Encontre líderes cujas comunidades tenham sido afetadas diretamente pela mudança climática e descubra como eles estão reagindo. Amplifique essas vozes e as soluções propostas por elas;
  • Acompanhe a conferência no site oficial. Nele você pode ver a agenda, documentos das sessões e quaisquer medidas que tenham sido tomadas, bem como contatos. Jornalistas também podem usar o site para pesquisar um tópico e aprender sobre questões específicas;
  • Faça uma cobertura do ativismo climático de forma localizada. Quais são as principais questões da população que você atende? Quais são as prioridades do seu país após a conferência?

Foto por Li-An Lim via Unsplash.