Jornalista freelancer: como conseguir trabalho constante

Автор Verônica Vale
Apr 24, 2022 в Freelance
Foto de Paloma Patrocinio

Originalmente, a palavra trabalho era remetida à sofrimento. Vinha de "tri-palum", um instrumento de tortura. Apenas no século XIV, passou a ter o sentido que conhecemos hoje: aplicação de habilidade para alcançar um fim. Para alguns jornalistas, um trabalho fora da zona de martírio precisa oferecer liberdade, de tempo e de geografia. O modelo freelancer é uma forma de chegar lá, mas existe o preço da instabilidade. Ter serviços frequentes é o grande desafio neste formato.

Estima-se que 40% dos jornalistas no mundo já trabalham de forma independente. É um dado da Pesquisa da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) que entrevistou 1,3 mil profissionais de 77 países. O número pode refletir as demissões nos veículos de comunicação que fecharam na última década. O modo freelancer aparece como opção para pagar contas, fazer renda extra ou ter autonomia para tocar projetos em paralelo.

Foi a escolha da Melina Gasperini. Ela trabalhou como diagramadora em um jornal de Coimbra, Portugal, por dois anos e meio. Optou por sair da empresa para se dedicar a iniciativas textuais e ideias criativas. "Quem trabalha em redação sabe que a rotina não bate com a da maioria das pessoas. E isso começou a afetar meus planos", comenta. Enquanto freela, ela testa caminhos para nunca faltar oportunidades na área.

O poder da indicação

Gasperini diz que a indicação ainda é a melhor forma de conseguir freelas. "É importante pegar um primeiro cliente. Porque por meio dele você chega a outros", aponta. No caso de Paloma Patrocínio, ela contou com a indicação dos próprios colegas. A jornalista atua como assessora de imprensa no modelo de pessoa jurídica e recebeu a vaga por causa da sugestão de uma ex-colega de trabalho.

Repórter freelancer desde 2016, Patrocínio teve a oportunidade de atuar como responsável por uma equipe, mas sem vínculos formais com o empregador. "Foi com essa rede de contatos que mergulhei no universo freelancer e passei a oferecer serviços de marketing de conteúdo e redes sociais para os setores de educação, saúde e empreendedorismo." Então, fazer parte de comunidades de profissionais autônomos pode expandir sua visibilidade.

Patrocínio chegou, inclusive, a montar um projeto para ajudar os pares com dicas e recomendações, o @carreiradefreela. "Sempre dei um jeito de colocar meu trabalho em evidência e comentava com colegas sobre minha disponibilidade para novos trabalhos", diz. A iniciativa movimentou a rede de contatos e ela considera que todos os trabalhos da carreira são frutos desse relacionamento que gera indicações.

Garimpo digital

Para quem está no início de carreira, Melina Gasperini sugere aproveitar as chances dos sites de vagas, por mais que as remunerações estejam fora das expectativas. "Às vezes, é necessário certa flexibilidade para abrir outras portas". A sugestão é se cadastrar e conferir diariamente opções que atendam seu perfil. Ela indica os portais indeed.pt e industriacriativa.pt. (Confira aqui uma lista de sites de vagas)

As redes sociais também podem ser vitrine. O LinkedIn, por exemplo, lançou uma plataforma exclusiva para serviços de trabalho freelancer, o Service Marketplace. O lançamento aconteceu no último ano, ainda está em fase beta e já conquistou mais de 2 milhões de usuários. Está disponível, por enquanto, apenas nos Estados Unidos. O novo recurso é gratuito e permite que os usuários informem disponibilidade para freelas.

Mas já dá para ter um gostinho dessa funcionalidade sem ter o perfil norte-americano. Basta encontrar o botão "Prestar serviços" nas configurações do perfil pessoal. Fica localizado abaixo da biografia. Em seguida, é só cadastrar os tipos de serviços e seguir as instruções da rede social. Além disso, você pode procurar por vagas e filtrar a busca em "trabalho remoto".

Iniciativa e ousadia

Outro ingrediente na vida de um freela é atitude. Patrocínio lembra que procurou contato num recém-lançado jornal impresso de sua cidade, em 2016. Encontrou um e-mail para sugestões de pautas e imediatamente, enviou uma mensagem para se colocar à disposição do veículo. "Montei um mini-currículo, anexei alguns trabalhos e me apresentei como moradora do bairro", conta. A equipe respondeu de portas abertas. O primeiro material que ela enviou teve tanta repercussão que o próprio dono do jornal entrou em contato para convidá-la a fazer parte do time de freelas. Ela ficou lá por 3 anos: "Fui com a cara e a coragem e melhorei meu portfólio."

Se o objetivo é trabalhar com liberdade de tempo e de espaço, ser freelancer com garantia de demandas parece ser um caminho. Para chegar lá, vale a tríade das entrevistadas: construir rede de contatos, manter perfil atualizado e estar em movimento. Longe de significar tortura, o serviço dos jornalistas nesses moldes pode ser sentido como sacrifício, no sentido original da palavra: sacro - ofício, um trabalho sagrado.


Foto: Arquivo Pessoal da freelancer Paloma Patrocínio