Os cortes de equipe vão acontecer. Sejam agora, no próximo mês ou no próximo ano. Eles são inevitáveis, porque os custos de manter uma redação digital em geral ainda são maiores do que as receitas que elas produzem. Mesmo que a publicação digital para a qual você trabalha seja subsidiada pelo departamento impresso, TV ou por outras indústrias, bilionários ou fundos de risco, não há como garantir a estabilidade do seu trabalho. Esta situação provavelmente durará até que descubram como fazer com que as pessoas paguem pelo jornalismo ou pelo menos até que os anúncios digitais comecem a gerar tanto dinheiro quanto a publicidade tradicional.
Nesse cenário, a maneira de sobreviver fazendo o jornalismo que você ama (que você ainda pode pensar como um serviço para a sociedade) é se tornar "tão bom que não poderão lhe ignorar".
Mas primeiro, o que é um jornalista digital?
Um jornalista digital é qualquer um em uma função editorial em redações apenas digitais ou híbridas. Isso inclui os repórteres, é claro, mas também editores, editores de texto, redatores, produtores, curadores, compiladores de boletim informativo, gerentes de mídia social, vídeo-jornalistas, fotógrafos e produtores imersivos. Cada um desses trabalhos envolve a escolha de publicar algum conteúdo em vez de outro conteúdo, o que é uma decisão editorial. Se você trabalha em qualquer um dos departamentos que eu mencionei acima (ou toma decisões editoriais em outros departamentos), você é um jornalista digital.
Em que você deve se concentrar como jornalista digital? De acordo com uma pesquisa recente do ICFJ, há pelo menos 23 habilidades digitais atualmente em uso em salas de redação globais. Dessas 23 habilidades, "apenas cinco são usadas para produzir matérias em metade ou mais das redações". E mesmo dessas cinco habilidades, a maioria são habilidades de "primeiro nível", como redes sociais e fotografia digital. As habilidades de "segundo nível", como verificação e visualização, nem sempre são encontradas nas redações. Mais raras ainda são habilidades de "terceiro nível", como histórias imersivas e jornalismo de dados.
Em resumo, há uma necessidade urgente de preencher esta lacuna de habilidades.
As seguintes estratégias irão ajudá-lo a se aproximar desse objetivo.
1. Concentre-se na técnica primeiro e depois na paixão
Conscientemente ou inconscientemente, todos nós somos atraídos para o jornalismo por um sentimento de "fazer algo". Como jovem repórter de TV, eu tinha uma frase famosa de Steve Jobs -- "Stay hungry, stay foolish" (Siga faminto, siga insensato) -- como meu protetor de tela do computador. Eu não gostava muito de notícias de TV naquela época e me preocupava incessantemente de não ter encontrado uma única coisa dentro da profissão que manteria minha paixão viva.
Anos mais tarde, quando li a crítica de Cal Newport sobre nossa obsessão de se manter com fome e insensato, fiquei incomodado, mas depois admiti que ele estava no caminho certo.
Em "Tão bom que não poderão lhe ignorar", Newport afirmou: "Eu argumentei que 'seguir a sua paixão' é um conselho ruim, porque a maioria das pessoas não nasceu com paixões preexistentes esperando para serem descobertas. Se o seu objetivo é amar o que faz, deve primeiro construir um "capital de carreira" dominando habilidades raras e valiosas e, em seguida, tirar proveito deste capital..."
Essa abordagem faz sentido. A primeira coisa que você deve fazer, talvez depois de falar com alguns especialistas e mentores, é decidir quais são essas habilidades "raras e valiosas" e começar a trabalhar para ser bom. Demora meses para dominar os fundamentos de qualquer coisa e anos para ficar realmente bom, então escolha com sabedoria. Qualquer coisa que você pode aprender em um dia ou semana não é, por extensão, uma habilidade "rara e valiosa".
