Três palestrantes do Simpósio Internacional de Jornalismo Online mudaram a maneira como eu vejo o negócio do jornalismo: Jim Moroney, presidente da A.H. Belo e editor do Dallas Morning News; Valtteri Halla, diretor técnico da Leia Media na Finlândia; e Jim Bankoff, fundador e presidente da Vox Media.
Aqui está o que mais chamou a minha atenção:
O impresso ainda gera dinheiro
Jim Moroney do Dallas Morning News deu uma ilustração memorável do valor da publicidade digital versus impressa para o negócio do jornalismo.
Os produtos digitais do jornal atraem 40 milhões de page views por mês. Isso pode parecer muito, Moroney disse, mas a notícia local não alcança muita popularidade na Internet. Ou seja, não existe um mercado de crescimento global para um produto de notícias focado em Dallas ou mesmo no Texas.
Assim, mesmo na melhor situação, o potencial de receita da publicidade digital em relação à impressa é minúsculo. Moroney disse que se ele vendesse todos os espaços de exibição de publicidade a cada mês e se os anunciantes pagassem o valor mais alto (US$8 por CPM), esses 40 milhões de page views mensais gerariam apenas 7,6 milhões de dólares ao longo de um ano, menos do que 2 por cento do total das receitas do Dallas Morning News.
Agora isso foi surpreendente.
Moroney apontou que, enquanto algumas editoras como a Advance Publications reduziram a entrega em domicílio a três ou quatro dias por semana (os jornais Oregonian, New Orleans Times- Picayune e Cleveland Plain Dealer), outros ainda veem valor na impressão.
Ele deu exemplos de investidores estratégicos como a Halifax Media e o Berkshire Hathaway de Warren Buffett, que gastaram milhões para adquirir franquias de notícias locais. Ele mencionou os multimilionários que compraram marcas de nome a preço de banana: a compra de U$250 milhões do Washington Post por Jeff Bezos da Amazon, a aquisição do Boston Globe por parte do proprietário do Boston Red Fox, John Henry, por US$75 milhões, e, mais recentemente, a oferta do bilionário Glen Taylor para comprar o Minneapolis Star Tribune.
Também, há investidores de hedge funds como Randy Smith da Alden Capital que investiu pesadamente em jornais, mas agora parece estar ficando impaciente, pois começou a cortar pessoal e custos.
Um dilema do executivo de notícias, Moroney disse, é que enquanto o negócio de notícias está claramente se movendo em direção a uma produção digital e multimídia, a impressão ainda está produzindo receita significativa. Qual a estratégia você adotaria para equilibrar essas pressões conflitantes?
Como ele e seus colegas de painel apontaram, muitos meios de comunicação estão diversificando as fontes de receitas, da venda direta de produtos para eventos especiais aos serviços de informação premium. E estão adotando as redes sociais como uma forma de expandir as suas audiências.
Seu jornal digital dobrável
Crie um produto que resolva um problema global e você poderá ter um bom negócio. Valtteri Halla da Leia Media mostrou ao público do ISOJ um e-reader finíssimo, movido a energia solar, que um jornal finlandês vai testar como uma forma de fornecer notícias para leitores em áreas remotas.
O LivePaper obtém sua carga elétrica de luz natural ou artificial. Por ser um dispositivo de uso único -exibir um jornal- é simples na sua concepção e construção. A tela é de 9,7 polegadas de comprimento e exibe todas as cores. Um servidor de mídia baseado em nuvem fornece o conteúdo para o dispositivo. "Onde há ondas de rádio e luz solar, há atualizações", segundo o site da Leia.
Por que usar esse dispositivo e não um tablet? É mais barato, o que já é um motivo. Alguns editores têm tentado vender assinaturas, oferecendo um tablet gratuito como incentivo, mas a duração do compromisso de assinatura exigido e o preço não foram populares.
Halla foi evasivo quando perguntaram quanto custa cada dispositivo. "Se você pedir um milhão deles, eu posso cobrar a você um valor barato", disse ele.
A vantagem para os leitores, Halla disse, é que eles podem ler em posição relaxada, em vez de sentados ao computador, e não precisam comprar um tablet. A vantagem para os editores é que podem atingir um público em áreas remotas onde é caro fazer entregas ou aqueles que não querem um produto de papel.
