A ansiedade tem um papel relevante entre aqueles que nunca consomem notícias ou as evitam sempre que possível. Trata-se de uma sensação que essas pessoas querem evitar por antecipação. Por isso, elas não têm o hábito de seguir o noticiário.
É isso que sugere o estudo “Como se sente as notícias: ansiedade antecipada como factor para evitar notícias e barreira para engajamento político”, dos pesquisadores Benjamin Toff e Rasmus Klein.
A pesquisa quis responder a duas perguntas: o que esse grupo sente quando acompanha o noticiário e qual a opinião delas sobre a importância de ficar informado? As questões foram feitas a 43 pessoas das classes baixa ou média do Reino Unido que regularmente consomem pouca ou nenhuma notícia produzida profissionalmente.
Embora o recorte seja estreito e fechado ao contexto de um país, as respostas ajudam a esclarecer as motivações daqueles que não são considerados leitores de notícias. Em maior escala, jogam luz sobre a dimensão afetiva das notícias e seus impactos em não leitores.
A ansiedade acaba por ter um papel relevante devido a experiências anteriores de não leitores com o noticiário. Os entrevistados disseram ter sentido essa sensação antes, quando leram sobre casos de terrorismo ou crimes brutais, por exemplo. Tais notícias causaram impactos negativos que eles querem evitar. Este é um dos achados da primeira questão da pesquisa.
O segundo diz respeito à importância de manter-se informado como premissa para tomar melhores decisões e engajar-se na vida cidadã. Os autores explicam que estudos de comunicação política colocam o consumo de notícias como pedra basilar da cidadania e do engajamento político. Contudo, os não leitores entrevistados disseram questionar a importância de se manter informado para afazeres cotidianos.
Em outras palavras e sintetizando as respostas às duas perguntas norteadoras do estudo, é como se antes a pessoa sem hábito de acompanhar o noticiário se perguntasse: por que vou ler as notícias se elas me fazem mal e em nada contribuem para minha vida?
Os autores sugerem que os achados, embora coletados de uma amostra pequena e limitada, jogam luz sobre a importância dos afetos causados pelo noticiário como barreira não só entre pessoas e as notícias, mas também entre elas e a cidadania e a política.
Pesquisas de audiência como essa são relevantes porque mostram as preferências de um público que não tem o costume de seguir o noticiário. Assim, é possível entender um pouco mais sobre quais são os hábitos culturais desse grupo, seus hábitos e como eles entendem o que é jornalismo. Em uma especulação maior, talvez seja possível levantar hipóteses e estratégias meios de conquistar esse público e torná-lo leitor.