O Posta era uma empresa jovem quando foi selecionado para fazer parte do grupo de empresas de mídia aceleradas pelo Velocidad. Embora a produtora de podcast tivesse sido criada em 2014, não tinha sequer seu primeiro balanço. Seus fundadores Diego Dell’ Agostino e Luciano Banchero tinham uma suspeita: contavam com um empreendimento estável com um modelo de negócio que podia melhorar, mas também tinham o desafio de otimizar o caminho para fazer isso, especialmente no que dizia respeito a aspectos financeiros.
Ao começar a aceleração em março de 2020, o Posta já tinha identificado uma prioridade: fazer com que os números fizessem sentido. Organizar e profissionalizar a gestão financeira permitiu à empresa antecipar contratempos e encará-los de outro jeito, especialmente em um momento em que o interesse era lançar um podcast jornalístico de produção diária.
Um ano e meio depois, o Posta pode mostrar como essas decisões tomadas no começo geraram oportunidades para aumentar o número de clientes e, em sintonia com o seu objetivo estratégico atual, ajudaram a consolidar sua presença em escala regional.
O desafio de melhorar os processos
No início das operações do Posta, tanto Dell’ Agostino como Banchero costumavam concentrar a maioria das tarefas. O primeiro ficava responsável pelas atividades técnicas, administrativas e as vinculadas ao faturamento. A produção, o desenvolvimento e a edição dos podcasts eram de responsabilidade do segundo. Em alguns casos, eles ainda conduziam os episódios.
À medida em que tiveram a possibilidade de aumentar a equipe, uma das primeiras coisas que identificaram foi que o arranjo inicial não era viável. "Nesse momento, tínhamos um ou dois clientes ao mesmo tempo; mas hoje, com mais de 25, isso não seria sustentável", considera Banchero.
[O exemplo da Ponte Jornalismo: como profissionalizar uma equipe de notícias]
Houve a necessidade de melhorar prazos e processos. Teria sido possível seguir mais tempo só com os dois sozinhos? Dell' Agostino acredita que sim, mas também está ciente de que essa estrutura afetava diretamente as possibilidades de crescimento da empresa. Causava problemas em aspectos distintos das operações, desde o momento de registrar um cliente no sistema até as etapas de faturamento ou de análise financeira. Também havia dificuldades no momento de preparar uma proposta e durante a gestão de orçamento e de fornecedores.
"Se nós queremos embarcar em um projeto de um podcast diário, com características jornalísticas, precisamos ter uma previsão do tempo de trabalho das pessoas envolvidas, quanto elas vão receber, como elas vão ser pagas e de onde vem a receita", recorda Dell' Agostino. Essa mesma reflexão poderia ser feita se eles quisessem expandir e alcançar novos clientes.
Eles identificaram que se resolvessem esses problemas, poderiam começar a focar mais adiante no longo prazo no lugar de se perguntarem o que aconteceria na semana que vem, quais obrigações estavam com prazo próximo de vencer ou para quais clientes tinham que solicitar um pagamento.
Sebastián Auyanet foi o consultor estratégico do Posta durante a primeira fase de aceleração, entre março e setembro de 2020. Para ele, a quantidade de opções de clientes e sócios que a empresa havia encontrado como fruto de seu bom trabalho na produção de conteúdos de áudio havia trazido a necessidade de contar com "uma organização melhor desde a administração à prospecção; era uma obrigação para que continuassem crescendo".
Para conseguir isso, a contratação de um profissional com perfil administrativo foi essencial. Uma pessoa que pudesse organizar a gestão de finanças da empresa. Foi assim que, desde o começo apostou-se na contratação de um chefe de finanças que ajudou a organizar a estrutura contábil e de pagamentos da empresa. Foi um dos primeiros passos no programa: a definição e ativação do cargo que finalmente ocupou Juan Manuel Giraldez.
"Acionar funções como a de um CFO permitiu ainda que os fundadores pudessem concentrar-se novamente nos aspectos internos do empreendimento. Neste caso, tanto Diego como Luciano são duas pessoas que adoram o projeto; e a gestão financeira, além do caos que traz consigo, era um obstáculo à liberdade deles fazerem o que sabem para que o Posta siga crescendo", explica Auyanet.
Este cargo zela pela saúde financeira da empresa e colabora com o conjunto de processos de orçamento, gestão de pagamentos e negociações com clientes. Durante a aceleração, o time também adicionou uma pessoa encarregada da gestão de contas, alguém que administra os projetos existentes e funciona como elo entre os clientes e a produção.
