A busca do jornalismo científico na Indonésia para se firmar

Jul 4, 2024 em Reportagem de meio ambiente
Mount Bromo, Probolinggo, East Java, Indonesia.

A falta de matérias sobre ciência, a capacitação insuficiente de jornalistas que cobrem assuntos científicos e barreiras de comunicação entre cientistas e jornalistas são todos impedimentos ao jornalismo de ciência no Sul Global, de acordo com um estudo de 2023 feito por pesquisadores da Universidade James Madison e da Universidade de Punjab.

Jornalistas de ciência indonésios enfrentam muitos desses obstáculos. Além das oportunidades limitadas para a publicação de jornalismo de ciência na Indonésia, já que muitos veículos não priorizam a cobertura do tema, pode haver também carência de dados confiáveis.

Apesar desses problemas, o interesse pelo jornalismo de ciência no país está crescendo, principalmente após a pandemia, diz Melvinas Priananda, diretor-executivo da Sociedade dos Jornalistas Indonésios (SISJ). "A pandemia de COVID-19 é o ponto de partida em que todo mundo exige certeza e se interessa por saber sobre ciência, por estar atento ao ambiente ao redor e permanecer saudável."

Eu conversei com jornalistas de ciência na Indonésia para entender melhor o estado da reportagem científica no país, seus pontos fortes e fracos e o que pode ser melhorado.

Desafios enfrentados pelos jornalistas de ciência

Os jornalistas da editoria de ciência não necessariamente têm uma bagagem científica. Por isso, é fundamental que eles recorram a cientistas credenciados para explicar questões relacionadas a pesquisa, eventos ou outros acontecimentos sobre os quais venham a produzir matérias.

"Eu acho que os jornalistas deveriam encarar seu trabalho de reportagem com uma perspectiva científica, absorvendo observações, análises e conhecimentos sobre as questões sendo cobertas, tal como cientistas. Esse é o meu sonho, embora o jornalismo indonésio não esteja indo nessa direção", diz Harry Surjadi, jornalista ambiental e ex-bolsista ICFJ Knight Fellow.

Em 2011, Surjadi criou um canal de comunicação que empoderou as pessoas que vivem em áreas remotas de Borneo a enviar notícias via mensagens de texto para a TV Ruai, emissora de televisão da capital da província. A iniciativa também ensinou jornalistas cidadãos a usarem telefones celulares para registrar problemas como extração ilegal de madeira e desmatamento ilícito na região.

Gerar mudanças por meio do trabalho de reportagem é um desafio adicional para os jornalistas de ciência, acrescenta Surjadi. "Convencer o público indonésio, particularmente os formuladores de políticas, a adotar uma abordagem lógica e científica para a implementação de políticas é uma tarefa desafiadora para os jornalistas de ciência."

Assim como repórteres de outras editorias, jornalistas de ciência precisam fazer a pesquisa necessária sobre os assuntos que estão cobrindo para garantir que a reportagem seja o mais abrangente possível para os leitores. A falta de preparo pode resultar em uma cobertura excessivamente simplista de tópicos científicos complexos.

"Normalmente, as matérias excessivamente simplistas são aquelas que destacam minhas pesquisas publicadas sem que tenham feito contato comigo", explica a ecotoxologista Wulan Koagouw, conhecida por sua pesquisa sobre a contaminação de paracetamol nas águas da Baía de Jacarta.

Linguagem e termos técnicos, em particular, podem confundir os jornalistas. Isso pode deixar ainda mais desafiadora a transmissão dos pormenores dos assuntos ao público. "Quando um jornalista faz referências a um estudo e faz perguntas inteligentes, de alta qualidade, eu sei que ele é conhecedor do assunto", diz Koagouw.

O estado do jornalismo de ciência na Indonésia

As entrevistas com Priananda, Surjadi e Koagouw esclareceram como a reportagem de ciência tem sido eficaz nos últimos anos e os desafios que ainda permanecem.

Exemplos de reportagens eficazes incluem:

  • Ajudar o público a tomar medidas adequadas e melhorar suas decisões com base em conhecimentos a partir de matérias jornalísticas. Por exemplo, no pico da COVID-19, as redações conscientizaram sobre a importância do uso de máscaras, do distanciamento social, de lavar as mãos com sabão e de se vacinar.
  • Em exemplos como o da reportagem sobre a poluição na Baía de Jakarta, jornalistas de ciência indonésios incluíram várias vezes, de forma bem-sucedida, análises sólidas de pesquisa científica para a audiência. 

O crescimento do jornalismo de ciência, observa Priananda, levou os indonésios a terem um melhor entendimento sobre pesquisa, inovação e novas tecnologias.

No entanto, entre os desafios que persistem atualmente, estão:

  • Dados e pesquisas científicas podem ser de difícil acesso para os jornalistas na Indonésia.
  • Dados sobre ciência, quando disponíveis, são confusos e de difícil compreensão para os jornalistas do país.
  • Jornalistas indonésios que não têm bagagem ou conhecimento científico nem experiência para cobrir o tema podem às vezes relutar em fazer contato com cientistas.

Por meio das minhas conversas, eu descobri que há também muitas razões para positividade quando se trata do jornalismo de ciência na Indonésia. No futuro, será fundamental que os jornalistas tenham em mente o seguinte ao realizarem seu trabalho:

  • O jornalismo de ciência está recebendo mais atenção de editores e das redações.
  • Jornalistas de ciência devem estudar os últimos acontecimentos da ciência e tecnologia para continuar servindo as necessidades da audiência.
  • Destacar como questões relacionadas à ciência são importantes para a vida das pessoas as ajuda a entender sobre pesquisa, inovação e novas tecnologias.
  • Aumentar o entendimento dos jornalistas sobre pesquisa pode render reportagens mais sólidas que, por sua vez, conscientizam melhor o público sobre os benefícios da ciência e da tecnologia para a sociedade.

Mais reportagens sobre descobertas científicas, mudança climática, dentre outros temas só vai aumentar ainda mais o interesse e a conscientização das pessoas, levando-as a tomar decisões embasadas sobre questões fundamentais em sua vida diária.


Foto por Nanda Firdaus via Unsplash.