Quando chega a época de eleição, há uma tentação grande dos jornalistas e da mídia focarem em dados de pesquisas, como se a eleição não fosse mais do que uma competição. As manchetes giram em torno de quem está na liderança nas pesquisas, quem está em segundo lugar e quem está bem atrás, em último lugar. Parece familiar? Tal como uma corrida de cavalo — e é precisamente por essa razão que chamam isso de cobertura de "corrida de cavalo".
Estudos mostram que cobrir as eleições dessa forma implode a confiança nos políticos e na mídia, deixa a audiência menos informada, diminui as chances das candidatas e de partidos menos populares e acaba favorecendo candidatos "diferentes e excêntricos" (que não necessariamente são a melhor escolha).
Portanto, as consequências para a democracia não são pequenas: a cobertura de corrida de cavalo pode até diminuir a propensão a votar. Achar que o seu candidato tem uma chance grande de ganhar pode diminuir o incentivo ao voto.
A experiência nos fez entender que eleitores precisam de mais informações completas por meio de uma cobertura que se aprofunde nas propostas dos candidatos, no apoio que eles têm dos partidos e nas chances de realizar seus planos. Também pode ser útil indicar como propostas semelhantes funcionaram ou não no passado, inclusive em lugares com problemas similares.
Mesmo assim, é importante entender porque tanto a mídia quanto o público são atraídos pela cobertura de corrida de cavalo quando se trata de eleições: dito de forma simples, essa abordagem transforma a política em um jogo e isso a torna interessante. Não é errado fazer da cobertura eleitoral um assunto que desperta paixões e interesse – não devemos perder isso de vista.
Também está claro que as pesquisas oferecem uma visão geral rápida, e que é mais simples para os leitores dar uma olhada em um ranking em vez de ler um artigo inteiro. Ao cobrir pesquisas e rankings, é importante fazê-lo com base somente em fontes confiáveis, analisar os números e contextualizar, por exemplo, quando a pesquisa foi feita e quaisquer notícias importantes que aconteceram naquele dia que possam ter influenciado os resultados.
Outra recomendação para ajudar a enriquecer a cobertura e contextualizar pesquisas é mergulhar em questões mais profundas, como quem arrecadou mais dinheiro para a campanha, onde este dinheiro está sendo gasto e quem tem o apoio de quais grupos influentes.
A cobertura de corrida de cavalo também tem apelo por causa de sua simplicidade. Assuntos relacionados às eleições não têm que ser chatos; na verdade, é trabalho de um bom jornalista torná-los atraentes. Quanto mais faz uma cobertura, mais o jornalista pode escrever com clareza e ir direto ao ponto.
Os candidatos querem gastar mais ou menos dinheiro em uma determinada questão? O que eles propõem? Como eles se diferenciam de seus oponentes? Onde qualquer uma das propostas já foi implementada e quais foram os resultados? O que isso significa para os seus filhos, seus impostos, sua saúde?
Um jornalista deve responder a pergunta fundamental: como isso afeta a minha audiência? Por exemplo, em vez de cobrir as frases vazias de algumas campanhas, a missão é entender bem as propostas dos candidatos e traduzi-las para a audiência de uma forma que funcione para ela. Você pode comunicar a popularidade de uma ideia por meio de pesquisas e intenção de votos, mas sempre depois de explicar os vários aspectos da proposta.
As pesquisas precisam passar por um filtro detalhado de inspeção do jornalista. Isso significa prestar atenção nos vários detalhes de um estudo, começando pela reputação de quem o realizou. O tamanho da amostra, a data, a margem de erro, dentre outros dados, também entram em jogo.
Além disso, é importante esclarecer o que exatamente foi perguntado, de que forma, qual a ordem das perguntas, a quem foi perguntado e em quais lugares. A consulta a especialistas em estatística desempenha um papel essencial.
Este artigo do The Journalist’s Resource inclui uma lista de organizações confiáveis que fazem pesquisas nos Estados Unidos, bem como sugestões de perguntas que um jornalista pode fazer para melhorar sua cobertura.
Este recurso é parte de um kit de ferramentas de cobertura de eleições e como identificar desinformação, produzido pela IJNet em parceria com o Chequeado e o Factchequeado, com apoio do WhatsApp. A produção dos vídeos foi feita em parceria com Aos Fatos, Comprova, Estadão Verifica e Lupa.
Imagem por Jeff Griffith via Unsplash.