Como sites de mídia digital podem monetizar seu capital social

por James Breiner
Oct 30, 2018 em Sustentabilidade da mídia

Ultimamente eu tenho lido muito sobre uma nova maneira de valorizar a mídia que beneficiaria iniciativas de jornalismo empreendedor, que quase sempre precisam de capital para serem lançados e sustentados.

Sociólogos e economistas vêm escrevendo sobre isso há anos -- capital social -- e tenho vergonha de dizer que comecei a aprender isso.

O capital social é um valor que os empreededores de mídia possuem através de suas redes sociais, profissionais e empresariais. É também um valor que eles criam através do impacto do seu trabalho na sociedade.

Os investidores, o público e os próprios empreendedores de mídia tendem a subestimar seu trabalho porque é difícil colocar um valor no capital social. Em contrapartida, é fácil valorizar uma publicação através da receita de publicidade e assinatura que gera e dos bens de capital que possui.

Quando empreendedores ativam seu capital social, podem criar valor que gera receita e apoia uma imprensa livre.

O recente livro do INSEAD "Power Is Everywhere: How Stakeholder-Driven Media Build the Future of Watchdog News", que foca no poder da mídia em criar um jornalismo fiscalizador, contém muitos exemplos de como os meios de comunicação em todo o mundo estão ativando seu capital social.

Mediapart, França

Os cinco fundadores da Mediapart -- jornalistas conhecidos das publicações Le Monde e Libération -- ativaram suas redes sociais em 2007 para refutar uma crença amplamente difundida na época: que as pessoas não pagariam pelo jornalismo investigativo online.

Quando a Mediapart foi lançada em 2008, os fundadores haviam arrecadado cerca de US$4 milhões em capital inicial, dos quais US$2 milhões foram de seu próprio dinheiro. Dois investidores externos investiram cerca de US$700.000. Quarenta amigos e outros investiram entre US$7.000 e US$70.000 cada, gerando mais US$700.000.

A reputação dos fundadores e suas redes foram o capital social que atraiu o investimento, bem como uma equipe de 25 repórteres dispostos a assumir o risco de um empreendimento que muitos achavam que ia falhar. A publicação digital de assinatura agora tem 130 mil assinantes pagando pelo menos US$120 por ano.

De Correspondent, Holanda

De Correspondent, uma plataforma de jornalismo online em língua holandesa, foi lançada no outono de 2013, depois de angariar US$1,7 milhão de 19 mil pessoas no que foi então um recorde mundial de crowdfunding para uma organização de mídia.

De novo, seus fundadores eram jornalistas bem conhecidos. Sua proposição de valor foi fornecer reportagens em profundidade, análise de notícias desconectada de ideologia política e nenhuma publicidade, a fim de manter a independência editorial. O site agora tem mais de 50.000 assinantes.

O editor Ernst-Jan Pfauth disse que um dos segredos para ativar esta rede de cidadãos holandesa foi começar um movimento, não uma publicação. "Nós dissemos à nossa audiência que queríamos começar uma publicação que serviria como seu antídoto diário para a notícia quente do dia. Prometemos aos nossos leitores que iríamos ajudá-los a compreender melhor o mundo ao seu redor.

Impacto social como capital

Nos últimos anos, surgiu um novo tipo de investimento denominado "venture philanthropy" ou investimento de impacto social, cujos investidores estão preocupados não apenas com retornos econômicos, mas com impactos sociais positivos.

O Media Development Investment Fund faz investimentos em "mídia independente em todo o mundo fornecendo notícias, informações e debates que as pessoas precisam para construir sociedades livres e prósperas". Em 20 anos, a organização forneceu US$153 milhões em financiamento e consultoria profissional a mais de 100 empresas em 39 países.

O MDIF desenvolveu um painel para avaliar o impacto. Ele mede seus investimentos de mídia por suas vendas, alcance (usuários, leitores, telespectadores, ouvintes) e viabilidade financeira (fluxo de caixa, ativos, dívida, crescimento, gestão), bem como o impacto sobre a responsabilização das autoridades e revelação da corrupção.

Deve-se também notar que muitas dessas organizações de mídia não estão interessadas principalmente em distribuir lucros aos acionistas, mas sim em benefícios sociais na forma de uma imprensa livre e independente. Eles medem a sua eficácia pelo seu impacto na sociedade em manter os poderosos responsáveis, incentivar a participação democrática e informar as suas comunidades sobre questões vitais. Esta é a sua estratégia para atrair investidores, patrocinadores e assinantes. A este respeito, eles estão reconhecendo que a indústria de mídia não é apenas uma fonte de lucros.

Para que o jornalismo de alta qualidade possa prosperar após o colapso do modelo de negócios tradicional para a mídia, o valor econômico do impacto social deve ser usado para justificar e atrair investimentos de fundações, ONGs, empresas, público e até mesmo do governo. Nessa nova dinâmica, as organizações de mídia precisarão encontrar maneiras de gerar receita e manter sua independência, mantendo seus financiadores à distância.

Este artigo é uma versão resumida de um post publicado originalmente no blog News Entrepreneurs de James Breiner e é reproduzido na IJNet com permissão.

James Breiner é um ex-bolsista Knight de Jornalismo Internacional que lançou e dirigiu o Center for Digital Journalism na Universidade de Guadalajara. Visite seus sites News Entrepreneurs e Periodismo Emprendedor en Iberoamérica.

Imagem principal sob licença CC no Flickr via Japanexperterna.se