As subvenções de fundos ofereceram apoio fundamental para os veículos nativos digitais na América Latina, África e Sudeste Asiático durante a pandemia. É o que sugere um novo estudo da SembraMedia.
O financiamento por subvenções representou quase 31% da receita, em média, entre as redações que tiveram suas finanças analisadas no estudo Ponto de Inflexão Internacional. Essa porcentagem relativamente alta — quase um terço da receita das redações — vem com um alerta, no entanto: ser dependente demais de subvenções pode tornar mais difícil para as organizações a construção de modelos de negócios sustentáveis. Para isso, a SembraMedia tem uma recomendação: "candidate-se às subvenções, mas não se torne excessivamente dependente do apoio delas."
Produzido em parceria com a organização global de filantropia Luminate, e apoio adicional do Center for International Media Assistance, o estudo Ponto de Inflexão Internacional tem o objetivo de ajudar empreendedores de mídia digital a se orientarem no mercado de mídia atual. Os autores acreditam que os líderes de mídia tradicional também podem se beneficiar dos insights do estudo, uma vez que a inovação digital "continua a erodir modelos de negócios de mídia tradicionais".
A pesquisa acrescenta: "[O relatório Ponto de Inflexão Internacional] é a pesquisa mais profunda e ampla já feita sobre o estado da mídia nativa digital na América Latina, Sudeste da Ásia e África."
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Como uma organização sem fins lucrativos que apoia jornalistas empreendedores na América Latina, a SembraMedia tem visto em primeira mão os desafios que grandes subvenções a pequenas organizações de mídia podem trazer. Para começar, elas podem forçar as redações a aumentarem suas equipes — sem garantia de que elas serão capazes de sustentar uma equipe maior depois que a subvenção termine. "Isso pode gerar demissões e, em alguns casos, o encerramento das atividades quando os programas de subvenções terminam abruptamente — especialmente quando eles não são acompanhados de suporte para os negócios ou incluem restrições, como o uso dos recursos somente para projetos de reportagem", explica o estudo.
A SembraMedia oferece uma recomendação para diminuir esse problema: "Quando você elaborar propostas de orçamento para subvenções, certifique-se de incluir pelo menos 10% para despesas gerais e comerciais. E, sempre que possível, use os recursos de subvenções para fortalecer sua organização e desenvolver novas fontes de receita, assim como produzir um ótimo jornalismo".
As conclusões da pesquisa aprofundam as descobertas do primeiro estudo Ponto de Inflexão, lançado em 2017, que focou apenas na América Latina, explica Janine Warner, cofundadora da SembraMedia e ICFJ Knight Fellow. "Embora existam diferenças nas três regiões, o que mais nos impressionou durante a análise dos dados foram as semelhanças que emergiram entre essas organizações em seus esforços para cobrir suas comunidades e construir modelos de negócios sustentáveis", disse.
Em um webinar recente no qual a SembraMedia apresentou o novo estudo, Warner reforçou que é fundamental que os líderes de mídia tenham capacitação em gestão e negócios e que eles entendam todas as partes essenciais do funcionamento de uma organização. Se eles focam somente no jornalismo, deixam passar outras coisas importantes, disse ela.
Para o estudo, a SembraMedia entrevistou, no total, 201 líderes de mídia das três regiões. Vinte e quatro recusaram-se a fornecer informações financeiras confidenciais. Outros 36 não conseguiram responder todas as questões financeiras que foram feitas. As conclusões da pesquisa são, em última análise, baseadas nas informações que os pesquisadores coletaram de 141 organizações de mídia que estavam dispostas ou tinham condições de responder questões detalhadas sobre suas receitas, despesas e investimentos.
"Apesar de não haver uma única fórmula para o sucesso, nós de fato encontramos tendências em todos os 12 países que forneceram insights sobre as mais promissoras fontes de receita em cada um dos estágios de crescimento", afirma o estudo. Em todos os veículos, em 2019 e 2020, as principais categorias de receita incluíram subvenções, publicidade, serviços de consultoria, serviços de conteúdo e receita de leitores, nessa ordem.
As subvenções representaram 28% do financiamento dos veículos em 2019. Esse valor cresceu ligeiramente para mais de 30% em 2020, durante a pandemia — quase o dobro do que era cinco anos atrás, de acordo com a pesquisa. Foi ainda mais alto na América Latina, onde aumentou de 29% para 37% em apenas um ano.
As fontes mais comumente relatadas de financiamento por subvenções foram as fundações e organizações filantrópicas, seguidas por corporações privadas como Google e Facebook, organizações de governos estrangeiros e de governos nacionais.
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As subvenções desempenharam um papel especialmente decisivo no apoio aos veículos nativos digitais durante a pandemia, de acordo com o estudo. Eles não sofreram as perdas financeiras em grande escala experimentadas por muitos veículos tradicionais no ano passado. Os autores do estudo sugerem que isso pode ter sido principalmente porque eles não dependem demais de publicidade, e porque os fundos de subvenções para a mídia cresceram no ano passado.
"Em conversas privadas, ouvimos doadores e fundações crescentemente preocupados porque veículos independentes estão se tornando excessivamente dependentes de subvenções, e nós compartilhamos dessa preocupação", explica o estudo. "No entanto, há razões para acreditar que o apoio crescente de doações e investimento filantrópico é parte do que ajudou esses empreendedores digitais a enfrentar a tempestade durante o 'colapso da pandemia’."
Durante o webinar recente, a cofundadora da SembraMedia, Mijal Iastrebner, encorajou os líderes de mídia a permanecerem "vigilantes e estabelecer objetivos para reduzir o nível de dependência dessas subvenções". Notavelmente, a pesquisa mostra que a maioria dessas organizações de mídia já tem mais de 70% de suas receitas vindas de outras fontes. A equipe da SembraMedia se sente motivada com essa descoberta. "Mesmo aqueles que recebem subvenções estão trabalhando para construir modelos de negócios mais diversificados", afirma o estudo.
Isso é fundamental para que as redações tenham independência editorial e sucesso financeiro. É importante também que os veículos tenham em mente que mais não necessariamente é melhor. "Para os veículos nativos digitais com os quais conversamos, ter menos de três fontes de receita tinha mais chances de deixá-los no terço mais baixo de geradores de receita, mas ter mais de seis fontes de receita não fez crescer consistentemente a receita na comparação com organizações de mesmo porte", diz a pesquisa.
O número ideal, de acordo com o Ponto de Inflexão Internacional, é entre duas e seis fontes de receita diferentes. Os veículos devem se esforçar para diversificar, mas tentar administrar projetos demais ao mesmo tempo pode também prejudicar os planos de sustentabilidade de uma redação. "Nossa mensagem principal sempre foi diversificar. Nós encorajamos isso, mas descobrimos que há um equilíbrio a ser alcançado", disse Iastrebner.
Imagem principal cedida pela SembraMedia.
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