O jornalismo estudantil nos EUA está cada vez mais diante dos olhos — e na mira — do público.
Os estudantes que exercem o jornalismo foram reconhecidos por cobrir temas importantes dentro das universidades e em comunidades no país todo e são vistos como parte da resposta para a crise no jornalismo local. Ao mesmo tempo, enfrentam reações negativas, censura, demissões e outras ameaças à liberdade de imprensa em uma escala sem precedentes. Em 2024, estudantes correspondiam a 21% dos jornalistas presos ou detidos nos Estados Unidos.
Com a crescente importância do jornalismo estudantil, jornalistas em atividade talvez se deparem com a necessidade de cobrir essas versões mais jovens de si mesmos. Para ajudá-los a entender os princípios em jogo e ajudar pais e pessoas da comunidade a reconhecerem o papel vital dos jornalistas universitários, a seguir estão sete pontos para ter em mente.
(1) Sim, jornalistas estudantis são jornalistas
Mais de 25 milhões de leitores nos EUA acessaram notícias a partir do trabalho publicado por jornalistas estudantis em veículos profissionais no ano letivo 2023-2024. Muitos mais acessam notícias através de veículos estudantis criados em faculdades e escolas de ensino médio. Jornalistas estudantis preenchem lacunas em desertos de notícias, muitas vezes cobrindo governos estaduais, conselhos escolares e eleições locais e estaduais. Eles também registram casos de assédio sexual em universidades, informam sobre saúdem mental dos estudantes e suicídio entre adolescentes, cobrem problemas enfrentados por estudantes trans e revelam extorsões sofridas por estudantes nas redes sociais. Eles fazem postagens em tempo real no Twitter sobre tiroteios em escolas enquanto testemunham a tragédia. Suas investigações já derrubaram reitores em universidades, técnicos de futebol americano e chefes de polícia.
(2) Quanto mais sólido o jornalismo, mais chances os estudantes têm de gerar controvérsia
Dos cerca de 200 casos de censura relatados ao Student Press Law Center anualmente, praticamente nenhum envolve jornalistas estudantis tentando publicar insultos ou defender a tríade "sexo, drogas e rock 'n' roll". Em vez disso, casos administrativos de censura envolvem situações em que o jornalismo estudantil "cria uma má impressão da instituição" ou que expõe — ou mesmo sugere — a necessidade de melhorias na gestão da escola.
Igualmente perigoso para os estudantes é cobrir assuntos que as pessoas em posição de autoridade não querem discutir, mas com as quais os estudantes convivem e enfrentam dificuldades — e portanto estão especialmente qualificados para tratar do tema. Isso inclui diferentes pontos de vista dos estudantes sobre polêmicas políticas ou internacionais, bem como saúde mental dos alunos, questões de identidade de gênero, assédio sexual e violência armada no campus.
(3) Anuários escolares também são jornalismo
Já considerados publicações inofensivas, uma combinação entre caderno personalizado e álbum de fotos, anuários escolares de qualidade documentam a história, as pessoas, os eventos e tendências de um ano letivo. Infelizmente, com frequência alarmante, gestores ignoram decisões editoriais dos estudantes sobre como eles fazem o registro de si mesmos e de suas experiências, incluindo quais nomes ou pronomes usar ou quais eventos ou assuntos os alunos recordam. Em um caso no Arkansas, gestores arrancaram de todos os anuários páginas que continham uma linha do tempo para extirpar menções aos protestos do movimento Vidas Negras Importam, enquanto outros foram censurados porque os estudantes usavam camisetas com a sigla MAGA (Make America Great Again) ou porque a equipe de natação usava trajes de banho.
(4) Um diretor não é um editor
Alguns jornalistas em atividade assumem que a situação dos estudantes é análoga à relação que têm com seus empregadores. Mas nas escolas públicas, os funcionários, incluindo conselheiros de publicações, são funcionários do governo e por isso sofrem limitações da Primeira Emenda de uma forma que uma publicação privada não sofre.
O ministro da Suprema Corte dos EUA Abe Fortas escreveu, em 1969, no caso emblemático Tinker contra Des Moines, que "é difícil argumentar que tanto estudantes quanto professores perdem seus direitos constitucionais à liberdade de discurso ou expressão dentro dos portões da escola". Poucos pensariam que é constitucional — ou que sequer pareça pedagógico — que um distrito escolar proíba os estudantes de escrever sobre as motivações de Hamlet, de debater sobre o voto compulsório ou pesquisar as causas da Primeira Guerra Mundial.
No entanto, quando jornalistas estudantis informam sobre questões contemporâneas, esses mesmos direitos muitas vezes somem. Gestores escolares frequentemente proíbem os alunos de escrever, debater e pesquisar tópicos que eles consideram controversos.
Quando nós erroneamente confundimos o gestor de uma escola com um editor de uma publicação privada, nós encobrimos importantes questões em jogo.
