6 maneiras de alcançar negacionistas das mudanças climáticas com suas reportagens

Jun 20, 2019 em Reportagem de meio ambiente
Iceberg

As mudanças climáticas foram destaque nos noticiários mundiais no ano passado: em  2018 houve uma série sem precedentes de eventos climáticos extremos, a política climática virou assunto de eventos políticos importantes em todo o mundo e líderes mundiais se reuniram para a 24ª Cúpula Climática da ONU para chegar a um acordo sobre as regras para o Acordo de Paris.

Embora cientistas especialistas em todo o mundo estejam de acordo que o clima global continua a esquentar, criando efeitos perigosos para as comunidades e a vida selvagem, o tema ainda se restringe muitas vezes a um silo midiático de publicações progressistas de esquerda.

Como os jornalistas e cientistas podem envolver um segmento transversal mais amplo da sociedade na discussão global sobre a mudança climática? Como podemos garantir que o público em geral tenha o conhecimento e a possibilidade de participar de forma significativa no debate climático, sem recorrer a estereótipos e equívocos?

Em resposta a esses desafios, eu perguntei a dezenas de jornalistas e profissionais de mídia como eles alcançam um público cético com suas matérias. Aqui estão seis soluções para polarização de mídia que eles propuseram ao reportar sobre as mudanças climáticas.

1. Passe mais tempo ouvindo "o outro lado"

Entender a perspectiva dos negacionistas das mudança climáticas é crucial para o processo de superar as lacunas entre as comunidades, algo que os jornalistas devem buscar.

Os jornalistas precisam ir além da apresentação dos fatos e da pesquisa, elevando as experiências e perspectivas das pessoas através de histórias. Os jornalistas precisam ser transparentes e informados, e não excluir aqueles que não concordam com a maioria.

Um ótimo exemplo de como isso pode ser feito é este artigo do New York Times que examina os cidadãos americanos ativos em energia renovável, mas cujas famílias têm uma longa história no negócio de combustíveis fósseis.

2. Encontre valores comuns

O simples fornecimento de informações precisas sobre as mudanças climáticas geralmente é insuficiente para atingir a população cética. Em vez disso, tente se conectar com os valores e a moral das pessoas para chegar até elas.

Para tentar romper a polarização ao relatar sobre a mudança climática, o jornalista deve responder aos valores e normas com as quais todos os membros da população se importam, que podem incluir a natureza, cuidar da comunidade local, ter orgulho do meio ambiente do seu país e mais.

3. Personalize com ângulos locais

Encontre histórias específicas que acontecem em um contexto familiar para o público, de modo que o impacto das mudanças climáticas possa ser melhor compreendido e as pessoas possam se relacionar com elas em um contexto local. Uma história sobre os efeitos do aumento do nível do mar em uma cidade costeira próxima pode ter mais impacto do que uma história sobre a elevação do nível do mar acontecendo em algum lugar distante.

Pesquise preocupações locais, coordenando com autoridades municipais ou regionais e participando de reuniões públicas sobre questões locais. Descubra quais são as preocupações e prioridades da comunidade. Pesquise valores da comunidade local por meio de grupos locais, sindicatos, organizações sem fins lucrativos e entrevistas locais e coordene com grupos ambientalistas que possuem membros locais.

Adaptar sua reportagem da mudança climática a um cenário mais local também pode significar encontrar novas maneiras de distribuir sua matéria para a comunidade e interagir com seus leitores antes e depois de sua matéria ser publicada.

Um exemplo poderoso dessa estratégia é este artigo do Guardian em uma cidade galesa que em breve será levada pelo mar, o que poderia tornar seus habitantes os primeiros refugiados do clima do Reino Unido. A matéria transporta o tema da migração induzida pelo clima para o quintal do leitor de uma maneira pessoal e concreta.

4. Dê um rosto humano às mudanças climáticas

Os leitores são mais capazes de se conectar a histórias que têm um elemento humano, que são mais que fatos e números. Para fornecer um rosto humano às mudanças climáticas, mostre as pessoas que estão oferecendo soluções para as mudanças climáticas e cientistas do clima que você cita na sua reportagem. Procure pessoas que já estejam sofrendo os efeitos de um clima em mudança e mostre suas fotos e conte sua história.

Expressar e visualizar as preocupações, conhecimentos e prioridades dos grupos vulneráveis ​​ao relatar sobre as mudanças climáticas traz benefícios para todos. A maneira mais fácil de fazer isso é permitindo que eles mesmos falem.

5. Seja visual

Pesquisas mostram que as pessoas lembrarão uma imagem muito depois de terem esquecido um texto que leram. Se bem equilibradas entre emocionalmente poderosas e factualmente representativas, as imagens podem dar uma visão mais completa de uma situação. Também podem invocar empatia e emoções fortes.

Tente incorporar multimídia em suas reportagens usando ensaios fotográficos, clipes curtos ou arte local. Se você tiver a chance, também deve usar novas ferramentas digitais, como realidade virtual ou aumentada, para enriquecer as formas convencionais de reportagem.

A série Contrast VR da Al Jazeera é um bom exemplo do que a realidade virtual pode significar para as reportagens climáticas.

6. Olhe para além das perspectivas transfronteiriças

As questões de mudança climática raramente são limitadas a uma região específica. Em vez disso, estão ocorrendo em todo o mundo, em diferentes formas. Mostrar como outras comunidades, regiões ou países são afetados por um problema semelhante -- ou encontrar soluções para desafios semelhantes -- pode ajudar os leitores a se conectarem a um grupo que poderiam ter considerado como "outro".

Essas perspectivas transnacionais são fundamentais para descrever adequadamente uma questão que é verdadeiramente global e ajudar a romper estereótipos e equívocos persistentes.


Arthur Wyns é biólogo e jornalista científico. Ele é pesquisador de mudanças climáticas na Organização Mundial de Saúde.

Imagem principal sob licença CC no Unsplash via L.W.