Durante a minha carreira, entrevistei dezenas de pessoas cujas vidas foram destruídas por traumas. Cada vez que devia fazer essas entrevistas, eu me preocupava muito com o efeito que minhas reportagens tinham sobre o seu sofrimento.
A minha missão jornalística justificava examinar sua dor particular? Tinha forçado demais para obter detalhes? Era devidamente respeitosa e empática? Fiz algo positivo para eles?
Ao longo do caminho, aprendi uma lição valiosa: os jornalistas precisam de uma visão mais profunda sobre como tratar vítimas de trauma quando se tornam parte da notícia.
A maioria das vítimas e sobreviventes enfrenta um muro de sofrimento após um evento traumático. Como alcançá-los sem infligir mais miséria? O que os jornalistas devem evitar?
"Nunca diga, 'eu entendo como você se sente', porque você não entende, mesmo se sofreu uma tragédia também", disse o especialista em mídia Steve Buttry. "Esse é o maior erro que um repórter [cobrindo as vítimas de trauma] pode fazer. Uma abordagem melhor é: "Gostaria de contar a sua história". Essa linguagem significa que a história é deles e lhes dá controle."
Ao entrevistar refugiados que fogem da violência em sua terra natal, Buttry gentilmente os convence para falar sobre si mesmos.
"Algumas vítimas de trauma acham libertador e terapêutico falar sobre suas experiências", disse Buttry. "Se eles disserem 'não', podem não estar suficientemente avançados em sua recuperação, onde se sentem bem para falar. Respeite sua dor e saiba que suas perguntas podem infligir mais sofrimento."
Buttry ofereceu as seguintes dicas sobre como abordar vítimas de trauma:
Nunca assuma que eles vão dizer 'não'
"Esta é uma das minhas regras cardinais de jornalismo... você assumirá (e muitas vezes com razão) que o sobrevivente do desastre ou a mãe em luto não vai querer falar com você. Mas a história é dela, não a sua. Diga a ela que você gostaria de contar. Quando ela disser que sim, respeite que ela honrou você e conte a história dela bem. Se ela disser que não, respeite essa decisão e ofereça-se para contá-la mais tarde, se quiser.
Pergunte sobre eles, não apenas sobre o que aconteceu com eles
"Eu começo perguntando sobre o mundano. Eu quero saber sobre a vida da pessoa, não apenas para iniciar um diálogo corriqueiro, mas para me dar entendimento e fornecer contexto para a minha reportagem... Vou falar sobre a família, a escola, o trabalho e essas coisas. Muitas vezes é a pessoa que orienta a entrevista para o trauma, quando ela está pronta e eu tenho contexto."
Use terceiros
"Algumas pessoas não responderão diretamente ao seu pedido de entrevista. Mas você pode ser capaz de chegar a um membro da família, pastor, diretor de funeral, vizinho e colega de trabalho para ajudá-lo a ter uma entrevista. Passei 10 meses cultivando uma sobrinha de um sobrevivente de abuso doméstico antes de finalmente conseguir uma entrevista."
Buttry é diretor de mídia estudantil na Escola Mansfield de Comunicação em Massa da Universidade Estadual de Louisiana. Mais de suas dicas podem ser encontradas aqui.
O Dart Center for Journalism and Trauma é outro excelente recurso. É altamente recomendado um vídeo intitulado "Getting it right – ethical reporting on people affected by trauma" sobre reportagem ética de pessoas afetadas por trauma, em que vítimas e sobreviventes dizem em suas próprias palavras como a mídia as tratou.
Quando faço treinamento de mídia no Paquistão, Sudão do Sul ou em outras zonas de conflito, uso jogos de dramatização e exercícios sobre como entrevistar vítimas de trauma. Pego os materiais do Dart Center e minha própria experiência. Algumas regras nunca mudam:
* Ao se aproximar de uma vítima identifique-se tão educadamente quanto possível antes de fazer perguntas. Diga-lhes que o material pode ser publicado.
* Trate cada pessoa com dignidade e respeito.
* Durante a introdução, basta dizer: "Sinto muito pelo que você está passando" ou "Sinto muito pelo que aconteceu". Mostre que você se importa.
* Dê às vítimas a sensação de controle. Pergunte onde eles gostariam de fazer a entrevista ou se há alguém que gostariam de ter com eles.
Em resumo: Não faça mal.
Imagem principal sob licença CC no Flickr via jsawkins