Jornalistas e artistas contam histórias. Seus processos, no entanto, diferem.
Creative Time Reports (CTR), um site multimídia, serve como plataforma para artistas falarem sobre como os principais problemas afetam pessoas e lugares. O site contrata artistas para compartilharem perspectivas sobre acontecimentos importantes em todo o mundo via fotografia, videografia, ilustração e outras formas de arte.
Como a paisagem de espaços populares em Istambul mudou durante os protestos na Turquia em 2013? CTR publicou um vídeo do artista Santiago Mostyn em Estocolmo chamado "May Day 2012 / May Day 2013". Mostyn justapôs duas cenas muito diferentes: a primeira, de 2012, mostrou a rua Istiklal lotada de gente andando calmamente. A segunda, de 2013, filmou os manifestantes com cartazes e bandeiras atacados por gás lacrimogêneo.
Enquanto os principais líderes mundiais discutiram sobre o acordo nuclear do Irã, CTR encomendou ao artista e curador Sohrab Kashani em Teerã um ensaio sobre como as sanções impostas em seu país afetaram os negócios, saúde e vida criativa.
"Nós pensamos em artistas em seus estúdios, separados da sociedade e não fazendo parte do mundo", a editora-chefe do CTR Marisa Mazria Katz disse à IJNet. "Mas esses artistas com quem trabalhamos estão na rua. Eles estão envolvidos. Eles são [seres] políticos. Eles estão fazendo com que as pessoas pensem de maneira diferente sobre o seu mundo."
Achando uma audiência global
Creative Time, uma organização de artes públicas com sede em Nova York, abordou Marisa pela primeira vez em 2011 com a ideia de artistas como repórteres em seu próprio direito. Desde 1974, a Creative Time vinha trabalhando com artistas em todo o mundo para entregar projetos de arte em espaços públicos. Estes artistas são politicamente e socialmente engajados e podem comentar sobre as notícias de uma forma que jornalistas não podem.
Apesar de ser uma jornalista e editora bem-viajada, Marisa tinha que experimentar com a forma como CTR poderia trazer pontos de vista dos artistas para a mídia de massa. Ela começou a explorar, visitando lugares diferentes. CTR, um desdobramento do Creative Time, teria uma perspectiva global, e Marisa precisava entender como os artistas podiam se expressar livremente em outros países. Eles decidiram publicar pela primeira vez na língua nativa de um artista antes de traduzir.
Quando o escritor haitiano Jean-Euphèle Milcé documentou o resultado do terremoto de 12 de janeiro de 2010 em seu ensaio, CTR publicou primeiro em francês. A animação de vídeo do artista multimídia Pi San sobre o sistema de ensino chinês na década de 1980 tem legendas em dois idiomas.
"Nós queríamos que as pessoas visitassem o site de suas comunidades locais e que não seria apenas para o público de língua inglesa". Marisa explicou.
Crescimento através de parceria
Desde seu lançamento, CTR fez parcerias com uma variedade de organizações, incluindo Foreign Policy, Global Voices, The New Yorker e Slate. Mas conseguir parcerias não foi sempre o foco.
Isso mudou no início de 2014, quando CTR colaborou com o Intercept para divulgar uma examinação visual da vigilância nos Estados Unidos. O fotógrafo Trevor Paglen sobrevoou em um helicóptero por mais de três agências de inteligência americanas, das quais existem poucas imagens.
Paglen conseguiu vistas aéreas da sede de cada agência. As fotos foram disponibilizadas ao público sob licença Creative Commons, e o Intercept postou as imagens em seu dia de lançamento.
"Essa matéria foi tão intensamente popular que nós começamos a achar que causamos realmente um enorme impacto ao fazermos parcerias", Marisa disse, acrescentando que o sucesso de uma outra matéria do músico David Byrne publicada no jornal Guardian deu ao CTR perspectiva adicional.
"Nós acabamos meio que abrandando e decidindo que se pudéssemos fazer parceria, tanto quanto possível, isso seria o ideal", ela continuou. "Dessa forma, poderíamos realmente tratar do que este projeto é: artistas auditivos refletirem sobre a notícia todos os dias. Quando fomos capazes de realmente aprimorar e direcionar essas matérias, vimos que o número de leitores cresceu exponencialmente."
Artistas, não jornalistas
CTR encomenda o conteúdo a artistas e, assim como jornalistas freelance, eles o fazem. Mas colaboradores do CTR não têm que prescrever às mesmas regras que os repórteres. Como Marisa descreveu, para artistas, não há tantas barreiras entre o sujeito e escritor. O cronograma para concluir os projetos também varia.
"Nós gastamos muito tempo com essas matérias", disse Marisa. "Eu não acho que um artista trabalha no mesmo ritmo que um jornalista e nem queremos que isso aconteça."
Marisa é rápida em apontar que CTR não é uma agência de jornalismo, embora eles sigam um regimento rigoroso de checagem de fatos e cada matéria seja editada. A maioria das matérias aparece em seções de colunas editoriais de jornais ou sites.
"Nós não somos considerados jornalistas, é claro", disse Marisa. "Somos artistas."
Imagem cortesia do Creative Time Reports. Imagem principal da editora-chefe do CTR, Marisa Mariza Katz. Imagem secundária do National Reconnaissance Office em Chantilly, Virginia por Trevor Paglen