Jornalismo colaborativo busca promover respeito à comunidade LGBTQ+ em Moçambique

Автор Adina Amade
Oct 6, 2024 в Diversidade e Inclusão
Lgbt+

Quando falamos sobre promover os direitos humanos, o jornalista surge como ator importante na divulgação de informações que acima de tudo primam pelo respeito das pessoas, independente da religião, etnia, raça ou orientação sexual.

Em Moçambique há exemplos de como o jornalismo colaborativo tem ampliado o respeito à comunidade LGBTQ+. Infelizmente, apesar da população poder manifestar livremente a sua orientação de gênero, não há muitos avanços do ponto de vista jurídico legal. 

Projeto pioneiro em jornal para abordar minorias 

Foi a partir do desejo de um grupo de jornalistas de ver as famílias moçambicanas discutindo as questões de gênero, que o jornal Ikweli, baseado na cidade de Nampula, começou um projeto financiado pela organização Hivos, em 2021. A intenção era de que as questões da comunidade LGBT+ tomassem parte da agenda das redações tal como as questões de violência baseada no gênero.

Para a implementação do projeto, foram recrutados 15 jornalistas nas províncias de Nampula, Cabo Delgado e Niassa, ao norte de Moçambique, que tinham como missão reportar questões de violação de direitos humanos da comunidade LGBTQ+. O trabalho durou quase um ano, foram produzidas 150 matérias com abordagem de casos de dIscriminação de pessoas por suas famílias ao se assumirem homossexuais, desafios enfrentados no acesso a empregos, educação, saúde e no direito a frequentar locais religiosos. 

Relatos de preconceitos 

O diretor editorial do jornal Ikweli, Aunicio da Silva diz que o país tem uma interpretação das causas LGBT+ com base em questões religiosas. "Os jornalistas do projeto tiveram que se envolver na marcha para advogar pelos direitos humanos da comunidade mesmo com todos os preconceitos que existem de uma sociedade que não se diz preparada para aceitar o direito das minorias sexuais", explica Silva. "E nem são minorias sexuais, na realidade. Essa mesma sociedade aceita a poligamia mas não respeita os direitos humanos de uma pessoa por causa da sua orientação sexual".

Silva exemplifica que o jornal contou, por exemplo, histórias de meninas forçadas pelas famílias a casar por se assumirem  lésbicas e de meninos violados sexualmente a mando de suas famílias para deixarem de ser homossexuais ou de jovens que foram impedidos de ir à escola por se vestirem como meninas. "As reportagens eram feitas com o intuito de chamar a atenção para o respeito pelos direitos humanos dessas pessoas", diz Silva.

O jornal Horizonte, baseado em Cabo Delgado, também abraçou a causa contra o preconceito. Uma das reportagens que marcou o editor Buanamade Assane foi sobre um jovem que perdeu a oportunidade de se tornar padre depois que a igreja descobriu que era homossexual. "Nós fazíamos estas pautas em que as fontes eram líderes religiosos, mas estes nunca queriam falar. Depois de ver o assunto no nosso jornal, alguns aceitavam fazer comentários, mesmo sem gravar, onde falavam do respeito, mas com muitas reservas sobre a aceitação".

Mudando posturas a partir da mídia

A abordagem de temas relacionados a causa LGBTQ+, fez com que os jornais envolvidos perdessem leitores. Houve muitas críticas por parte de pessoas influentes que diziam que estas mídias "estavam se deixando levar pelo ocidente em assuntos que não tinham impacto para a sociedade". Ainda assim, Silva se orgulha de ter encontrado pessoas que, por causa das publicações, reavaliaram suas posturas em relação à comunidade LGBTQ+.

"Quando iniciamos o projeto foi difícil convencer as pessoas a falar sobre a comunidade LGBTQ+", diz Suizane Rafael, diretor do jornal Faísca, na província do Niassa. Ele destaca que o movimento LGBTQ+ tem crescido na sua província a medida em que as pessoas abrem-se para discutir livremente as questões. Ele diz que as formações que tiveram na província de Nampula e o apoio da Lambda, uma organização da sociedade civil que defende, por exemplo, o casamento homoafetivo, foram fundamentais.

Canal para reivindicar direitos

Assane, diz que o jornal Horizonte acabou se transformando num veículo de denúncia para a comunidade LGBT+. "A abertura de algumas instituições preocupadas com a assistência médica aos homossexuais constituiu um grande passo do ponto de vista de direitos humanos apesar do caminho para a aceitação social que inclui também o trabalho da imprensa ser um caminho ainda por percorrer", diz Assane.

O caminho para derrubar preconceitos em Moçambique apesar de já colher frutos ainda é longo. "Nosso desafio é formar mais órgãos, principalmente rádios comunitárias, que têm um grande impacto nas comunidade para que também possam falar sobre o assunto", diz Silva. 

"Eu continuo fazendo reportagens onde faço o apelo que ao  dIscriminar, a sociedade comete uma grosseira violação aos direitos humanos das pessoas no seu todo, não só em função da sua orientação sexual", diz Rafael.


Foto: Canva

 

    


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