Biblioteca de vídeos gratuitos ajuda jornalistas a diversificar cobertura

Dec 19, 2024 em Jornalismo multimídia
Icons of different video categories on a screen

Encontrar vídeos pode ser um processo lento, laborioso e às vezes doloroso para jornalistas. Principalmente quando se trabalha com pouco ou nenhum orçamento.

É um problema que nós, Sanshey Biswas e Manon Verchot, cofundadores do InOldNews, enfrentamos em várias redações onde já trabalhamos. Desde sua criação em 2020, nossa empresa oferece capacitação e apoio a milhares de jornalistas e redações em mais de 25 países. 

Sempre foi difícil encontrar imagens adequadas sobre os países que estávamos cobrindo, fosse para reportagens sobre mudança climática, pesca predatória ou eleições. Depois, quando começamos a realizar capacitações para jornalistas em países como Gabão, Ruanda e Serra Leoa, tivemos dificuldades para encontrar vídeos que fossem relevantes para o contexto dos exercícios práticos que preparamos para eles.

 

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Muitas redações não conseguem arcar com a assinatura de serviços de agências como AFP, Reuters e AP, principalmente diante de cortes de orçamentos e equipes. Assim, elas são forçadas a recorrer ao que está disponível gratuitamente. Embora existam muitas plataformas de imagens incríveis online, elas tendem a ser centradas nos EUA e na Europa, dificultando o trabalho de jornalistas que fazem cobertura além dessas regiões.

Na Wikimedia Commons, por exemplo, há dez vezes mais vídeos do Reino Unido do que da Tanzânia ou da Tailândia, embora todos esses países tenham populações de tamanhos comparáveis. Alguns países, como Brunei, praticamente não têm representatividade de imagens em vídeo gratuitas nessas plataformas. Mesmo em países que têm muitas imagens, como os EUA, há grandes lacunas fora dos polos de mídia. Essa falta de representatividade pode afetar o relacionamento dos jornalistas com suas audiências. Um estudo do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo descobriu que se as audiências não se sentem representadas na mídia, isso "enfraquece a confiança delas nas notícias".

Há alguns anos, nós percebemos que poderíamos ajudar a preencher essas lacunas. Desse modo, começamos a construir uma biblioteca gratuita de vídeos sob licença Creative Commons que estamos chamando de Open Journalism Network

No início do projeto, começamos nós mesmos fazendo vídeos sempre que fazíamos alguma capacitação para jornalistas em países com menor representatividade. Nós filmávamos prédios do governo, mercados, monumentos históricos, museus e ruas. Depois, subíamos os vídeos para plataformas como Flickr, Pexels e Pixabay

Não levou muito tempo para que confirmássemos que havia uma necessidade real para esse tipo de vídeo feito em locais sem muitas imagens disponíveis. Nossos vídeos receberam milhões de visualizações e dezenas de milhares de downloads em questão de meses. Isso nos deu confiança para fazer aquilo que originalmente esperávamos fazer: trabalhar com jornalistas locais para ajudar a aumentar a representatividade de suas próprias comunidades por meio do jornalismo em vídeo. Sabíamos desde o começo que seria imperativo trabalhar com jornalistas que entendessem o contexto local e tivessem um entendimento aprofundado dos problemas.

 

Pexels

 

Foi então que levamos essa ideia para o Entrepreneurial Journalism Creators Program (EJCP) da Faculdade de Jornalismo Craig Newmark da Universidade da Cidade de Nova York. Durante o programa de 100 dias, trabalhamos para transformar o projeto em um empreendimento sustentável e criamos uma apresentação para abordar doadores em potencial. Com isso, conseguimos nosso primeiro subsídio da Earth Journalism Network e da Sida

Os recursos nos permitiram aumentar a disponibilidade de vídeos relacionados à mudança climática para 13 países. Nossos colaboradores gravaram mais de 700 vídeos cobrindo notícias de última hora, como o Furacão Beryl, e vídeos com imagens gerais, como aumento dos níveis do mar, ondas de calor, espécies invasoras, restauração de manguezais, energias renováveis, entre outros temas. Nós também recebemos o Magic Grant do Instituto Brown de Inovação na Mídia da Faculdade de Jornalismo Columbia.   

Chegamos a dezembro de 2024 com uma biblioteca que hospeda 1.800 vídeos de 29 países. Conseguimos trabalhar e pagar cerca de 30 jornalistas em 14 países somente neste ano. Todas essas imagens estão publicadas gratuitamente online sob uma licença CC BY, o que significa que elas podem ser usadas por qualquer pessoa, de qualquer forma, desde que seja dado o crédito. Cada vídeo inclui as exigências de crédito na descrição. Capturas de tela desses vídeos também podem ser usadas em artigos ou postagens nas redes sociais, com a mesma atribuição.

Além de pautas ambientais, nossa rede de jornalistas nos ajudou a cobrir as eleições da Índia e dos EUA em lugares que tendem a receber menos cobertura. As imagens feitas por eles foram usadas por jornalistas independentes e veículos que cobrem esses assuntos. Saber o alcance real dos conteúdos que usaram vídeos da nossa biblioteca não é uma tarefa fácil. Mas a partir do que fomos capazes de monitorar, matérias em vídeo que usaram nossas imagens obtiveram mais de 4 milhões de visualizações. 

E agora, qual o próximo passo da Open Journalism Network? Graças ao Magic Grant, estamos criando nossa própria plataforma para hospedar a biblioteca. Embora tenhamos experimentado sucesso no Flickr, Pexels e Pixabay, a verdade é que essas plataformas não foram criadas pensando nos jornalistas. Pode ser difícil para os jornalistas utilizá-las e encontrar o que realmente precisam. Nós também vamos continuar encomendando e publicando vídeos de colaboradores do mundo todo. E também capacitando mais jornalistas para que comecem a trabalhar com vídeo. 

Estamos constantemente fazendo parcerias com jornalistas, redações e organizações de desenvolvimento de mídia interessadas em abordagens criativas para tratar da falta de diversidade na mídia. Nós percebemos que somos apenas uma das peças do quebra-cabeça que é esse problema, e ainda há muito trabalho a ser feito.


Entre em contato para falar sobre parcerias ou apoio enviando um email para editor [arroba] inoldnews [ponto] com. 

Imagem principal e imagens no texto cedidas por Sanshey Biswas e Manon Verchot.