2. Descarte o currículo de vaidade
Os currículos regulares com títulos de trabalho são realmente repletos de vaidade, porque muitas vezes não fornecem aos recrutadores as informações que procuram. Nos jornais indianos, por exemplo, um correspondente principal ou especial é geralmente alguém que passou anos se aperfeiçoando em uma determinada editoria. Devido a mudanças rápidas na indústria, no entanto, os títulos de trabalho não são mais um reflexo preciso do trabalho que você faz.
Por outro lado, um CV ou currículo de habilidades é, como o termo sugere, um documento que foca nas habilidades que você aprendeu e não os títulos de trabalho que você realizou. Trabalhar em um currículo de habilidades força você a fazer um balanço de onde você está e onde precisa estar, por isso é uma ótima maneira de começar a construir suas habilidades.
3. Descarte o trabalho de vaidade depois que cumpriu seu objetivo
Muitos trabalhos de jornalismo vêm com glamour. Pense em um repórter de televisão com um microfone na mão, mantendo multidões de pessoas à distância com os cotovelos e fazendo perguntas difíceis para um político.
Claro, esse tipo de trabalho faz você ser notado. Mas consegue muito pouco depois de um ponto. Os políticos sabem como evadir essas perguntas difíceis e o repórter muitas vezes sabe que ele ou ela tirará pouco da troca. Geralmente é apenas um teatro. Claro, carreiras continuarão a ser feitas e o crescimento salarial provavelmente será bom no início. Mas os repórteres que seguem esse caminho acabarão descobrindo que estão parados. E vão achar difícil se mover. Eventualmente, eles serão substituídos por pessoas com mais fervor e energia.
Mais importante: esse tipo de trabalho não é jornalismo. No momento em que o glamour acabou com seu propósito, sua alma ou será destruída, ou mais provável, você terá deixado a profissão em puro desgosto.
4. Se for fácil, não faça (ou não faça nada que um bot possa fazer)
Uma regra de ouro que funcionou para mim é esta: se meu trabalho for fácil, então não estou realmente aprendendo nada. Isto é especialmente verdadeiro para as redações somente digitais ou híbridas, onde há uma série de trabalhos que envolvem trabalho árduo.
E esses trabalhos estão rapidamente se tornando automatizados. A Associated Press já usa bots para atualizações do mercado de ações e esportes. O advento da inteligência artificial está acelerando esse processo.
Que tipo de trabalho você deve procurar? Alex Williams escreveu no New York Times, "Os empregos mais vulneráveis na economia do robô são aqueles que envolvem tarefas repetitivas e previsíveis, por mais treinamento que exijam."
Então, quanto tempo você deve ficar no seu trabalho "fácil"? Enquanto sentir que está aprendendo algo, provavelmente está bem. No momento em que deixou de ser desafiado, comece a procurar outras opções.
5. Não se preocupe se não puder mudar suas circunstâncias
Se você se sente ansioso por não poder fazer o que está acima, não se preocupe. Talvez não possa mudar de emprego agora. Ou talvez seja difícil pedir para mudar para outra função. A vida é bagunçada e imprevisível, então não seja duro consigo mesmo se não pode agir agora.
Há outras coisas que também contam, como as relações no trabalho. Ter gerentes e colegas legais e solidários nunca são uma garantia. E se você é o tipo que é confiável, responsável e trabalhador, provavelmente não vai sofrer com isso.
Ainda assim, vale a pena aprender algo por conta própria. Por exemplo, durante toda a minha carreira na televisão, fiz várias coisas ao mesmo tempo que não estavam ligadas ao meu trabalho. Comecei pelo menos três blogs, experimentei criar um podcast, fiz uma campanha contra publicidade intrusiva, lancei programas e comecei a ser voluntário do Hacks/Hackers Índia. Demorou cinco anos para eu deixar as notícias de TV depois de decidir que não era para mim, então, como você pode ver, também perdi tempo. Esta minha carreira secreta e paralela me ajudou a aprender coisas novas e me fez sentir menos preocupado de não conhecer nada quando saísse.
Estas cinco estratégias são orientadas para alterar a forma como você pensa, ao invés de focar em aprender qualquer ferramenta ou habilidade específica. Por razões óbvias, essa é uma decisão sua. Quando você tiver a estratégia certa, as táticas se revelarão.