Como os jornalistas do Sul Global podem abordar suas pautas

Oct 20, 2023 em Jornalismo básico
A man and a woman talking through ideas with sticky notes on a window.

Sugerir pautas para uma gama de veículos, tanto locais quanto estrangeiros, pode trazer aos jornalistas do Sul Global oportunidades para ampliar o alcance de seu trabalho e avançar suas carreiras.

O primeiro passo é descobrir como começar.

É preciso identificar para quem sugerir uma pauta, e uma vez iniciado o processo de edição, assegurar que o cerne e a voz narrativa de sua matéria não se percam na tradução.

A seguir estão algumas dicas para ajudar no processo de sugestão de pautas:

Dicas para entrar em mercados globais

Se você já tem uma ideia de pauta em mente, busque por possíveis publicações. Sugira para veículos que se alinham com os seus valores e estilo de reportagem.

Uma forma de avaliar como um editor pode olhar para uma pauta é observando os ângulos e tons presentes nas matérias sobre o Sul Global do veículo em questão. Os autores são de minorias raciais? As matérias têm muitos estereótipos?

Em seguida, sugira a sua ideia. Ao apresentar a ideia para um veículo internacional, siga as mesmas orientações ao fazê-lo para uma publicação do Sul Global. Apresente-se, inclua um link do seu portfólio e resuma a sua pauta, incluindo as principais fontes, em aproximadamente 500 palavras.

Entre para grupos de freelance no Facebook e WhatsApp para ter uma ideia melhor das taxas de mercado antes de aceitar a proposta de um editor. Alguns grupos populares são o Freelancing for Journalists e o No.1 Freelance Media Women.

Se você quiser manter um relacionamento regular com um veículo, considere informar aos editores se você tem uma série de ideias em torno de um grupo, lugar ou assunto sub-representado. As publicações estão muitas vezes em busca de diversificar seu conteúdo. Se elas souberem que você cobre uma região ou assunto específico, vão saber a quem recorrer no caso de matérias nessas áreas.  

Mantenha-se fiel à sua pauta

Mas como você vai saber se uma publicação vai fazer jus à sua pauta? Mesmo editores bem intencionados podem demonstrar vieses inconscientes. Busque por veículos que usam uma abordagem que lida diretamente com estereótipos e noções preconcebidas. O jornalismo de soluções é uma dessas abordagens que está ganhando popularidade.  

No seu cerne, a reportagem de soluções destaca pessoas, organizações e teorias que trabalham para resolver problemas na sociedade. Mas em vez de textos otimistas, essa abordagem requer matérias que analisem criticamente os esforços para lidar com problemas comunitários. 

O jornalismo de soluções também tem a preferência de muitos jornalistas do Sul Global. Patrick Egwu, jornalista freelance nigeriano, vê o modelo como uma resposta direta à cobertura historicamente injusta. "O jornalismo de soluções entra em jogo para destacar soluções a problemas enfrentados pelo Sul Global, em vez de só falar dos problemas", diz.

Egwu nota os vieses que vê em algumas publicações ocidentais. "Vemos como matérias sobre guerras, conflitos, pobreza e doenças têm mais peso que matérias sobre inovação, tecnologia, ciência, engenharia e matemática, etc. Este é o estereótipo do tratamento do noticiário da África por editores estrangeiros", diz.  

Veículos para sugerir pautas 

Immaculata Abba, jornalista e artista nigeriana, destaca os benefícios práticos de escrever para publicações estrangeiras.

"Os veículos ocidentais tendem a pagar melhor, e eu quero me expor a um mercado que paga mais em moedas mais estáveis", diz. "Os nigerianos vão ler artigos em publicações estrangeiras, mas as chances de um estrangeiro ler meus artigos publicados na Nigéria são menores. Eu quero falar para uma audiência global que seja receptiva ao que eu tenho a dizer."

Jornalistas podem buscar fortalecer os laços com veículos que têm um foco no Sul Global. O Rest of World é uma publicação internacional que foca primariamente em matérias de tecnologia no Sul Global, e pelas quais conquistou reconhecimento.

Mas jornalistas devem também se esforçar para escrever para publicações que estão surgindo no Sul Global. A Minority Africa, de Uganda, dá espaço para pessoas de grupos desprivilegiados do continente. Ela também oferece uma bolsa anual para aspirantes a jornalistas de grupos marginalizados. Já o Egab usa o jornalismo de soluções e trabalha diretamente com jornalistas. A plataforma coloca jornalistas árabes e africanos em contato com veículos adequados para as suas pautas.

Egwu também encoraja os jornalistas a apoiarem publicações locais.

"Nós precisamos construir a nossa própria mídia e definir nossas narrativas. Isso é muito importante", diz. "É claro que não há nada de errado em escrever para publicações estrangeiras e também não há nada de errado em fazer matérias sobre os problemas do Sul Global. Mas deve haver mais ênfase no que funciona em vez do que não funciona."  


Foto por Parabol | The Agile Meeting Toolbox via Unsplash.