Paul Salopek está caminhando há quatro anos e tem mais seis anos de caminhadas.
Seu projeto, "Out of Eden Walk", é um "experimento de 10 anos de jornalismo lento" para cobrir algumas das histórias mais importantes que vão desde migração em massa até a inovação tecnológica no início do milênio.
Salopek era o chefe do redação na África para o Chicago Tribune. Ele, como a maioria dos jornalistas, trabalhou em várias matérias diferentes em todo o continente.
"Eu pulava em um avião e fazia uma reportagem de guerra na Serra Leoa e então pulava em outro avião e fazia uma matéria de migração na fronteira do Zimbábue e África do Sul", diz Salopek, agora bolsista da National Geographic.
Ele colocava as matérias em "caixas minúsculas" com "limites rígidos que os leitores podiam entender claramente".
Mas agora, ele pensa sobre suas reportagens passadas e como escreveria essas mesmas histórias. "Essa caixa é arbitrária", diz ele. "Se você gastar algum tempo nessas histórias e passar por elas lentamente, verá conexões."
E depois de quatro anos andando nas pegadas dos primeiros humanos, seguindo uma das mais antigas trilhas de migração, ele percebeu as muitas camadas dessas conexões: as ligações entre uma matéria de pirataria e uma matéria de ciências, ou entre uma matéria ambiental e uma matéria de guerra.
Ele acredita nisso por causa de sua reportagem mais lenta. "Minha abordagem está se movendo a 5 km [por] hora; é como uma agência de correspondência estrangeira nômade", explica. "Caminho por histórias lentamente o suficiente para acumular algum grau de familiaridade com as questões nesse tipo de horizonte que estou percorrendo, seja a migração em massa, guerra, o clima ou a perda da memória cultural."
Reportagens internacionais podem ser complexas para capturar e contar. E os jornalistas muitas vezes não têm o luxo do tempo, mesmo quando isso lhes permitiria pintar uma imagem mais matizada de situações complexas.
Durante a crise dos refugiados, as manchetes sobre o número de barcos afundando ou desembarcando na Grécia eram comuns -- fornecendo uma narrativa digna, mas incompleta, da migração forçada.
"Com a crise dos refugiados, como foi abordada nos últimos anos, francamente, sempre foi algo único", diz Aryn Baker, correspondente na África para a revista Time. "Tratou de números e de [como] sobrecarregava a Europa, por exemplo, mas o que estamos perdendo é o lado humano da história. Mas é realmente difícil contar o lado humano da história sem reduzir esses seres humanos a vítimas. Acho que se você puder acompanhar as vidas e realmente engajar leitores e telespectadores, identificando-se com essas pessoas, teremos uma capacidade muito melhor de romper com esse tipo de fadiga de refugiados."
Baker, juntamente com Francesca Trianni, produtora de vídeos da revista Time, e Lynsey Addario, fotojornalista renomada, juntaram-se para contar histórias de refugiados na Europa através da vida de quatro bebês e suas mães. Para o seu projeto de um ano, "Finding Home", elas estão publicando textos, vídeos e fotos na versão impressa do Time, uma página da web e mídias sociais.
Mas o projeto é ousado.
"Todo mundo está tentando ler artigos em 700 palavras ou menos para caber em suas telas de iPhone e aqui estamos dizendo: 'Não basta ler um artigo de revista de 3.000 palavras, siga em tempo real uma história que vai levar um ano", diz Baker. "Estamos esperando muito de nossos telespectadores, mas acho que é realmente necessário entender as complexidades da questão dos migrantes."
Projetos como "Out of Eden Walk" de Salopek exigem um grande compromisso de seus públicos. Eles estão usando a mídia social não só para manter seu público interessado, mas também para adicionar mais detalhes à história.
"Estamos tentando o tanto quanto possível fazer com que as pessoas sintam que estão nessa jornada conosco", diz Trianni. "É algo que os jornalistas de 20 anos atrás nunca fariam, basicamente abrir-se e mostrar a incerteza e todas as entrelinhas que costumam ser retiradas no processo de edição, tanto para vídeo e texto."
Trianni descreve a conta do "Finding Home" no Instagram como um "diário". Mais de 7.000 pessoas estão seguindo as personagens da história. Taimaa, seu bebê Heln e marido Wael foram aceitos recentemente na Estónia. Baker e Trianni postam fotos e vídeos com mais detalhes, pedem conselhos de seguidores sobre como se preparar para o frio e compartilham capturas de telas de conversas no WhatsApp.
Os seguidores estão engajados particularmente, oferecendo suas sugestões, orações e pensamentos.
"Isso também informou nossas reportagens, porque muitas das perguntas que as pessoas fizeram eram inteligentes e pensadas e queriam saber mais sobre as condições no campo e o que ia acontecer a seguir", diz Trianni sobre um vídeo ao vivo do Instagram em um campo de refugiados que foi assistido virtualmente por pessoas na Índia, Chile e resto do mundo.
Salopek notou um interesse parecido. Ele acha que todos os comentários sobre suas matérias são ponderados, "o que é extraordinariamente raro", acrescenta.
Quando ele começou a pensar sobre o "Out of Eden Walk", realmente achou que seria um "purista" e não usaria a mídia social. Ele logo viu o potencial de usar a mídia social subversivamente para levar os leitores a ficarem com um projeto tão longo. Hoje em dia, Salopek diz que publica uma imagem quase todos os dias para lembrar os leitores da "batida de coração" conectando suas narrativas.
O "Out of Eden Walk" está até mesmo arquivando comentários para que "no final da viagem você não tem apenas a minha voz, mas milhares de outras vozes de nossos leitores tendo essas conversas", diz ele.
A revista National Geographic também está trabalhando em uma ferramenta de tradução que permitirá aos leitores traduzirem as matérias de Salopek para muitas outras línguas, incluindo as dos países onde ele está percorrendo.
Projetos como o "Out of Eden Walk" e "Finding Home" gastam muitos recursos para criar, mas no final Trianni acha que vale a pena porque "reportagens de longo prazo realmente levam a lugares onde você não teria prevido."
Imagem principal de Aryn Baker e terceira imagem (da esquerda à direita): Aryn Baker, Lynsey Addario e Francesca Trianni) cortesia de Aryn Baker. Segunda e quarta imagens do bolsista da National Geographic Paul Salopek por John Stanmeyer para a National Geographic.
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