Durante um seminário em Islamabad, no Paquistão, um repórter levantou uma questão que ouvi muitas vezes de jornalistas que trabalham em zonas de conflito: "Com tanta violência, como é que vamos decidir o que vale a pena cobrir?"
O jornal dele estava fazendo um esforço consciente para ir além da notícia urgente e contagem de mortos para a história real: como os seres humanos sofrem o impacto de eventos traumáticos, como ataques suicidas, assassinatos e ataques de grupos extremistas.
Durante a discussão, elaboramos diretrizes para reportar além do evento: lançar luz sobre por que a violência está acontecendo; mostrar consequências humanas; dar voz às pessoas cujas vidas são destruídas; procurar por "heróis silenciosos" que estendem a mão às vítimas e sobreviventes; e descobrir o extraordinário na vida comum daqueles tocados pela violência.
Um repórter descreveu uma história sobre um casal pobre que acolheu duas crianças em sua família depois que seus pais foram mortos na explosão de um carro. Outro falou de um médico que realizou cirurgias plásticas gratuitamente para mutilados por ataques.
Esses jornalistas estavam no caminho certo.
Frank Ochberg, fundador do Centro Dart para Jornalismo e Trauma, acredita que o papel da mídia é mais importante quando ocorre uma catástrofe. "A forma como os jornalistas cobrem esses eventos pode ter um efeito profundo sobre a forma como a comunidade reage a uma tragédia", disse Ochberg em uma entrevista para o guia Disaster and Crisis Coverage do ICFJ.
Ele ressaltou que, durante momentos de extremo choque, trauma e tragédia, é importante que os pensamentos, sentimentos e comportamentos das pessoas sejam reportados com precisão. Isso ajuda o público a digerir a situação e fornece um quadro de como podem começar a lidar com o evento.
Pouco depois dos ataques de 11 de setembro, deparei com uma declaração do ex-repórter do Poynter Bill Mitchell, que serve como inspiração para ir além das notícias urgentes para reportagens mais humanizadas.
"Os jornalistas estão redescobrindo que uma das melhores maneiras de reportar o impacto das grandes histórias é explorar o seu impacto específico e pessoal na vida cotidiana", escreveu Mitchell.
O jornalista veterano perguntou: "O que é necessário uma vez que você encontrou uma boa história sobre uma pessoa comum, para reportar e escrever de uma forma extraordinária?" Ele, então, deu como exemplo a série "Portraits of Grief" do New York Times, que focou em mais de 2.500 vítimas dos ataques de 11 de setembro.
Ele descreveu perfis que "normalmente se concentram em um único aspecto do caráter do sujeito ou um talento ou característica especial cativante. Eles geralmente incluem uma lição de vida... que os repórteres do New York Times conseguiram revelar e celebrar em duas dúzias de palavras."
Então, como jornalistas podem emular esta cobertura mais humanizada? Meu melhor conselho: trace um plano.
Quando eu cobri o impacto de um massacre na vila croata de Voćin durante as guerras dos Balcãs, entrevistei sobreviventes, parentes, a polícia local e o pároco da igreja para obter insights sobre o horror.
Visitei necrotérios improvisados e assisti a famílias angustiadas identificando entes queridos. Um número surpreendente estava disposto a compartilhar memórias íntimas sobre um tio que era um grande dançarino popular ou uma mãe que ofereceu strudel de maçã saindo do forno aos soldados croatas passando pela cidade.
Durante o processo de reportagem foquei em quatro questões: Qual é a verdadeira história aqui? O que eu quero que as pessoas entendam depois de ler a minha matéria? Quem são as vozes principais? Por que alguém deve se importar?
Jennifer Aaker, psicóloga social e professora da Faculdade de Pós-Graduação em Administração de Negócios de Stanford, é especializada na arte de contar histórias. Sua pesquisa é particularmente relevante para jornalistas.
Aaker descobriu que o nosso cérebro é conectado para lembrar de histórias e que uma boa narrativa é 22 vezes mais memorável do que fatos e números somente. Ela listou elementos para uma história de sucesso, incluindo:
Um objetivo. Por que você está contando a história? Seu objetivo deve esclarecer o que você quer que o público pense, sinta ou faça no final da matéria. Uma meta eficaz considera o ponto onde o público começa a ler a história e sua trajetória até o ponto final.
Segurar a atenção. Por que as pessoas querem ouvir a sua história? Use um gancho para puxar o leitor. Ganchos podem ser verdades surpreendentes, efeitos visuais ou uma abordagem incomum.
Habilitar. Se a sua história é compartilhável, as pessoas vão espalhar suas ideias. Faça a sua matéria memorável e fácil de ler.
Gostaria de acrescentar mais uma: mudar de pontos de vista. Olhe além do óbvio para novos ângulos.
Nos círculos de jornalismo, há um exemplo icônico conhecido como "história de coveiro". Depois de John F. Kennedy ter sido assassinado, seu corpo jazia na Rotunda do Capitólio. As pessoas em luto desfilaram diante de câmeras de TV e uma multidão de repórteres.
O repórter Jimmy Breslin escolheu um caminho diferente. Ele foi para o Cemitério Nacional de Arlington -- e sua matéria altamente descritiva de um velho cavando a sepultura do presidente continua a ser uma das mais memoráveis da época trágica.
Imagem principal sob licença CC no Flickr via Mike Stenhouse. Imagem secundária sob licença CC no Flickr via Peter Denton.