Combatendo a COVID-19 na Alemanha

Sep 21, 2020 em Reportagem sobre COVID-19
bandeira alemã

Em parceria com nossa organização-matriz, o Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês), a IJNet está conectando jornalistas com especialistas em saúde e líderes de redação por meio de uma série de seminários online sobre a COVID-19. A série faz parte do Fórum de Reportagem sobre a Crise Global de Saúde do ICFJ.

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Quando a COVID-19 se espalhou pela Europa, países como França, Itália, Espanha e Reino Unido enfrentaram altas taxas de casos, hospitalizações e mortes devido ao vírus. Enquanto isso, a Alemanha evitou níveis semelhantes de transmissão e sofrimento entre seus cidadãos.

O sucesso da Alemanha em evitar uma primeira onda substancial de casos de COVID-19 foi duplo, explicou o imunologista e conselheiro da chanceler Angela Merkel, Dr. Michael Meyer-Hermann, em um webinar do ICFJ copatrocinado pelo Arthur F. Burns Fellowship

Primeiro, a testagem e o rastreamento de contato foram implementados logo no início. Se esse sistema tivesse sido adotado apenas uma semana depois, a propagação do vírus poderia ter sido exponencial. Em segundo lugar, o fluxo de informações entre cientistas, políticos e a população foi muito mais eficaz do que em outros países, incluindo os Estados Unidos. Como resultado, "as pessoas já estavam começando a cumprir as medidas antes de serem realmente decididas". Isso incluía usar máscaras, distanciar-se socialmente e evitar grandes reuniões.

Como seus vizinhos europeus, a Alemanha viu um ressurgimento da COVID-19 durante os meses de verão, com o número de casos diários saltando de 200 no final de junho para 2.000 em meados de agosto. Segundo Meyer-Hermann, o aumento de casos ocorreu devido a pessoas viajando e voltando de férias, e não por mudança de distanciamento social ou uso de máscara. Ele acrescentou que o aumento de casos não o está levando a reconsiderar sua estratégia até agora. “O vírus está aí, [mas] as medidas que temos são capazes de contê-lo”, disse ele.

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Como os alemães passam menos tempo do lado de fora agora, com o outono e o inverno se aproximando, Meyer-Hermann espera que a disseminação viral se intensifique. “A maioria das infecções acontece em salas fechadas, então teremos uma dinâmica intensificada de infecções virais e tudo começará de novo”, disse ele. “A questão é se somos capazes de contê-lo sem outro bloqueio, e isso é difícil de prever.”

Testagem, rastreamento de contatos e isolamento não são suficientes para conter o vírus no país, disse Meyer-Hermann. Essas estratégias precisam ser combinadas com o uso de máscara, principalmente em ambientes fechados. Em se tratando de protestos anti-máscara, Meyer-Hermann disse que não ficou surpreso que eles tenham acontecido. Embora tenham levado a um aumento da transmissão, ele acredita que a contenção implementada deve ser suficiente para segurar o aumento.

Como a maioria dos outros países europeus, a Alemanha permitiu a reabertura das escolas. Até agora, é difícil avaliar a dinâmica da transmissão, disse Meyer-Hermann. Por outro lado, “se [crianças] adoecem, apresentam menos sintomas. Mas ainda pode haver efeitos de longo prazo que não devemos negligenciar”. Por outro lado, não sabemos se a transmissão através de crianças é menos provável. Nas escolas, há “muito mais contatos do que em outras partes da sociedade. Portanto, mesmo que sejam menos infecciosos, ainda existe um grande perigo devido ao número de contatos."

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Meyer-Hermann disse que precisará reavaliar a estratégia da Alemanha à medida que as temperaturas continuam caindo. Um problema significativo para ele é “que as crianças desenvolvem uma gripe normal, por isso apresentam sintomas. Mas então o que você vai fazer com esse aluno? Você os manda para a escola?” Na verdade, se as crianças com sintomas precisarem fazer o teste primeiro, as escolas podem ficar meio vazias na maior parte do tempo.

Enquanto muitos aguardam a distribuição de uma vacina, Meyer-Hermann está cético quanto à sua eficácia potencial. Há alguns meses, 50% dos alemães estavam dispostos a se vacinar, mas esse número caiu para 20%. “Agora estamos contendo o vírus e a necessidade de nos vacinarmos com todas as dúvidas que estão associadas e os efeitos colaterais desconhecidos [está diminuindo]”, disse ele. De acordo com Meyer-Hermann, essa quantidade de adesão pública significa que uma vacina dificilmente alcançará a imunidade coletiva necessária para interromper os testes e rastreamento de contato generalizados.

Um fator importante para o sucesso da Alemanha em desacelerar a disseminação da COVID-19 tem sido o fluxo de informações, da ciência à política para as pessoas, observou Meyer-Hermann. Esse recurso central pode ser replicado em outros países ao redor do mundo: mesmo aqueles com menos recursos disponíveis. “Isso não é muito caro”, disse ele. “Isso não é nada que você não possa empregar em outro lugar, embora possa ser difícil em algumas partes da África, por exemplo, alcançar todos os cidadãos.”


Héloïse Hakimi Le Grand é estagiária de comunicações no ICFJ.

Imagem sob licença CC no Unsplash por Christian Wiediger