Vencedores do Nobel da Paz reforçam papel do jornalismo no combate ao autoritarismo

Dec 14, 2021 em Liberdade de imprensa
Nobel Peace Prize ceremony

Dois ícones globais da liberdade de imprensa receberam o Prêmio Nobel da Paz, em Oslo, na Noruega, marcando a primeira vez desde 1936 que jornalistas foram reconhecidos com o prêmio de maior prestígio do mundo.

Ressaltando a importância do jornalismo no combate ao autoritarismo e outras tendências destrutivas, o Comitê do Prêmio Nobel homenageou Maria Ressa, cofundadora e editora do Rappler, site de notícias independente das Filipinas, e Dmitry Muratov, editor-chefe de longa data do Novaya Gazeta, jornal independente da Rússia.

Ambos os laureados e seus colegas foram vítimas de assédio, intimidação e violência por seu trabalho expor injustiça e abuso nos níveis mais altos.

No seu discurso de aceitação, Ressa, que já foi vencedora do principal prêmio internacional do ICFJ, observou que ela foi apenas a 18ª mulher a receber o Prêmio Nobel da Paz. Ela disse que mulheres jornalistas estão no "epicentro do risco" e acrescentou que "essa pandemia de misoginia precisa ser combatida já".

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Ressa notou que, ao receber o prêmio, ela representa todo jornalista "forçado a sacrificar tantas coisas para manter-se firme, permanecer fiel aos nossos valores e missão: trazer a verdade para vocês e responsabilizar os poderosos." Ela citou uma longa lista de jornalistas que foram mortos, presos ou perseguidos pelo seu trabalho, de Malta à Arábia Saudita a Hong Kong.

Ressa criticou severamente as empresas de redes sociais por ganharem dinheiro alimentando a violência e o ódio, mencionando o Facebook como o maior distribuidor do mundo de notícias e também de desinformação. "Essas corporações destrutivas se apropriaram do dinheiro de empresas jornalísticas e agora representam uma ameaça fundamental aos mercados e às eleições."

Ela pediu a regulamentação do que taxou de "economia da vigilância que lucra com ódio e mentiras" e clamou os Estados Unidos a "reformar ou revogar a seção 230, lei que trata as plataformas de redes sociais como serviçoes".

Ressa, repórter veterana da CNN, também disse que o jornalismo precisa ser reconstruído para o século 21, com ecossistemas de informação baseados em fatos. "Precisamos ajudar o jornalismo independente a sobreviver, primeiro dando proteção ampla a jornalistas e enfrentando Estados que perseguem jornalistas."

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Em seu discurso de aceitação, Muratov disse que o jornalismo na Rússia está "atravessando um vale sombrio. Mais de cem jornalistas, veículos de notícias, defensores dos direitos humanos e ONGs foram recentemente classificados como 'agentes estrangeiros'. Na Rússia, isso significa 'inimigos do povo'. Muitos dos nossos colegas perderam seus empregos. Alguns tiveram que deixar o país. Alguns foram privados da oportunidade de viver uma vida normal por um período indeterminado. Talvez para sempre."

Ao afirmar que a tortura é o crime mais sério contra a humanidade, Muratov anunciou planos para um tribunal internacional contra a tortura. Ele disse que a instituição agregaria informações sobre tortura em diferentes partes do mundo e identificaria autoridades responsáveis por tortura. Ele disse que a iniciativa dependeria de jornalistas investigativos no mundo todo.

"Com cada vez mais frequência, ouvimos falar de tortura de condenados e detentos. As pessoas estão sendo torturadas no limite, para tornar a sentença de prisão ainda mais brutal. Isso é uma barbárie."

Neste ano, o ICFJ trabalhou com Ressa e Rappler para publicar um grande estudo de caso baseado em dados que detalhou a intensidade e ferocidade da violência online contra Ressa ao longo de cinco anos. A pesquisa encontrou evidências de que alguns dos ataques contra Ressa são coordenados ou orquestrados — uma marca distintiva de campanhas de desinformação estatais.

Ressa também é objeto de múltiplos processos que objetivam silenciar a jornalista e seus colegas. Ela enfrenta a possibilidade de passar décadas atrás das grades se for condenada em todas as acusações. O ICFJ e a coalização #HoldTheLine continuam a apelar para que essas acusações espúrias sejam derrubadas. O ICFJ colidera a aliança, um grupo com mais de 80 organizações em defesa de Ressa e da liberdade de informação nas Filipinas, em conjunto com o Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ) e Repórteres Sem Fronteiras (RSF). Ressa agradeceu a Coalizão bem como todos os grupos de direitos humanos "que nos ajudam a lançar luz".


Imagem principal: captura de tela da cerimônia do Prêmio Nobel da Paz.

Este artigo foi originalmente publicado pelo International Center for Journalists, organização da qual a IJNet faz parte.