Uma rádio no México busca revolucionar a ideia de rádio local

por Hanaa' Tameez
Nov 21, 2023 em Engajamento da comunidade
View of Mexico City from the air, with streets crossing at right angles

O que acontece quando uma capital de 22 milhões de pessoas e 16 distritos não tem fontes de notícias locais o bastante para cobrir sua enormidade?

Bem-vindo à Cidade do México, onde essa é uma realidade com a qual uma emissora de rádio está tentando lidar.

Radio Chilangolançada em 28 de agosto, é o mais novo braço da Chilango, revista de notícias e cultura que cobre a Cidade do México. A rádio está começando com quatro programas: o programa matutino "¿Qué chilangos pasa?" discute as notícias do dia que as pessoas precisam saber e dá dicas para sobreviver aos desafios únicos da megalópole (trânsito, poluição do ar, gentrificação, obras).

("Chilango" é o gentílico para quem é da Cidade do México e "¿Qué pasa?" significa "o que está acontecendo?". Também existe a expressão "¿Qué chingados pasa?", que significa "que diabos está acontecendo?"; usar "chilangos" no lugar de "chingados" faz com que o nome do programa seja um jogo de palavras inteligente.)

Já o programa "Sopitas" trata de arte, cultura e tecnologia. "Vamos tranqui" conta aos ouvintes sobre eventos que estão para acontecer e explica tendências e problemas locais. Por fim, "Esto no es un noticiero" explica pautas nacionais e internacionais com humor em termos leigos. Todos os programas têm entre uma e duas horas e incluem entrevistas e momentos de bate-papo com especialistas locais, autoridades, jornalistas, dentre outros. 

 

@radiochilango Es una ley chilanga guiarte en el transporte público por los íconos de las estaciones. 😅 Ayer nos platicó de esto Isaac Torres para #VamosTranqui ♬ sonido original - Radio Chilango

 

A Cidade do México não é exatamente um deserto de notícias, diz Mael Vallejo, diretor editorial da Radio Chilango e vice-presidente de conteúdo da Capital Digital, agência de conteúdo de marca e empresa detentora da Chilango. Quase todos os principais veículos nacionais do país — incluindo impresso, digital, TV e rádio — estão sediados na capital. Jornais tradicionais diários como ReformaMilenio e Excelsior um dia já tiveram grandes editoriais metropolitanas, mas elas diminuíram nos últimos anos. A cobertura da cidade feita pelos veículos na maioria das vezes foca em crime, segurança pública e política, enquanto outras questões locais são cobertas sob uma perspectiva nacional, diz Vallejo.

"A ideia geral desse lançamento inicial é mostrar que nós não somos e não queremos ser como as rádios tradicionais do México", diz Vallejo.

De acordo com um estudo nacional feito em 2022 pelo Instituto Federal de Telecomunicações do México, 38% dos respondentes da pesquisa disseram ouvir rádio. Desse total, 41% disseram ouvir rádio para acompanhar as notícias, a segunda categoria mais popular, atrás apenas de música. Dentre os ouvintes, 70% disseram que ligam o rádio entre 6h e meio-dia.

"O rádio ainda é uma importante forma de comunicação na Cidade do México", diz Vallejo. "Há um estrato social que não escuta rádio mais, mas ouve muitos podcasts ou usa o Spotify. Mas as pessoas que andam de carro — quem está se deslocando para o trabalho, motoristas e passageiros de táxi e Uber — ouvem rádio o tempo todo. O que vimos era que não havia uma emissora dedicada ao que acontece em uma cidade com 22 milhões de moradores."

Mas este não é exatamente um caso de retorno ao básico. Vallejo diz que a Radio Chilango tem duas vertentes: uma é chegar aos atuais ouvintes de rádio por meio de um veículo que eles já usam e preencher uma lacuna de informação local. A outra é chegar a novas audiências por meio de veículos e plataformas com o conteúdo dos programas de rádio. Além de transmitir via rádio, a Chilango pode ser ouvida online em seu site, no YouTube, TikTokInstagram (o YouTube e o TikTok são as plataformas que mais crescem para o consumo de notícias no México) e em um canal no WhatsApp. Todos os programas são gravados como podcasts e também filmados. As notícias e os debates são editados e transformados em vídeos curtos para o TikTok e o Instagram.

"Não é que queiramos que as pessoas ouçam o rádio como um novo hábito. Queremos gerar conteúdo bom o bastante para que, em cada plataforma que estivermos, as pessoas digam 'olha, isso me interessa'", diz Vallejo. Se você não vai ouvir rádio nunca mais, mas quer assinar nosso canal no WhatsApp, porque é este o lugar onde você procura por notícias, ou nos seguir no TikTok porque prefere se informar em vídeos de 30 segundos em vez de ouvir um programa inteiro, nós não nos importamos. A ideia não é só fazer um funil para uma das plataformas, mas entender que a audiência está ali e que temos que ir até onde ela está." 

 

@radiochilango “El Covid llegó para quedarse”, nos indicó Olivia López, Secretaria de Salud de la #CDMX en ¿#QuéChilangosPasa? ♬ sonido original - Radio Chilango

Enquanto uma publicação, a Chilango ocupa uma posição singular para se expandir para uma nova mídia. A revista celebra seus 20 anos em novembro. Ela foi lançada em 2003 como um guia de turismo no estilo da Time Out para ajudar as pessoas a tirar o melhor proveito da cidade. Ao longo dos anos, evoluiu para produzir jornalismo aprofundado sobre questões como racismodesigualdade de rendapoluição do ar e inteligência artificial. Vallejo compara a Chilango atual à New York Magazine, pois ela equilibra notícias quentes e jornalismo de serviço com estilo de vida e pautas culturais.

Além da revista e da rádio Chilango, a Capital Digital é proprietária de publicações de notícias e estilo de vida como Pictoline (que explica questões da América Latina por meio de gráficos), UnoCero (cobertura de tecnologia para os usuários), Sopitas (entretenimento e cultura pop) e Más por más (jornal diário gratuito sobre a Cidade do México que em breve será rebatizado de Chilango Diario). Cada publicação é monetizada com publicidade, conteúdo nativo, eventos pagos e patrocínios por projeto. Vallejo diz que essas estratégias vão ser adaptadas para a Radio Chilango e que irão monetizar os vídeos em plataformas como o YouTube.

A Capital Digital trabalha majoritariamente com empresas e não aceita anúncios de partidos políticos, mas às vezes aceita publicidade de órgãos governamentais, como o Departamento de Turismo, que promove o turismo na cidade. Objetivos futuros incluem criar uma incubadora local para talentos do áudio e, por fim, se tornar a principal fonte de notícias sobre a Cidade do México em diferentes mídias.

"Não é só sobre guias de restaurantes, bares, taquerias e museus", diz Vallejo, "mas também a grande marca que faz jornalismo na Cidade do México".


Foto por Andrea Leopardi via Unsplash.

Este artigo foi publicado originalmente no Nieman Lab e republicado na IJNet com permissão.