Em meio a uma crise de incêndios nos Territórios do Noroeste e a ordem de 16 de agosto para evacuar a capital Yellowknife, a indignação pelo bloqueio feito pela Meta às notícias no Canadá atingiu novos níveis. A questão se tornou ainda mais urgente porque as pessoas evacuadas estão com dificuldades para se atualizarem.
Eu estava visitando Paulatuk, uma região remota dos Territórios do Noroeste, a cerca de 900 quilômetros de Yellowknife, quando a ordem de evacuação foi emitida.
Eu sabia do bloqueio de notícias no Facebook, mas eu também conseguia recorrer à programação da rádio CBC North para me atualizar. A CBC North mudou sua base de transmissão de Yellowknife para Calgary para oferecer cobertura contínua ao longo do desdobramento da situação.
Com base na minha experiência pessoal recente na região, eu lembrei que embora as redes sociais sejam vitais para disseminar informação durante uma crise, as rádios AM e FM ainda desempenham um papel essencial. Além disso, é necessário haver uma diversidade de fontes de mídia, principalmente em momentos de crise.
Bloqueio "imprudente" de notícias durante a crise
Após a ordem de evacuação de Yellowknife, muitas pessoas expressaram sua frustração com o bloqueio de notícias e pediram à Meta (empresa detentora do Facebook) para revogar o embargo às notícias no Canadá para que as pessoas evacuadas pudessem ter acesso e compartilhar atualizações em tempo real em uma situação de emergência que evolui rapidamente.
Os veículos jornalísticos refletiram a urgência e publicaram uma chuva de matérias com manchetes como "Canadá pede que Meta derrube bloqueio 'imprudente' de notícias para permitir que informações sobre incêndios sejam compartilhadas" e "Devido à evacuação forçada pelos incêndios, governo pede à Meta que reverta bloqueio 'imprudente' de notícias".
O embargo da Meta às notícias no Canadá é uma resposta da empresa à Lei de Notícias Online do Canadá, aprovada em junho. A lei federal pode exigir que grandes plataformas de redes sociais façam parte de acordos de compartilhamento de receitas com veículos jornalísticos canadenses.
A nova lei gerou divisões, com alguns enaltecendo-a como vital para preservar o jornalismo de qualidade e outros argumentando que ela é uma abordagem equivocada, defendendo métodos alternativos para atingir objetivos semelhantes.
O papel vital das redes sociais
O bloqueio de notícias da Meta é significativo porque ele afeta tanto o Facebook quanto o Instagram.
Embora a Meta tenha alegado que os "os usuários não chegam até nós por causa de notícias", praticamente não há dúvida de que as redes sociais são uma ferramenta indispensável para muitas pessoas se manterem a par de atualidades e compartilharem informações entre amigos e familiares — principalmente durante emergências.
Estudos mostram que as redes sociais são vitais para disseminar informações cruciais para o público durante situações de crise. O atual bloqueio de notícias no Canadá tornou difícil esse compartilhamento.
Mesmo com o estado de emergência declarado nos Territórios do Noroeste e na Columbia Britânica, a Meta não alterou sua política.
Notícias e atualizações importantes ainda estão disponíveis pelo acesso direto aos sites dos veículos. Por exemplo, o site da Rádio Cabin, com sede nos Territórios do Noroeste, continua sendo uma fonte de informação confiável para os cidadãos frequentemente atualizada, embora esteja bloqueado no Facebook e no Instagram.
Outras pessoas recorreram a capturas de tela das matérias para compartilhá-las nas plataformas da Meta.
Rádio aberta
Em cenários mais extremos, como quando os incêndios comprometem infraestrutura essencial, incluindo telecomunicações, o acesso à internet também é comprometido em muitas regiões (exceto talvez naquelas com serviços de satélite). Isso destaca a fragilidade da comunicação dependente de internet durante emergências.
Nas áreas de engenharia e planejamento de emergência, o termo "ponto único de falha" descreve situações nas quais um sistema inteiro para de funcionar quando um único componente falha. Depender exclusivamente das redes sociais ou da internet nos expõe a um tipo de ponto único de falha no nosso sistema de comunicação de emergência.
De fato, ler a respeito do bloqueio de notícias da Meta pode levar as pessoas a suporem erroneamente que as redes sociais são a única fonte de informação na situação atual de incêndios nos Territórios do Noroeste e em Kelowna.
Não são. Não devemos subestimar a importância das rádios abertas na hora de entregar informações confiáveis aos cidadãos.
Variedade de fontes de mídia
O rádio perseverou, garantindo que atualizações importantes cheguem aos cidadãos.
Principalmente durante emergências, o rádio é uma fonte confiável e de fácil acesso a informação oportuna, particularmente quando a internet e redes telefônicas estão instáveis e quando as pessoas estão se deslocando, viajando entre centros urbanos onde pode não haver serviço de internet.
Não é uma questão de escolher entre um ou outro, mas sim assegurar que não subestimemos a relevância duradoura do rádio como uma forma de "redundância complementar". Este conceito ressalta a importância de contar com uma combinação de sistemas altamente confiáveis como o rádio em conjunto com a internet e as redes sociais.
Os dois sistemas podem funcionar de mãos dadas. A internet e as redes sociais podem ser de certo modo menos confiáveis durante uma crise, mas no entanto podem ser excepcionalmente eficazes no compartilhamento de uma variedade de conteúdo, incluindo mapas e trocas interativas de informação. Isso inclui atualizações feitas pelos usuários quando não há repórteres ou veículos locais na região do ocorrido.
Fontes de notícias altamente confiáveis
Olhando para o futuro, não devemos deixar nossa dependência das redes sociais ofuscar a importância contínua do rádio como uma fonte de informação de custo eficiente e altamente confiável.
O rádio AM, em particular, continua desempenhando um papel importante para agricultores e outras pessoas em áreas remotas para notícias sobre o mercado e o clima, bem como para atualizações sobre emergências.
Decisões recentes tomadas por fabricantes de automóveis de remover gradualmente o rádio AM dos carros deixou alguns legisladores nos Estados Unidos preocupados. Como resultado, foi proposto um novo projeto de lei bipartidário para garantir que o rádio AM continue sendo um recurso padrão em todos os carros novos.
Nós passamos a depender das redes sociais como uma fonte vital de informação durante eventos de emergência.
Mas o bloqueio contínuo da Meta às notícias no Canadá durante os incêndios nos Territórios do Noroeste e na Columbia Britânica serve como um lembrete do valor duradouro do rádio, mesmo na era digital.
Gordon A. Gow é professor de sociologia e estudos de mídia e tecnologia na Universidade de Alberta.
Este artigo foi republicado do The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia aqui o texto original.
Foto por Malachi Brooks via Unsplash.