Desinformação sobre o clima cresce em Gana

Apr 11, 2024 em Reportagem de meio ambiente
A sign with a globe that says one world

Atualmente, Gana está vulnerável ao aumento do nível do mar, secas, aumento de temperaturas e a padrões irregulares de chuva.

Eventos climáticos extremos e altas temperaturas já estão impactando a economia do país, a saúde e segurança das pessoas, dentre outros problemas. As mudanças ambientais também conseguem impactar negativamente a infraestrutura ganesa, produção de energia hidrelétrica, segurança alimentar, subsistência em áreas costeiras e o setor agrícola, que desempenha um papel importante na economia, empregando cerca de 45% da força de trabalho.

Ao mesmo tempo, a desinformação relacionada ao clima está freando os esforços para enfrentar essas consequências ambientais.

"A desinformação sobre o clima afeta o país, já que jornalistas às vezes falham em relacionar problemas da mudança climática com eventos cotidianos, como a qualidade ruim do ar e o calor extremo", diz Nathan Gadugah, editor do Dubawa Ghana.

A difusão de informações falsas e o ceticismo relacionado ao clima em geral vão simplesmente aumentar se jornalistas e verificadores de fatos não derem mais foco aos problemas climáticos, acrescenta Albert Ansah, jornalista de ciência e meio ambiente da Ghana News Agency.

Políticas insuficientes para a mudança climática em Gana

Apesar de todos esses problemas, a mudança climática raramente é um assunto importante na política ou nas eleições ganesas, explica Gadugah.

"Em 2013, foi anunciada a Política Nacional de Mudança Climática, mas houve pouca ou nenhuma tentativa de divulgar suas atividades", diz. "Embora algumas políticas tenham sido implementadas recentemente, incluindo o imposto de emissões, a opinião de muitos ganeses é muito mais inclinada para uma estratégia do governo de arrecadar dinheiro para impulsionar a economia do que para o combate à mudança climática."

As políticas existentes que tratam da mudança climática são descoordenadas e falham em envolver o público, acrescenta Gadugah.

Ansah concorda: "a tendência preocupante é que alguns, como os políticos que ocupam cargos influentes, não estão prontos para tomar decisões que vão apoiar o plano de adaptação e mitigação do Acordo de Paris em Gana."

Negacionismo climático

As questões ambientais também foram politizadas, o que ajudou a enfraquecer os esforços para enfrentar e diminuir os impactos da mudança climática.

Em 2021, Alexander Afenyo-Markin, o líder da maioria no parlamento, gerou polêmica ao compartilhar uma foto supostamente retratando atividades de extração de areia – a prática ilegal de coletar areia e outros materiais de praias e dunas para construção – na cidade litorânea de Keta, na região do Volta de Gana, para explicar a causa de maremotos que causaram o desalojamento de quase 4.000 pessoas

A situação levou a um debate acalorado no qual um dos membros do parlamento, Nelson-Rockson Dafeamekpor, rejeitou as afirmações. Mais tarde foi revelado que a imagem era falsa e era de Freetown, em Serra Leoa. "A foto de Serra Leoa usada para apresentar o impacto de maremotos em Keta, de alguma forma, minimizou as consequências da mudança climática na região", diz Kwaku Krobea Asante, verificador de fatos e chefe de comunicação na Media Foundation for West Africa

Nas redes sociais, os usuários também vêm descrevendo com frequência a mudança climática em Gana como uma farsa, subestimando a crise no país.

Por onde os verificadores de fatos podem começar

Em geral, as organizações de verificação de fatos em Gana devem focar mais na desinformação sobre a mudança climática e seu impacto negativo nos cidadãos e nas comunidades, diz Gadugah, acrescentando que esse tipo de trabalho requer também mais apoio financeiro.

"As organizações de verificação de fatos não têm foco na desinformação ligada ao clima devido a um interesse limitado. Falta também uma agenda clara dos céticos do clima", explica. "Uma investigação a esse respeito iria demandar muito dinheiro, o que os verificadores de fatos em Gana não têm."

Um lugar importante pelo qual os verificadores podem começar, sugere Gadugah, é a indústria de petróleo. "Os verificadores devem se interessar pelas empresas petroleiras por causa da dinâmica econômica da indústria de combustíveis fósseis e suas atividades de exploração, que contribuem significativamente para as emissões de dióxido de carbono", diz. "As pessoas nesse setor vão pressionar implicitamente mais em favor desse status quo para que seus negócios prosperem, em detrimento do clima."

O trabalho de desmascarar desinformação sobre a crise climática, ele prossegue, deve levar em conta não só afirmações explícitas negando a mudança ambiental que está acontecendo. Deve-se destacar casos de uso seletivo de dados, a fuga de assuntos e tentativas de minimizar a urgência da situação.

"A desinformação climática aparece sobretudo por meio da omissão e de informações seletivas em vez do negacionismo incondicional", observa Gadugah.


Foto por Markus Spiske via Unsplash.