6 dicas para jornalistas que desejam gerar mudanças positivas

Mar 6, 2025 em Temas especializados
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É muito comum que jornalistas queiram que o seu trabalho resulte em mudanças positivas. Mas como é possível promover causas importantes por meio do trabalho sem sacrificar a integridade profissional e ao mesmo tempo manter a carreira viável?

Há muitas abordagens possíveis, conforme demonstram alguns repórteres atualmente. 

Em 2020, pesquisadores israelenses identificaram o que chamaram de "jornalistas ativistas-obsessivos", profissionais motivados por um forte senso de justiça e que buscam gerar mudanças de duas formas. Primeiro, como jornalistas, ao continuarem cobrindo obsessivamente as questões que lhes são importantes; e segundo, em um âmbito pessoal, por exemplo, fazendo lobby com políticos ou ajudando a quem precisa. Contanto que mantenham o profissionalismo, esses repórteres podem desempenhar um importante serviço social, diz Zvi Reich, professor do Departamento de Estudos de Comunicação da Ben-Gurion Universidade Ben-Gurion de Negev e um dos autores do estudo juntamente com o professor Dr. Avshalom Ginosar.

Paralelamente, na Faculdade de Comunicação de Londres, estudantes cursam o mestrado em jornalismo de justiça social, definido como um "jornalismo que busca tornar o mundo um lugar melhor". O curso foi criado em resposta ao interesse gerado por temas como mudança climática, migração e direitos humanos, de acordo com Vivienne Francis, diretora da One World Media e professora da faculdade.

Já a britânica Harriet Grant é freelancer e cobre questões sociais e direitos humanos, com foco em direitos das crianças; ela foi uma das indicadas para o primeiro Tenacious Journalism Awards, que reconhece jornalistas que estão gerando impactos positivos no Reino Unido. Grant não se considera uma ativista, mas tem em mente alguns objetivos de mudança social em relação ao seu trabalho. "Eu tento encarar esses objetivos com a mente aberta", diz. "Por exemplo, ao fazer a cobertura de temas sobre crianças e o ato de brincar, vejo evidências de que elas precisam de mais proteção nas leis de planejamento. Então eu busco pautas que me ajudem a examinar essa questão e vou atrás de possíveis respostas."

Francis, Grant e Reich compartilharam conselhos sobre como jornalistas podem abordar seu trabalho tendo em vista esforços para gerar mudanças positivas. A seguir estão alguns dos pontos principais: 

(1) Mantenha os princípios fundamentais

É crucial que os jornalistas que defendem causas sejam aderentes aos princípios centrais da profissão.

"Eles precisam se lembrar dos princípios básicos do jornalismo [...] verdade, precisão, fazer as perguntas realmente importantes [...] Não podemos perder isso de vista", diz Francis. 

Reich, que trabalhou como jornalista por 14 anos antes de se tornar acadêmico, diz que amplificar a verdade é possivelmente "o maior interesse público" atualmente: "o ambiente de notícias está inundado de interesses próprios e notícias falsas, por isso temos que ser muitos rigorosos com qualquer coisa que vá além do simples compromisso com os fatos".

(2) Reconheça vieses e seja transparente

Nós frequentemente nos posicionamos sobre certas questões, independentemente de percebermos ou não, observa Grant.

"Você pode ser vista como radical e 'militante' se estiver fazendo reportagens sobre assuntos que desafiam o status quo", diz. "É importante lembrar que assumir que o status quo é a coisa certa também é se posicionar."

De modo semelhante, todos nós levamos para as matérias os nossos vieses, observa Reich; o essencial é ser transparente sobre seu posicionamento. "Hoje em dia, você não aceita em um supermercado um produto alimentício que não seja muito claro sobre os ingredientes", diz Reich. Jornalistas devem oferecer uma transparência semelhante em seu trabalho. "É uma nova norma para o consumo de informação", acrescenta. 

Para reconhecer os seus vieses, saia da sua câmara de eco, sugere Francis. Leia uma variedade de fontes e se envolva em debates com quem tem opiniões diferentes. Isso também traz a chance de ver se os seus posicionamentos resistem a um questionamento meticuloso.

Mais importante ainda, buscar pontos de vista que talvez não se alinhem com os seus pode te ajudar a se informar melhor e tornar a sua reportagem mais sólida. "Não tenha medo de ter o outro ponto de vista com presença forte na sua matéria", diz Grant. "Busque equilíbrio e deixe as pessoas julgarem os fatos."

Ao definir o posicionamento em uma matéria, pergunte-se:

  1. O que há de errado com o meu argumento? 
  2. O que outras pessoas diriam?

(3) Converse com as pessoas diretamente afetadas — e faça uma pesquisa rigorosa 

Se você está começando na área do jornalismo de justiça social, converse com as pessoas diretamente afetadas pelo problema, aconselha Francis. "Não há melhor ponto de partida do que as pessoas de verdade, as pessoas que estão vivendo e respirando o problema."

Jornalistas que focam em uma causa em particular devem sempre se esforçar para fornecer análises originais ou informações novas em sua cobertura e sempre buscar aprimorar seus conhecimentos, diz Reich. "Este é um desafio muito grande. Não se trata de exercer o jornalismo comum, rotineiro [...] Estou falando sobre uma dedicação muito ambiciosa de tempo e de se tornar um leitor ávido."

(4) Construa relações sólidas — mas lembre que você é o jornalista

Construir relações sólidas com fontes e colaboradores é fundamental no jornalismo. Mas pode ser ainda mais desafiador se você é um especialista que cobre o mesmo assunto ao longo de muitos anos, já que você frequentemente vai estar em contato com as mesmas pessoas, em alguns casos gerando amizades, diz Grant.

"É difícil. Às vezes você tem que recuar um pouco e falar 'eu sou o jornalista e eu vou decidir como isso vai ser enquadrado e escrito'." 

(5) Esteja ciente dos desafios 

Jornalistas ativistas-obsessivos raramente são novatos, diz Reich. Em sua maioria, são profissionais experientes que se decepcionaram com o jornalismo convencional. Agora, eles "conhecem as regras e [...] têm os recursos para quebrar as regras e fazer as suas próprias".

Embora seja uma carreira que pode ser altamente gratificante, não é fácil. "Não há um manual sobre como construir uma carreira de ativista-obsessivo", diz. 

Fazer a cobertura de justiça social pode atrair o ceticismo de outras pessoas no setor de mídia e a hostilidade dos leitores. Ter uma rede de suporte quando uma enxurrada de reações negativas cruzar o seu caminho é crucial, diz Francis. "Mesmo dentro da área, o jornalismo de justiça social é visto como algo que não vale a pena ou que não é jornalismo de fato, então está na maioria das vezes aberto a camadas adicionais de crítica."

(6) Lembre que, sim, faz diferença

Desde que sejam transparentes e reconheçam os fatos que contradizem seu posicionamento, jornalistas que querem dar destaque a um problema podem oferecer um serviço público valioso, diz Reich.

"Pode soar um pouco idealista, mas eu acho que o jornalismo de justiça social, quando bem feito, tem o poder de provocar mudança", diz Francis. Ele pode melhorar a forma como fazemos pautas de todos os tipos, por exemplo, combatendo estereótipos, falando de sub-representação ou trabalhando com pessoas vulneráveis de maneira ética.


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