Ética para dados de redes sociais e outros desafios da redação digital

por Will True
Oct 30, 2018 em Jornalismo digital

No ambiente de notícias em ritmo acelerado, os repórteres tendem a publicar um artigo, divulgá-lo nas mídias sociais e partir para a próxima matéria. Mas se os jornalistas não estão conseguindo tempo para refletir sobre o desempenho do artigo, ou como seu público interagiu com ele, estão perdendo uma peça fundamental do quebra-cabeça do engajamento.

Como as pessoas leem as notícias online é o foco de estudo de Sonya Song, tanto como bolsista atual do Berkman Center for Internet & Society como em sua pesquisa anterior para o Knight-Mozilla OpenNews Fellowship

Na entrevista a seguir, Sonya fala sobre a ética da coleta de dados sociais, como ela começou na mídia digital e o que vai ensinar como instrutora convidada no Bootcampo de Inovação de Mídia do Hacks/Hackers em Lima, no Peru.

Que experiência você teve na mídia digital?

Comecei com ciência da computação e desenvolvi algum interesse por mídia, então me tornei repórter cobrindo tecnologia e notícias de negócios. Então fui para a faculdade de jornalismo e entrei em um programa de doutorado em economia da mídia, que abrange outras disciplinas como a psicologia, marketing e publicidade. Eu percebi que poderia usar meu conhecimento para pesquisar as preferências e reações dos leitores de notícias, e é por isso que eu me inscrevi para o [Knight-Mozilla] OpenNews Fellowship em 2013.

Agora, eu sou uma bolsista do Berkman Fellowship na Universidade de Harvard, então ainda estou estudando como as pessoas usam a Internet e leem notícias online.

O que você planeja para falar no bootcamp do Hacks/Hackers no Peru?

Eu desenvolvi alguns insights a partir de dados que tenho do Boston Globe e PBS Newshour. Quando eu era bolsista do OpenNews Fellowship, estava interessada em que notícia era mais lida e compartilhada e tentando entender o porquê. Isto é o que eu quero oferecer ao bootcamp.

Pode dar alguns exemplos destes insights?

Antes, quando as pessoas falavam sobre notícias digitais, pensavam que era apenas uma "cópia leve" da notícia. Você publica o artigo em seu site e, posteriormente, compartilha no Facebook e não precisa fazer trabalho extra. Percebemos que não era verdade. Pode colocar mais ilustrações sobre ele, pode dar um lide mais interessante para atrair a atenção. Você espera que as pessoas vão clicar no link, ler a história completa e clicar em alguma publicidade.

Quando eu estudei dados do PBS NewsHour, descobri que eles compartilham um monte de vídeos. Quando eles compartilhavam [vídeos] no ano passado, diziam: "Se você perdeu o episódio deste fim de semana, aqui está o programa completo". Eu olhei para a taxa de cliques e as pessoas mal clicaram.

Outros veículos de notícias dividem seus programas em clipes de um, dois ou três minutos de duração. Se você compartilhar o noticiário [completo] de um hora no Facebook, as pessoas não querem vê-lo. A CNN, Fox News e Al Jazeera compartilham um monte de clipes curtos. Há uma relação inversa entre a duração do vídeo e o engajamento das pessoas.

Quais são alguns dos maiores problemas enfrentados nas redações digitais?

Para mim, o próximo passo é aprender sobre os dados do usuário e configurar pontos de ética -- o que podemos recolher e o que não devemos, o que podemos revelar e o que não devemos. Antes, editores e repórteres eram levados pelas preferências de seus leitores. Agora é um ambiente de múltiplas faces.

O desafio é como você tirar proveito dos dados do [usuário] e evitar abusar e fazer mal uso deles. No Facebook, se você quiser chamar a atenção, pode tornar [o artigo] sensacionalista. Mas faz qualquer bem, consegue um impacto cívico?

Outros grandes sites devem assumir mais responsabilidade social porque seus algoritmos determinarm o que as pessoas veem. No Twitter, você pode ligar ou desligar a função personalizada, mas o Facebook afirma que quanto mais você interage com uma página de notícias, mais notícias você vê dessa página. Ele cria uma bolha para leitores individuais. O Facebook deveria tentar oferecer uma notícia importante para educar as pessoas e melhorar a sociedade?

De 8 de julho a 8 de agosto, o bolsista Knight do ICFJ Mariano Blejman, junto com a Media Factory e Hacks/Hackers, vai organizar uma série de bootcamps na América Latina para desenvolver projetos inovadores de mídia digital. Em oito horas, jornalistas, programadores e designers vão aprender as melhores práticas digitiais, formar equipes e começar a desenvolver projetos. A Media Factory vai escolher três projetos desenvolvidos nos bootcamps para acelerar seu crescimento.

Sonya Song vai liderar o bootcamp em Lima, Peru, no dia 18 de julho. A participação é gratuita, mas a inscrição é necessária. Clique aqui para mais informação e para se inscrever ao treinamento na ArgentinaChilePeruBrasilMexico e Colômbia.

A entrevista foi resumida e editada.

Imagem principal sob licença CC via Flickr po Charls Tsevls