A inteligência artificial (IA) surgiu como uma aliada promissora para a criatividade, eficiência e produção de histórias no cenário em constante evolução do jornalismo. Da automação de tarefas mundanas como análise fiscal à exploração de vastos conjuntos de dados e até mesmo assistência com a elaboração de um pitch, a IA pode alavancar a produtividade e liberar energia preciosa para focar no trabalho principal.
“A IA pode economizar tempo, dinheiro e esforço, o que pode ser reinvestido em pré-reportagem e reportagem”, diz Laura Oliver, jornalista freelancer que vive no Reino Unido e cofundadora da Sociedade de Jornalistas Freelancers.
A IA pode ser um divisor de águas principalmente para freelancers, de acordo com Derek Willis, jornalista de dados e professor na Faculdade Philip Merrill de Journalism da Universidade de Maryland. “Ela pode ser muito útil para gerar perguntas e ideias iniciais sobre um tópico que um jornalista pode não ser especialista, facilitar a agilidade e gerar recursos”, diz.
Algumas ferramentas de IA também podem realizar atividades de edição, reescrever frases ou sugerir alternativas. “Os Grandes Modelos de Linguagem podem construir linguagem que parece ter sido publicada em um veículo jornalístico específico - ou em um tipo específico - que pode ajudar freelancers a entenderem o tipo de tom e teor adequados para um veículo ou pauta em particular”, diz Willis.
Barbara D'amico, ex-bolsista do Google News Lab Teaching da Itália e jornalista com experiência ampla no treinamento de colegas em ferramentas digitais, observa que tecnologias de IA já são prevalentes. “Todas as ferramentas em nuvem que usamos para informar, escrever, buscar e verificar são baseadas em IA”, diz. Mas agora jornalistas estão sendo apresentados a um divisor de conhecimento e acessibilidade, principalmente no caso de motores de busca conversacionais como o Bard do Google ou o ChatGPT. D’Amico compara essas ferramentas a Ferraris poderosas. “Elas têm um potencial enorme, mas esse potencial hoje é revelado principalmente para quem sabe como dirigir uma ferrari.”
Entender as práticas mais recentes e considerações éticas é importante para assegurar o uso responsável e eficaz da IA, diz Oliver. Ela acredita que contribuições pessoais continuam sendo insubstituíveis. “A ideia de pauta e o ‘por que eu’ precisam vir do jornalista.”
Atualmente, o poder transformador da IA na indústria da mídia serve por enquanto para complementar os conhecimentos únicos que os jornalistas trazem para seu trabalho. Para auxiliar freelancers a aproveitar esse poder, confira a seguir uma lista de ferramentas de IA feita a partir de recomendações de especialistas:
Ferramentas de tradução
“Ferramentas de tradução, como Google Translate e DeepL, mostraram ser incrivelmente úteis para pesquisar matérias”, diz Oliver. Embora nem sempre precisa, em muitos casos a tradução feita por IA pode economizar tempo e esforço ao mesmo tempo em que ajuda a romper barreiras de linguagem, acesso a perspectivas diferentes, construir conexões e descobrir pautas que de outra forma poderiam ficar sem serem contadas em um dado idioma.
“Eu inclusive conduzi conversas preliminares com fontes usando o Google Translate e a função de tradução de áudio para texto, que eu acredito usar aprendizado de máquina e outras formas de IA para contextualizar as traduções”, acrescenta.
Ferramentas de transcrição
Oliver usa ferramentas de transcrição como a Otter para otimizar seu trabalho. “Eu ainda faço minhas próprias anotações e registro a marcação de tempo de trechos importantes de informação e aspas, mas é ótimo para revisar entrevistas longas e ver o que você pode ter deixado passar.” Mas ferramentas como essa já levantaram preocupações de privacidade, o que significa que jornalistas devem ter cuidado ao usá-las para entrevistas sensíveis.
Willis sugere a Whisper da OpenAI. “É uma ferramenta de transcrição excelente que eu usei para tudo, de entrevistas a celebrações na igreja - ela transcreve até textos de músicas - com resultados impressionantes.” Assim como ocorre com a Otter, Willis alerta sobre o uso da ferramenta para entrevistas sensíveis, “mas é uma ótima ferramenta para coisas comuns ou áudio que já é público”.
Pinpoint: mais que uma ferramenta de transcrição
Jornalistas investigativos estão cada vez mais usando IA para aprofundar seu trabalho, e uma ferramenta que se destaca é a Pinpoint do Google. Muitos já devem estar familiarizados com a ferramenta gratuita de transcrição – que inclui 100GB de armazenamento, mas tem muitos outros usos também. “É um repositório baseado em IA, totalmente gratuito, que permite que você faça o upload de diferentes tipos de documentos - incluindo vídeo e áudio - e crie uma coleção buscável”, diz D’Amico.
Oliver também destacou o potencial do Pinpoint para trabalho freelance investigativo. “Eu acho que aprender como usar essas ferramentas e desenvolver habilidades nessa área pode permitir que jornalistas freelancers façam investigações poderosas sem precisar estar em uma redação de jornal ou ter um orçamento grande por trás. Depende do quão acessíveis essas habilidades e ferramentas se tornam para jornalistas em todo o mundo”, diz.
AI Photo Sorter
Essa ferramenta é para freelancers que têm dificuldade de administrar conjuntos grandes de imagens. “Se você é como eu e tem muitas fotos, mas não tem um jeito de verdade de organizá-las além dos recursos padrão de seja qual for o aplicativo de fotos que você usa, então talvez você ache o AI photo sorter uma ótima ferramenta”, diz Willis. “Ele funciona no seu computador, o que significa que você não está subindo as imagens para algum outro lugar, e você pode criar coleções customizadas e eliminar duplicatas.” Como ele funciona localmente na sua máquina sem subir arquivos para a nuvem, o AI photo sorter garante mais privacidade e segurança enquanto os algoritmos analisam e categorizam automaticamente as suas fotos.
Numerous.ai
D'Amico destacou a importância de “ferramentas de ponte” que aprimoram o potencial de motores de busca conversacionais. A Numerous.ai, por exemplo, é uma extensão do Google Sheets e do Excel com um plano freemium. “É muito intuitiva e transforma a sua planilha em uma planilha conversacional, colocando o ChatGPT dentro da planilha”, diz, se referindo a uma planilha aprimorada com um modelo de linguagem de IA. “Eu uso para simplificar a extração de dados e fórmulas, para criar automações para planos editoriais ou para fazer uma análise de sentimentos básica”, diz.
Docs to Deck, oferecida pelo Canva
Uma recomendação de D’Amico em função da precisão e capacidade de intuição, o Docs to Deck, do Canva, simplifica o processo de transformar um documento em uma apresentação. Ele detecta automaticamente títulos e outros elementos dentro de um documento e transforma o conteúdo para um novo formato mantendo a sequência correta.
Os usuários também têm a opção de escolher um template para a apresentação gerada. “Eu acho ele útil porque, como um freelancer, você tem o controle sobre o seu conteúdo e pode editá-lo posteriormente, mas deixando para a IA o trabalho chato de copiar, colocar e alinhar o texto”, diz.
Foto por Gertrūda Valasevičiūtė via Unsplash.
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