Este artigo é a segunda parte de uma série sobre como os jornalistas podem proteger sua segurança física e mental, bem como a saúde e a segurança de seus entrevistados, em eventos perigosos ou traumáticos. Você pode ler a primeira parte, que aborda a segurança física, aqui.
Doze anos atrás, eu não sabia o impacto que sofri com a guerra civil do Nepal e a insurgência maoísta. Durante um ano, tive que examinar imagens não editadas das sequelas da guerra para um trabalho de pós-produção. Depois de seis meses, comecei a sonhar com cenas da guerra. O mesmo aconteceu em 2015 depois de passar meses produzindo inúmeras matérias sobre o terremoto de abril no Nepal.
Amantha Perera, coordenadora para a região Ásia-Pacífico no Centro Dart para Jornalismo e Trauma, explicou que esta condição é conhecida como "trauma vicário". É causada ao trabalhar com vítimas de trauma ou, no caso de jornalistas, cobrindo eventos traumáticos. Embora muitos dos sintomas sejam semelhantes ao distúrbio de estresse pós-traumático mais comumente conhecido, muitas pessoas não sabem que existe o trauma vicário, também conhecido como fadiga da compaixão. Mas eventos traumáticos podem ter impactos psicológicos em entrevistados, público e jornalistas.
As técnicas a seguir podem ajudar o jornalista a desenvolver resiliência e a aprender como cobrir sensivelmente questões relacionadas a trauma:
1. Lembre-se da importância de contar a história
Quando Narendra Shrestha, um fotojornalista nepalês, cobriu uma inundação nas planícies do sul do Nepal em 2017, ele fotografou um incidente no qual um menino de oito anos morreu de pneumonia depois de sua aldeia ter sido inundada. As fotos perturbaram Shrestha, e ele resolveu não publicá-las online. Mas ele percebeu que poderia se arrepender de não contar essa história importante. Depois de publicar a matéria online, a história se tornou viral e foi posteriormente difundida pela mídia internacional. "Nosso trabalho nem sempre é glamuroso", disse Shrestha. "Às vezes, temos que enfrentar as situações mais horríveis."
2. Se uma matéria se torna muito arrasadora, faça uma pausa ou dê a história a outra pessoa
Narenda se sentiu sobrecarregado cobrindo notícias de terremotos por um longo período de tempo. Para afastar-se das histórias dolorosas dos sobreviventes do terremoto, ele foi para o exterior para uma tarefa diferente. "Era uma maneira de tentar esquecer o trauma", disse ele.
3. Cinegrafistas e fotógrafos devem permitir que entrevistados tenham privacidade
Quando os repórteres entrevistam vítimas de trauma, os cinegrafistas e os fotógrafos devem permitir que o repórter e o entrevistado estabeleçam um relacionamento. As vítimas podem não querer se abrir na presença de fotógrafos ou videógrafos. Para permitir que o repórter crie confiança com o entrevistado e para não atrapalhar a conversa, as câmeras devem ser colocadas de lado e os profissiomais devem permitir que a conversação flua antes de obter o consentimento e retomar a realização da filmagem e fotos.
4. Não sensacionalize eventos traumáticos
Amantha ressaltou que os jornalistas não devem ser vítimas do velho ditado: se sangrar, dá manchete. O fator de choque ou horror não é o que deve orientar o julgamento das notícias.
5. Não publique histórias até que sejam verificadas
A publicação de dados e informações falsas ou incorretas, especialmente no que diz respeito ao número de mortos, pode diminuir a confiança e a credibilidade na mídia. "Nós quase não pensamos na dor que a família de uma vítima de acidente sofre quando aumentamos incorretamente o número de mortes em uma competição para ver quem pode divulgar as notícias primeiro", disse Dilip Thapa Magar, repórter freelance de televisão com base em Katmandu.
6. Compartilhe sua experiência
Compartilhe e avalie sua experiência de cobertura de trauma com sua redação. Isso pode ajudar outros a cobrir situações similares no futuro. "Para que os jornalistas se sintam seguros e capazes de fazer reportagem de trauma, eles precisam discutir questões abertamente e saber que seus colegas estarão lá para ajudar", disse Amantha.
Imagem sob licença CC no Flickr via UN Migration Agency (IOM)