Amanda Zamora da ProPublica: 5 perguntas ao fazer crowdsourcing para uma investigação

por Ana Prieto
Oct 30, 2018 em Engajamento da comunidade

Quando as organizações de notícias se voltam para o público para ajudar a explorar e investigar um tópico em particular, há um processo todo para tornar essa contribuição uma realidade.

A organização de notícias sem fins lucrativos ProPublica tem muito a dizer sobre essa tática: cerca de  75 por cento de suas reportagens incorpora contribuições de leitores através de sua Reporting Network

Amanda Zamora, editora sênior de engajamento da ProPublica, descreveu o método da sua organização para incentivar a participação do público durante um seminário na Media Party 2015, organizado pelo Hacks/Hackers Buenos Aires e o bolsista Knight do ICFJ Mariano Blejman.

Andrea mostrou aos participantes (cerca de 40, provenientes da Bolívia, Colômbia, Brasil, Argentina, Equador, Chile, Estados Unidos e Grã-Bretanha) dois projetos de sucesso da ProPublica: uma série sobre a segurança do paciente nos EUA e o projeto Agente Laranja, que cobre os efeitos a longo prazo do produto químico em veteranos do Vietnã.

Jornalistas que buscam ajuda do público para seus projetos devem considerar as seguintes questões sugeridas por Andrea:

1. Qual é a história?

Andrea pediu aos participantes para pensarem "nos tópicos mais importantes" da história, assim como seu possível impacto e resultado. Isso deve dar uma primeira ideia de quem pode estar interessado em ler e participar da matéria.

2. Quem é o seu público?

Quem pode ajudá-lo a contar a história? Pense em todos: as partes interessadas, como pacientes, trabalhadores, pais, professores ou veteranos. Gente dos bastidores? Vá até especialistas e denunciantes. Influenciadores? Vá até líderes de opinião e tomadores de decisão.

Uma vez que você tem uma ideia clara de quem poderia ajudar, precisa chegar até eles. Alguns podem ser encontrados online (fóruns, grupos de discussão, redes sociais, leitores atuais e potenciais) e outros serão encontrados offline (rolodex, eventos sociais e políticos, etc.).

3. O que terão que contribuir?

Pode pedir aos colaboradores para contar uma coisa, através de uma entrevista estruturada ou uma pesquisa. Para a série de Segurança do Paciente, a ProPublica projetou uma chamada detalhada sob o título "Have you been harmed in a medical facility?" (Você já foi machucado em um centro médico?). Com as respostas e os dados fornecidos pelos leitores, o veículo digital informa suas investigações depois de entrar em contato com os colaboradores e verificar as informações.

Também pode pedir ao público para fazer algo como investir seu tempo revendo documentos ou dados, tirar fotos ou participar de um experimento, como a equipe de dados da WNYC fez para monitorar o aumento de cigarras em toda a costa leste nos Estados Unidos.

4. Como vão contribuir?

O método para coletar a contribuição do público deve ser pensado cuidadosamente. Caso você escolha uma troca de e-mail, uma pesquisa ou um grupo de discussão online, deve atingir o duplo objetivo de facilitar o intercâmbio de informações e envolver o público na produção da matéria.

A ProPublica muitas vezes escolhe o formato de chamada, projetado para que colaboradores não tenham dúvidas sobre a informação que está sendo buscada, por que razão e como será usada.

5. Por que contribuir?

Este é provavelmente o ponto mais desafiador. "Você pode ter o projeto mais importante do mundo, mas se os usuários não têm as informações para obter o contexto, se não entendem o ponto, para quê você está trabalhando, quais são seus objetivos, o que espera ver no final do projeto, eles não terão nenhuma razão real para contribuir", disse Andrea. "Certifique-se de articular em seus formulários o que espera fazer com as informações do colaborador."

Vendo as perguntas em ação

No caso da chamada de contribuições para a matéria sobre segurança do paciente, a ProPublica escolheu um título que identifica uma ação com uma pergunta: "Você já foi machucado em um centro médico?"

"Eu já reduzi o âmbito deste projeto a pessoas que foram lesadas em um centro médico", explicou Andrea. "A audiência está no título."

Então, a ProPublica oferece o contexto: "Um estádio de beisebol poderia ser enchido muitas vezes com o número de pessoas que já foram machucadas ao se submeterem a um tratamento médico a cada ano..."

Finalmente, a ProPublica dirigiu a intenção da investigação: "Estamos investigando o estado de segurança do paciente nos Estados Unidos. Se você ou um ente querido sofreu um dano ao paciente, pode ajudar a informar e orientar nossas reportagens, preenchendo o formulário abaixo..."

Gerir as contribuições do público, especialmente se são cada vez mais complexas e numerosas, vai exigir inicialmente um processo de tentativa e erro, e uma variedade de abordagens, dependendo das informações fornecidas.

"Há campos que a gente pode querer tratar mais como comentários; coisas que não estou esperando publicar automaticamente, mas que têm a capacidade de expressar o quanto uma pessoa realmente sente", disse Andrea. "Estamos interessados ​​em capturar essas informações e exibi-las mais tarde, como uma forma de mostrar experiências da comunidade e dirigir a participação adicional."

No caso do projeto Agente Laranja, a ProPublica dedica uma seção especial para as contribuições que não expõem dados concretos, mas sim destacam as experiências humanas.

Imagem principal: Amanda Zamora na Media Party sob licença CC no Flickr via Ramiro Chanes -- imagem secundária: captura de tela do projeto sobre segurança do paciente