Como incorporar a perspectiva de gênero na cobertura eleitoral

porChequeadoJun 24, 2023 em Diversidade e Inclusão
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Há muitos ângulos de uma eleição que os jornalistas podem adotar em sua cobertura: os candidatos e suas propostas, só para citar alguns. Também há temas transversais que tocam de alguma forma nas muitas questões diferentes em jogo. Um deles é gênero.

Incorporar uma perspectiva de gênero na sua cobertura eleitoral envolve ter em mente as muitas desigualdades que podem existir por causa do gênero. Por exemplo, as candidatas são muitas vezes tratadas de forma diferente dos candidatos. O mesmo é geralmente verdade para candidatos da comunidade LGBTQ+.

 

 

Historicamente, as candidatas também são mais questionadas sobre suas vidas particulares e famílias, sobre tópicos como quem vai tomar conta dos filhos caso elas ganhem. Nessa mesma linha, a ambição das mulheres tende a ser penalizada de um modo que não acontece com os homens. Há uma tendência também de analisar o quão "amáveis" elas são.

É importante nos perguntarmos regularmente se estamos tratando candidatas e candidatos igualmente na nossa cobertura. Nós todos escondemos alguns vieses; precisamos reconhecê-los proativamente e ajustar nossa cobertura de acordo. Ao cobrir as candidatas que estão na disputa, pergunte-se novamente: sua cobertura seria a mesma se fosse um candidato?

Também tenha em mente que as candidatas tendem a sofrer mais ataques nas redes sociais. Em muitos casos, e em contraste novamente com os candidatos, esses ataques são mais focados em seu caráter do que em suas propostas ou ideias.

Outro aspecto fundamental para considerar é a forma pela qual tópicos ligados ao gênero são tratados. Em todos os casos, é fundamental fazer a contextualização necessária para a sua audiência.

Desigualdade salarial é um bom exemplo: ao usar dados para cobrir a questão, você pode destacar as diferenças que possam existir em diferentes áreas da economia. Isso vai permitir que você vá além dos casos isolados e relatos, e demonstre a extensão do problema.

Há muitas questões para as quais não há bons dados desagrados por gênero ou outras informações detalhadas, como dados específicos sobre pessoas trans. Isso pode dificultar o acesso à magnitude de alguns fenômenos ou dificultar a avaliação do impacto de certas medidas em grupos demográficos específicos. Nesses casos, apontar a falta de dados pode pelo menos conscientizar sobre o problema, mesmo que ele não possa ser quantificado. 

Também é importante desmentir desinformação que circula nas redes sociais ou que é divulgada por um candidato. Por exemplo, em muitos países circula desinformação sobre o aborto, como conteúdo que distorce os métodos mais comumente usados, mostrando imagens dramáticas de procedimentos que na verdade não são realizados. Essas alegações falsas foram negadas várias vezes, mas há casos em que os candidatos as utilizam em campanhas. Verificar a informação antes de repetir a declaração de um candidato vai ajudar a limitar a disseminação da desinformação.

Além disso, é importante mostrar para o público o que está em jogo quando se trata de questões relacionadas ao gênero. O posicionamento dos candidatos em relação a essas questões, sejam políticas de licença parental ou acesso a contraceptivos, dentre outros, vai impactar grandes grupos populacionais.

Se você se deparar com uma questão que a princípio não parece ter ligação com gênero, pergunte-se a você – e aos candidatos – como ela pode afetar a desigualdade de gênero. Um exemplo são as políticas relacionadas ao cuidado. Pegue, por exemplo, a construção de jardins de infância, que pode ser apresentada como uma medida educacional, mas também afeta a possibilidade das mulheres participarem no mercado de trabalho.

Ao cobrir essas questões durante as eleições, é importante analisar como elas vão afetar diferentes grupos demográficos, incluindo mulheres e membros da comunidade LGBTQ+. Incorporar a perspectiva de gênero na sua cobertura eleitoral vai mitigar as possibilidades de os estereótipos de gênero tomarem conta e vai te permitir avaliar melhor o escopo completo das políticas dos candidatos e seus impactos.


Este recurso é parte de um kit de ferramentas de cobertura de eleições e como identificar desinformação, produzido pela IJNet em parceria com o Chequeado e o Factchequeado, com apoio do WhatsApp. A produção dos vídeos foi feita em parceria com Aos Fatos, Comprova, Estadão Verifica e Lupa.

Para mais informações sobre desinformação eleitoral, visite o PortalCheck.

Foto por Mika Baumeister via Unsplash.