Em parceria com a nossa organização-matriz, o Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês), a IJNet está conectando jornalistas com especialistas em saúde e líderes de redação por meio de uma série de seminários online sobre COVID-19. A série faz parte do Fórum de Reportagem sobre a Crise Global de Saúde do ICFJ.
Este artigo é parte de nossa cobertura online sobre COVID-19. Para ver mais recursos, clique aqui.
O ano de 2020 está a caminho de se tornar o mais quente já registrado. Especialistas dizem que a crise climática pode apagar o progresso feito na saúde humana no século passado, e as comunidades mais afetadas pelas mudanças climáticas estão entre as mais vulneráveis durante a pandemia de COVID-19.
Ao mesmo tempo, o ímpeto para a ação climática está crescendo, as energias renováveis estão em ascensão e o segundo país mais poluente do mundo — os Estados Unidos — escolheu um novo presidente determinado a se juntar novamente ao Acordo de Paris.
Em um webinar do Fórum de Reportagem sobre a Crise Global de Saúde do ICFJ, Imelda Abano, presidente da Rede Filipina de Jornalistas Ambientais, David Callaway, fundador e editor do Callaway Climate Insights, e Gustavo Faleiros, fundador da InfoAmazonia e editor de investigações ambientais do Pulitzer Center, conversaram com a diretora sênior de programas do ICFJ, Jennifer Dorroh, para discutir as principais histórias do clima a serem cobertas em 2021.
Ângulos de reportagens
Embora as ideias de matérias específicas dependam da região, os painelistas concordaram que as mudanças climáticas irão assumir o domínio do ciclo de notícias. De acordo com Abano, que mora nas Filipinas, a principal história da Ásia é a interseção da mudança climática com os desastres naturais. Enquanto, Faleiros, baseado no Brasil, disse que as tensões políticas causadas por questões climáticas serão uma história contínua no próximo ano e além.
Já Callaway observou que, nos Estados Unidos, a primeira grande história em 2021 será a transição para o presidente eleito Joe Biden, e uma exploração de suas políticas sobre mudanças climáticas e o efeito que terão globalmente. Outra grande história, de acordo com Callaway, será a recuperação global da pandemia de COVID-19 e se será realmente uma recuperação verde.
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Conectando com o público
Ainda há uma desconexão entre as mudanças climáticas e sua importância para o público médio. Faleiros observou que as mudanças climáticas afetam todos os aspectos da vida das pessoas e, ao incorporá-las em várias editorias, os jornalistas podem preencher a lacuna e levar a uma maior compreensão do público.
Callaway também disse que parte do problema é que as mudanças climáticas sempre foram reportadas como algo que vai acontecer no futuro, então esse senso de urgência ainda não surgiu no público.
Em comparação com a cobertura do passado, Abano observou que a inclusão de ferramentas inovadoras como reportagens móveis, drones, mapas, infográficos e simulações acrescentou uma vantagem às reportagens ambientais como um todo e ajuda a estabelecer uma conexão com o público.
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Começando na reportagem climática
Reportagens climáticas podem ser uma tarefa assustadora, com tantas subcategorias que podem ser exploradas e dezenas de oportunidades em potencial. O conselho de Callaway é escolher uma área específica para focar, “caso contrário, você pode simplesmente se afogar nelas”.
O jornalismo sobre mudanças climáticas, especialmente na imprensa comercial, está em um estágio relativamente inicial, disse Callaway. Mas há muitas oportunidades para jovens jornalistas interessados em incorporá-lo em suas reportagens e investigações.
Um grande desafio para o jornalismo sobre mudanças climáticas é encontrar maneiras de competir com notícias políticas e sensacionais. A boa notícia, disse Abano, é que cada vez mais jornalistas querem fazer reportagens sobre questões relacionadas ao clima.
Melhorando a cobertura futura
Abano tem algumas ideias para melhorar o jornalismo sobre mudança climática no futuro. “Trata-se de fortalecer a capacidade ou habilidade dos jornalistas em compreender as questões das mudanças climáticas”, disse ela. “Porque se você mesmo não consegue entender o problema, como o seu público vai entender?”
Abano acrescentou: “Devemos, é claro, humanizar o clima na interação humana se quisermos a atenção do mundo.”
Callaway ecoou esse sentimento, dizendo que os jornalistas devem estar preparados para entender esses conceitos científicos abstratos, grandes conjuntos de dados e utilização de ferramentas como inteligência artificial.
“O jornalismo ambiental já existe há muito tempo”, disse Callaway. “Mas à medida que se torna mais popular, conforme o público e o mundo começam a perceber o que está em jogo, você verá mais e mais na mídia, e mais jornalistas vão querer fazer esse tipo de cobertura.”
O conselho de Faleiros para jornalistas que buscam incorporar questões climáticas em suas reportagens é se familiarizar com a linguagem científica e a ética dos artigos de pesquisa. Ele também recomendou aprender a desconstruir dados de pesquisa difíceis para criar recursos visuais e outras maneiras de traduzir o que está em jogo para todos.
“E acho que devemos continuar nos conectando e fazer algumas dessas matérias colaborativas”, disse Faleiros. “Estou vendo um grande potencial para os jornalistas trabalharem juntos em diferentes questões.”
Imagem sob licença CC no Unsplash via Science in HD