Como encontrar joias escondidas em dados do Censo

May 23, 2022 em Jornalismo de dados
A man reviewing data on his laptop.

Relatórios censitários são um tesouro de informações se você souber como usá-las. É aí que entram gurus de dados como Paul Overberg.

Integrante da equipe de dados do Wall Street Journal (WSJ), Overberg usa os relatórios do Departamento de Censo dos Estados Unidos para descobrir "joias escondidas" — histórias importantes que não seriam contadas se não houvesse um entendimento adequado dos dados.

Por exemplo, na matéria de capa "A América rural é a nova 'cidade do interior', a análise do WSJ dos dados censitários ajudou a revelar uma grande mudança socioeconômica: desde os anos 1990, condados pouco populosos substituíram grandes cidades como as áreas dos Estados Unidos mais problemáticas em métricas fundamentais como taxa de divórcio, pobreza e aumento do crime causado pelo uso de opioides. 

Na pesquisa, os repórteres examinaram minuciosamente indicadores sociais e tendências ao longo do tempo para desvendar a pauta. "Nós vimos que as áreas rurais estavam ficando para trás por causa de mudanças demográficas nos últimos 10 a 15 anos. Os dados indicavam uma virada em relação àquilo que a maioria das pessoas estavam acostumadas. Foi surpreendente para nós", diz Overberg, coautor da matéria.

Quase qualquer país coleta informações sobre sua população, economia, imigração e outros tópicos que a mídia cobre rotineiramente. Embora esses dados sejam ótimas fontes de informação para jornalistas, cair de paraquedas nesses relatórios pode ser bastante difícil.

Overberg, que capacita jornalistas para usarem relatórios censitários, ofereceu as dicas e recursos a seguir para decifrar montanhas de dados. Confira o que ele recomenda:

  • Comece com o que você conhece e trabalhe a partir daí. Overberg sugere focar na sua comunidade e nas mudanças que você vê acontecendo ao seu redor. Para obter uma compreensão atualizada sobre o assunto, comece com comparações simples. Qual era a proporção de migrantes na população uma década atrás? Qual é hoje? Ela aumentou ou diminuiu? Qual o impacto disso?

A pesquisa anual American Community Survey (ACS), do Departamento de Censo, é "uma fábrica de dados e produz novos instantâneos em série para tudo — de uma cidade de 400 habitantes a Nova York — e todos os diferentes aspectos da mudança que ocorre nas comunidades", diz Overberg, que escreveu um guia sobre o que jornalistas precisam saber sobre o uso de dados da ACS.

  • Comece fazendo a pergunta mais clara que você quer tentar responder. Um mentor deu esse conselho a Overberg no início de sua carreira no jornalismo de dados e ele o carrega desde então. Um exemplo pode ser: qual a fatia da população na minha região nasceu no exterior? Se o número dobrou em dez anos, o que isso diz sobre onde você vive? Uma pergunta clara pode levar a uma variedade de questões que merecem investigação mais profunda.
  • Converse com especialistas que vivam disso. Por exemplo, a Metropolitan Planning Organization (MPO), agência comandada pelo governo federal que fornece dados sobre o uso de recursos para o transporte. Ela considera tendências da população, onde as pessoas moram e como são os deslocamentos, dentre outras informações. Overberg também indica duas ferramentas internacionais que considera úteis: Our World in Data e a OCDE.

Relatórios censitários oferecem uma grande quantidade de indicadores sobre cada pessoa pesquisada, incluindo idade, sexo, estado civil e tamanho da família. Migração e comércio internacional também fazem parte do pacote.

"Para mim, o lado maravilhoso sobre o censo dos Estados Unidos é a gama ampla de tópicos que o departamento coleta. Se você gastar tempo analisando os dados, boas pautas vão surgir", diz Steve Doig, professor de jornalismo de dados na Universidade Estadual do Arizona

Doig descreve dois tipos de pautas de censo: aquelas que lidam normalmente com o tamanho da população (como quais regiões estão com a população aumentando ou diminuindo) e pautas sobre algo completamente diferente, mas que usa dados do censo para acrescentar evidências ou fatos à reportagem. Por exemplo, para uma matéria sobre uma cidade acometida por crimes violentos, repórteres podem usar dados do censo para mostrar quais bairros são os mais vulneráveis.

Depois de consultar os dados, os repórteres podem ir para a rua, bater na porta e adicionar uma voz humana à matéria. "Dados censitários podem gerar matérias sobre como as pessoas são afetadas por mudanças", diz Doig, ex-repórter investigativo do Miami Herald.

Ele recomenda que jornalistas observem as variáveis nos relatórios censitários e imaginem qual tipo de matéria poderia ser feita sobre qualquer uma delas. "Essa foi a chave para o meu uso de dados censitários durante a minha carreira no Herald", diz Doig.

Doig aconselha ir ao www.census.gov e começar a explorar. Para repórteres estrangeiros, ele também recomenda checar os dados de comércio dos Estados Unidos sobre o que o seu país está comprando e vendendo para cá. "O censo é uma ótima ferramenta para jornalistas internacionais", diz Doig, que já ministrou cursos no exterior.

Para encontrar "tesouros escondidos" nos dados do censo, Brant Houston, professor de reportagem investigativa e empresarial na Universidade de Illinois e repórter investigativo de longa data, aponta para o cenário mais amplo: padrões, tendências e pontos fora da curva. A seção "Quick Facts" é um bom lugar para começar, de acordo com Houston. Escolha um estado, condado ou cidade, clique em "selecionar um fato" e vão aparecer estatísticas de idade e sexo, renda e pobreza, internet e uso de computadores.

"O Departamento do Censo coleta informações sobre quase qualquer tópico que você estiver procurando. Há possibilidades infindáveis de pautas", diz Houston. Ele recomenda a "Census Academy", uma parte do braço educacional do departamento, para aprender como usar esse grande recurso. "A ajuda está lá se você tirar um tempo para procurar por ela", diz.

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Foto por Campaign Creators no Unsplash.