Um aprendizado: planejamento
Uma das primeiras tarefas desta nova equipe foi regularizar os prazos e processos com os fornecedores. Ela começou a identificar travas e gargalos que impediam o cumprimento dos projetos.
Para além do volume de tarefas e da necessidade de organização, a empresa também identificou que precisava de planejamento. Era necessário poder prever financeiramente, por exemplo, quanto dinheiro ia entrar e quanto ia sair com até 180 dias de antecedência. "Uma coisa eram os erros de previsão que pode sempre ocorrer e outra era que entrassem 80 pesos e nós não soubéssemos de onde havia vindo", relata Dell' Agostino.
Hoje o Posta tem projeções para o próximo ano, algo que até poucos meses atrás nunca havia sido feito. Isso permite prever possíveis contratempos. Eles têm, por exemplo, um orçamento de três anos que inclui novas linhas de negócios e a chegada a novos mercados. "Temos uma ideia mais clara da tridimensionalidade do negócio. Antes, nós nos ocupávamos de duas questões: produzir e distribuir. Agora começamos a nos fazer perguntas sobre recursos, orçamentos e vendas. Podemos definir com facilidade o quanto podemos realmente vislumbrar e o que se pode fazer efetivamente com o modelo atual", pontua Banchero.
Para Banchero, não se pode subestimar a importância de um plano. Durante anos, o Posta havia avançado às cegas ou com pequenos planos de curto prazo. Hoje eles pensam de forma estratégica, com decisões que não são baseadas em reflexos ou improvisos, mas sim nas projeções atuais e a longo prazo. "Hoje vemos que é uma empresa que tem um modelo de negócios e uma equipe", exemplifica Banchero.
E o que vem agora?
O podcast transformou seu jornalístico diário "Esto Pasó Posta" em uma transmissão semanal e mais longa. E lançou outro podcast diário, "5 minutos más", para encabeçar a curadoria do Spotify, que na Argentina se chama "Ruta Diaria". Além disso, envolveu-se com o desenvolvimento do podcast jornalístico da mesma seleção para o "En Foco", do Red/Accíon (um dos outros meios de comunicação acelerados pelo Velocidad) e também para o veículo de fact-checking Chequeado.
[Leia mais: Como jornalistas podem assegurar apoio financeiro para seus projetos de reportagem]
O Posta prepara um evento virtual de jornalismo em nível regional, direcionado para públicos distintos, como meios de comunicação, anunciantes e marcas interessadas nos novos formatos de áudio. "O Posta é sinônimo de podcast. Uma verdadeira referência na região que agora também tem experiência direta no desenvolvimento de propostas jornalísticas de qualidade em áudio", explica Juan Simo, consultor estratégico da produtora na segunda fase do Posta. "Eles podem orientar outros meios de comunicação latinoamericanos sobre como percorrer o mesmo caminho, podem demonstrar como é o design e lançamento de um produto de impacto e também sabem como fazê-lo de forma descentralizada, com elos da cadeia de produção localizados em contextos distintos", acrescenta.
Este evento se conecta de modo direto com o principal objetivo que o podcast se propôs para continuar no Velocidad (dezembro de 2020 - setembro de 2021): a escala internacional. Esta iniciativa, a cargo de Helga Zambrana, na função de responsável por Novos Mercados, tem como foco abrir possibilidades comerciais de produção na América Latina. A princípio, as primeiras ações miram o Brasil e o Chile.
"Nós queremos empreender algo maior do que ter dois clientes. Queremos levar o jornalismo de áudio a uma região na qual acreditamos que ele pode estar e queremos que o formato podcast cresça o suficiente para que seja considerado como um meio de comunicação em geral", explica Banchero.
No marco de seu plano regional, a empresa também se concentrou na "construção de um pitch deck de investimento sólido que o permita apresentar-se em fundos de investimento e demais opções para obter financiamento de risco", explica Mario Postay, consultor estratégico com quem a organização trabalhou nas aulas de finanças.
Para atingir seus objetivos, uma empresa de mídia precisa ser capaz de se adaptar e reagir diante de um imprevisto, da chegada de um cliente grande ou da necessidade de ampliar ou reduzir sua equipe. E para poder responder a esse desafio, tem que ser capaz de se antecipar. A organização da gestão financeira permitiu ao Posta encarar esse posicionamento regional com essa nova habilidade.
Este artigo foi publicado primeiramente pelo Velocidad, um acelerador de mídia empresarial implementado pelo Centro Internacional para Jornalistas e pela SembraMedia com o apoio da Luminate.
Foto de cortesia: Posta.
Leia mais artigos de
