Uma colaboração multimídia mostra impacto ambiental da extração de areia

por Irene Wangui
Oct 30, 2018 em Jornalismo de dados

Quando as jornalistas nigerianas Bukola Adebayo e Tina Armstrong começaram a reportar sobre as comunidades costeiras que vivem em Lagos, na Nigéria, elas queriam se concentrar nas questões socioeconômicas que afetam a qualidade de vida da população, com a esperança de chamar a atenção para a situação dessas comunidades muitas vezes marginalizadas.

Elas logo descobriram que as atividades de mineração e dragagem de areia eram um grande problema, ameaçando os meios de subsistência dos moradores costeiros e alimentando despejos acentuados e confrontos violentos. Ao cobrir a história, elas se uniram com o Code for Africa para criar elementos atrativos baseados em dados que aumentariam o impacto de sua narrativa online.

O resultado foi "Shifting Sands", um projeto multimídia publicado no Punch, um dos jornais mais lidos da Nigéria. O projeto obteve o maior número de visitas registradas para uma reportagem especial no site da Punch, com mais de 25 mil visualizações nas suas primeiras quatro semanas. A matéria incorporou imagens de satélite, filmagens de drones, visualizações de dados, textos e fotografias para contar uma história poderosa sobre o impacto ambiental e socioeconômico da dragagem de areia ao longo das costas de Lagos.

O projeto foi financiado através de doações do Pulitzer Center on Crisis Reporting e o Open Society Institute of West Africa (OSIWA) e amplamente supervisionado por Jacopo Ottaviani, bolsista Knight do ICFJ e editor de dados do Code for Africa, que forneceu sua experiência em jornalismo de dados, cartografia digital e gerenciamento de mídia transfronteiriça para reunir todos os elementos de forma coesa.

Adebayo, jornalista principal da reportagem, e seu time do Punch visitaram 10 comunidades costeiras durante um período de três meses, realizando pesquisas e entrevistando mineiros de areia, líderes comunitários e outras partes interessadas. Através do Code for Africa, o Punch pôde trabalhar com pessoas com uma variedade de habilidades necessárias para criar rapidamente os recursos digitais necessários para assegurar um maior engajamento do público com a matéria final. Enquanto estavam no campo, descobriram que algumas das áreas difíceis de alcançar não eram mapeadas. Elas trabalharam com a equipe digital do Code for Africa para reunir coordenadas que ajudariam no mapeamento e visualização da história para dar ao público uma experiência melhor.

"Combinar as habilidades de jornalismo de Bukola e sua equipe no Punch com a visão inovadora do Code for Africa criou o terreno perfeito para uma história que se tornou uma das matérias mais bacanas já publicadas pela Punch", disse Ottaviani.

Ottaviani serviu como um link entre a equipe Punch e a rede do Code for Africa, com bolsistas, designers e desenvolvedores que forneceram apoio tecnológico ao projeto. Por exemplo, Tricia Govindasamy, do Code for Africa, trabalhou na visualização de dados para a matéria usando gráficos do Atlas, enquanto o estúdio Lucid Vis, baseado em Nairobi, produziu vídeos sociais para alcançar os leitores do Punch via Facebook, Instagram e Twitter. A equipe foi coordenada via Slack para compartilhar todas as informações e recursos digitais que foram reunidos em uma matéria de longa duração utilizando a plataforma de narrativa visual Shorthand.

Bukola creditou os altos números de audiência ao formato multimídia da reportagem, que, combinada com uma história poderosa, ajudou o leitor a visualizar os problemas que a mineração e a dragagem de areia representam para os meios de subsistência e o meio ambiente.

"Esta foi a minha primeira vez trabalhando em um projeto de reportagem que incorporou tantos elementos digitais. É também a primeira matéria multimídia imersiva a ser publicada na mídia da Nigéria, e estabeleceu um novo padrão para reportagens digitais e de longo prazo", disse Adebayo. Mais importante ainda, Adebayo informou que as operações de dragagem pararam nos assentamentos costeiros das áreas de Sabon Kodji e Bishop Kodji em Lagos depois que a matéria foi publicada.

Ottaviani tem duas dicas para os meios de comunicação interessados em desenvolver projetos similares. Primeiro, as salas de redação devem promover equipes multidisciplinares internas que combinam designers, desenvolvedores, especialistas em dados, jornalistas e gerentes especializados que sabem como coordenar projetos complexos e multifacetados. Em segundo lugar, devem investir tempo e recursos para fortalecer literacia tecnológica e de dados. Assim, jornalistas e editores com experiência em dados e tecnologia conseguirão produzir esses tipos de projetos especiais.

Imagem sob licença CC no Flickr via jfrancis2986