(5) As proteções da Primeira Emenda concedidas aos jornalistas estudantis frequentemente são mal compreendidas e rotineiramente violadas. Essas condições geram ambientes de censura e medo
Graças à decisão no julgamento Tinker contra Des Moines, que envolveu alunos do ensino médio usando braçadeiras pretas para protestar contra a Guerra do Vietnã, os direitos dos estudantes em relação à Primeira Emenda são protegidos em escolas públicas, a não ser que seu discurso seja ilícito (por exemplo, difamatório, obsceno ou que represente invasão ilegal de privacidade) ou crie um "perigo claro" de "disrupção material ou substancial" para a escola.
Mas, em 1988, a Suprema Corte criou uma exceção para o jornalismo estudantil. No caso Hazelwood contra Kuhlmeier, o órgão decidiu que gestores escolares podem censurar veículos de mídia estudantis quando a censura for "razoavelmente relacionada com preocupações pedagógicas legítimas".
Infelizmente, a Suprema Corte não definiu o que são "preocupações pedagógicas legítimas". Gestores, na maioria das vezes temendo pressões sociais e ansiosos para evitar polêmicas, interpretam "preocupações pedagógicas" de um forma muito ampla, usando-a em casos de censura subjetiva e arbitrária.
Esse ambiente, em que teme-se a censura por parte do diretor de praticamente qualquer coisa que os estudantes publicarem ou a punição do conselheiro do veículo por conteúdo criado por alunos, é tão onipresente que muitos estudantes não reconhecem que se autocensuram para evitar a censura.
Nota: Embora o caso Hazelwood tenha limitado os direitos dos estudantes de escolas públicas de ensino médio, as proteções da Primeira Emenda para estudantes de faculdades públicas seguem firmes. Embora a Primeira Emenda não se aplique de modo geral a escolas e faculdades privadas, muitos programas sólidos de jornalismo surgem nessas instituições sob garantias de liberdade editorial com base nas políticas da instituição.
(6) Em alguns estados, jornalistas estudantis têm direitos mais claros graças ao movimento New Voices
Após o caso Hazelwood, os estados reconheceram o dano educativo e social da decisão. Alguns estados aprovaram leis do movimento New Voices que restauram o padrão do caso Tinker e garantem que editores estudantis determinem o conteúdo da mídia estudantil, com as exceções citadas no item 4.
Até o momento, 18 estados — mais de um terço — e muitos distritos escolares aprovaram leis e políticas ao considerarem que o padrão Hazelwood empodera demais a censura. No mínimo, essas leis protegem jornalistas estudantis de escolas de ensino médio, mas algumas também estendem as proteções para conselheiros, escolas privadas e ensino superior.
Estudantes e educadores em muitos outros estados continuam defendendo leis do movimento New Voices. Somente em 2024, nove projetos de lei desse tipo foram apresentados. A legislação atrai o suporte de legisladores nos dois lados do sistema partidário, talvez em acordo com a opinião expressa em 1943 pelo juiz Robert H. Jackson:
O fato de estarmos educando os jovens para a cidadania é uma razão para a proteção meticulosa das liberdades constitucionais dos indivíduos, se não quisermos estrangular a mente livre direto na fonte nem ensinar a juventude a ignorar princípios importantes do nosso governo como meros lugares-comuns.
(7) Não faça cobertura de casos de censura sem falar com os estudantes censurados
Uma matéria superficial sobre polêmicas em um veículo estudantil vai se apoiar nas declarações oficiais do distrito escolar e trazer opiniões da muitas vezes minoria barulhenta que se opõe ao discurso. Um jornalismo sólido vai cobrir o drama legal e humano em jogo e as lições aprendidas pelos estudantes.
Converse com os alunos cujas vozes estão sendo silenciadas e com jornalistas estudantis de escolas vizinhas, principalmente se eles estiverem cobrindo o caso em suas publicações, ou ainda com antigos jornalistas estudantis que passaram por situações semelhantes.
Seja cético quando gestores escolares alegarem autoridade legal para censurar. Entreviste um advogado do Student Press Law Center — organização sem fins lucrativos e apartidária que atua na área há mais de cinco décadas — ou outros advogados com experiência na Primeira Emenda e em leis do movimento New Voices.
Por fim, entenda que conselheiros talvez não possam falar francamente porque seu trabalho e sustento podem estar em risco. Porém, conselheiros de outros distritos podem conversar com você sobre o papel desafiador e como eles muitas vezes são pegos no meio do conflito, defendendo os direitos de seus alunos e fazendo o que lhes dizem que deve ser feito.
Onde buscar mais informação:
O Student Press Law Center tem uma página de recursos para jornalistas profissionais e uma newsletter com atualizações.
Organizações nacionais ligadas ao ensino médio incluem:
- Journalism Education Association
- National Scholastic Press Association
- Columbia Scholastic Press Association
- Quill & Scroll
Um ponto de partida para fontes locais:
- O JEA tem diretores em praticamente todos os estados
- O NSPA lista vários grupos de imprensa estudantil no nível estadual
Organizações nacionais ligadas ao ensino superior incluem:
Este artigo foi originalmente publicado pelo Poynter e republicado na IJNet com permissão.
Foto via Pexels por Keira Burton.