Em agosto do ano passado, Orton Kiishweko, repórter do Daily News na Tanzânia, deparou com uma notícia fazendo as rondas no WhatsApp, o aplicativo de mensagens móveis.
"Eu li de um grupo no WhatsApp que alguns clérigos muçulmanos da Tanzânia tinham sido sequestrados por rebeldes no leste do Congo e [esses] estavam exigindo resgate", disse Kiishweko.
Uma pesquisa rápida no Google corroborou os relatórios iniciais. Mas faltavam detalhes. Então Kiishweko recorreu a funcionários do Ministério das Relações Exteriores para confirmar a história. Eles forneceram a informação de contato do embaixador da Tanzânia para a República Democrática do Congo (RDC). "Eu imediatamente guardei o número do embaixador no meu smartphone e enviei-lhe uma mensagem de WhatsApp", disse o jornalista. "Ele respondeu com detalhes e eu fiz a minha matéria com base nos detalhes completos que ele me deu."
Kiishweko faz parte de um número crescente de jornalistas da Tanzânia que está aproveitando cada vez mais a popularidade do WhatsApp no país e transformando em uma ferramenta para reportar as notícias.
O WhatsApp tem mais de 1 bilhão de usuários em todo o mundo. É o mais popular aplicativo de mensagens móveis no mundo, perdendo apenas para o Facebook no número de usuários em todo o mundo, que o comprou por US$19 bilhões há dois anos.
Organizações de notícias estão começando a reconhecer o potencial da plataforma. Em março, a BBC anunciou que vai usar o WhatsApp para distribuir um documentário sobre os jovens no Congo. E no início deste mês, o Financial Times disse que vai começar a entregar um artigo gratuito por um dia, além do seu paywall, através do WhatsApp.
Na África, a explosão do uso móvel criou uma base de clientes ideal para aplicativos móveis como o WhatsApp. Estima-se que o continente irá representar um dos maiores segmentos da plataforma de usuários da internet.
Muitos tanzanianos pensam no WhatsApp como sinônimo de possuir um telefone móvel. Quando as pessoas compram um novo dispositivo, esperam que o aplicativo seja incluído na transação.
"As pessoas perguntam: 'Este celular tem WhatsApp? Se não, baixe para mim'", contou Mike Mushi, cofundador do Jamii Forums, um site popular da Tanzânia. Para a maioria das pessoas, "WhatsApp faz parte do telefone", acrescentou.
E com algumas empresas de telefonia móvel tornando mais barato para os usuários com smartphones básicos usarem a ferramenta, o aplicativo tornou-se a rede social de escolha para os tanzanianos.
"WhatsApp é agora a plataforma de mídia social número 1 na Tanzânia", disse Musi. "Maior do que o Facebook."
A proeminência de WhatsApp ficou clara durante a eleição presidencial do país no ano passado. Os partidos políticos usaram a plataforma para testar como suas mensagens eram recebidas pelo público. E se algo era compartilhado no WhatsApp, então provavelmente significava que a mensagem tinha ressonância, apontaram os estrategistas políticos.
Por que eles escolheram o WhatsApp como uma ferramenta para medir a eficácia da sua comunicação tem algo a ver com a forma como a plataforma funciona. Os usuários do WhatsApp tipicamente fazem parte de grupos com os quais compartilham conteúdo. Por causa dessa natureza em rede, a informação pode ir viral muito mais rapidamente. "Se você tem acesso a 100 grupos e há 100 pessoas em cada grupo, então você pode potencialmente atingir 100.000 pessoas", explicou Musi.
E para os jornalistas, cada vez mais significa que, se algo está se espalhando por lá, provavelmente é interessante.
"WhatsApp é o nosso quadro de avisos, o nosso pager", disse Tulanana Bohela, repórter da BBC na Tanzânia. "Qualquer matérias que fazemos quase invariavelmente ouvimos falar pela primeira vez no WhatsApp em algum grupo em algum lugar."
Bohela explicou que a capacidade de compartilhar mídia rica através da plataforma com custos mínimos de dados para um usuário também permitiu que tanzanianos facilmente distribuam conteúdo multimídia.
Bohela deu como exemplo a forma como a redação relatou a morte do popular cantor congolês Papa Wemba no mês passado. "Tudo começou com um par de fotos de [Wemba] desmaiado no palco compartilhada em WhatsApp pelo nosso repórter do Congo", disse ela. Isso tornou-se um ponto de lançamento para investigar a história ainda mais.
"É uma ferramenta ... que usamos para dar notícias enquanto estão se desenvolvendo e enquanto as coisas evoluem," Bohela acrescentou.
Para Mushi e Jamii Forums, especializada em notícias de crowdsource, o WhatsApp tornou-se uma forma de envolver o público na coleta de notícias. "Podemos usá-lo para distribuir conteúdo e, em seguida, as pessoas podem enviar de volta informações e dar mais contexto [a uma matéria]."
Apesar de tantas vantagens, no entanto, a plataforma tem suas armadilhas. Informação que parece ser oficial pode circular no WhatsApp quando é de fato falsa. O que significa que, apesar de a capacidade do WhatsApp de ligar facilmente os repórteres a possíveis notícias, a reportagem à moda antiga ainda se aplica.
"WhatsApp é uma fonte como qualquer outra", sublinhou Bohela. "Como qualquer fonte, precisa ser verificada."
Imagem sob licença CC no Flickr via Luis