Os editores podem formatar seu produto para funcionar como uma versão online do jornal ou como um aplicativo de tablet, disse ele. O dispositivo também pode ser usado em educação para dar aulas e oferecer livros, segundo a Leia Media, especialmente em áreas remotas do mundo onde seria caro configurar centros de informática.
Halla também mostrou um modelo de papelão de uma tela digital dobrável que o leitor poderia carregar no bolso. Telas de computadores dobráveis não estão muito longe, disse ele. Agora isso sim seria um divisor de águas.
De olho na nova geração de consumidores
Jim Bankoff, presidente da Vox Media, descreveu um mundo da mídia digital em que os futuros vencedores serão aqueles com conteúdo de marca de alta qualidade. Bankoff está correndo contra a corrente aqui. Ele tem a antiquada ideia de que você precisa pagar salários competitivos para atrair os melhores talentos do jornalismo digital e que você pode ganhar dinheiro fazendo isso.
Enquanto ele vê os sites mais populares de notícias na Web como caçadores de visualizações de página com manchetes sensacionalistas e clickbait --Huffington Post, Buzzfeed, entre outros-- sua ênfase está na qualidade do público, em vez de quantidade. "Agora é a hora do conteúdo de marca."
Conteúdo de marca de alta qualidade é a estratégia por trás das sete marcas de mídia que compõem a Vox, incluindo o site da SBNation esportes, a cobertura de tecnologia da Verge e o novo produto de Ezra Klein, que se concentra em notícias gerais, o site Vox.
Como modelo de negócio, está funcionando, Bankoff disse à plateia do ISOJ. Eles estão atraindo "uma nova geração de consumidores de notícias", que se sentiu desligada dos meios de comunicação tradicionais. O público é jovem, altamente qualificado e de alta renda. Seis das sete marcas são rentáveis, sendo a exceção o mais novo, o site Vox, que acaba de ser lançado com uma equipe de 20 pessoas.
Os sites atraíram 79 milhões de visitantes únicos por mês no final do ano de 2013, e o negócio gerou US$74 milhões em capital de risco (agradeço a Maite Fernandez pela pesquisa).
Em sua breve história do jornalismo de Internet, Bankoff descreveu a perseguição atual de páginas vistas como "uma corrida para o último lugar", em que as editoras estão tentando fazer dinheiro, destacando sexo, celebridades e escândalos, e pagando pouco ou nada a blogueiros e estagiários.
Bankoff descreve a estratégia de negócios da Vox como "qualidade em grande escala. "Para isso, a Vox Media contrata nativos digitais que entendem como usar a tecnologia e as mídias sociais para criar um público ampliável para o tipo de jornalismo que diz a verdade e que é caro de produzir. "Queremos que grandes jornalistas que são hackers."
Parte dessa estratégia tem sido desenvolver uma plataforma de tecnologia proprietária, a Chorus, que permite ao usuário embarcar em conversas em torno dos temas dos sete setores. Bankoff disse que não queria ser muito dependente de plataformas como o Google -- "você tem que escrever manchetes de uma determinada maneira"-- ou Facebook -"eles podem mudar seu algoritmo amanhã". Você tem que controlar a sua tecnologia para controlar o seu destino, disse ele.
Outra parte da estratégia é criar anúncios mais atraentes e eficazes na Web. Grande parte da publicidade na Web é ineficaz porque é feia e sem imaginação, segundo ele. "Deixe que comerciantes e anunciantes contem suas histórias de maneiras criativas e atraentes. Abrace o talento, abraçe a tecnologia, abrace a Web, e você pode ter coisas atraentes e bonitas."
Este artigo foi escrito originalmente para o blog News Entrepreneurs e é publicado na IJNet com permissão do autor.
James Breiner é consultor em jornalismo online e liderança. Foi co-diretor do Global Business Journalism Program na Universidade Tsinghua e bolsista do programa Knight International Journalism Fellow, tendo lançado e dirigido o Centro de Periodismo Digital na Universidade de Guadalajara. Ele fala espanhol e inglês. Siga-o no Twitter.
Imagem principal: Jim Moroney, editor, Dallas Morning News, cortesia do News Entrepreneurs - segunda imagem: Jim Bankoff of Vox Media, cortesia do News Entrepreneurs