Startups de notícias recorrem a geolocalização para atender público melhor

por Clothilde Goujard
Oct 30, 2018 em Jornalismo móvel

Em 2008, Eduardo Acquarone estava reportando sobre a floresta amazônica para a TV Globo.

Com 200 milhões de pessoas, o Brasil é um país vasto e populoso, mas apenas cerca de 10 por cento da sua população mora na Amazônia. As pessoas sabiam e ouviam sobre os problemas da região, mas Eduardo disse que não conseguiam se conectar. Assim, ele criou um projeto para marcar todos os incêndios florestais em tempo real, em um mapa.

"Apenas com a geolocalização dos incêndios e eventos na Amazônia, muitas pessoas se sentiram mais próximas", disse ele.

A ideia dele funcionou. Os usuários com uma melhor compreensão da destruição de seu país realizaram "protestos virtuais". Mais de 54 milhões se registraram. O projeto ficou ainda maior e foi nomeado a um prêmio Emmy digital. Eduardo agora compreende o poder da geolocalização e interação.

"Comecei a pensar que se as pessoas se preocupam com algo que é muito longe, devem se preocupar ainda mais com o dia-da-dia do nosso mundo", disse ele. "Então comecei a pensar em como poderia ajudar a geolocalização de notícias nas cidades ou quando viajamos, quando andamos ou [onde] vivemos, basicamente."

Michal Meiri, uma empreendedora israelense, também notou que organizações de mídia tinham que se aproximar de seu público e permitir que interagissem com a notícia. Ela percebeu que a ideia de compartilhar um link simples de uma história foi ultrapassada, especialmente agora que os usuários estão cada vez mais compartilhando conteúdo em aplicativos de mensagens.

Sua ideia é "repensar a experiência do usuário e torná-la muito mais personalizada, porque queremos garantir que a experiência do usuário se encaixe com aqueles [aplicativos de mensagens]", disse ela. Seu objetivo é permitir que o público interaja com o artigo -- desenhe nele, acrescente alguns comentários, coloque adesivos. Ela compara isso ao que Snapchat Discover está fazendo.

Os telefones móveis estão desestabilizando a indústria de mídia e mudando a forma como o público ao redor do mundo está recebendo o seu conteúdo e compartilhá-lo.

"Nós carregamos dispositivos que sabem muito sobre nós e sabem exatamente onde estamos o tempo todo, então por que não fornecer notícias, informações e conteúdo com base em quem somos, o que gostamos e onde estamos?", disse Eduardo.

Sua startup, Flying Content, planeja fazer exatamente isso, permitindo que a mídia promova o conteúdo com base onde seu público está, um pouco como Pokemon Go. Eduardo disse que acha que notícias geolocalizadas podem permitir que a mídia reutilize artigos ou "notícias velhas" que já pagaram. Em sua opinião, isso poderia ser muito interessante para empresas, pois no ciclo de notícias 24/7, o conteúdo fica velho muito rápido.

Eduardo, que estudou jornalismo empreendedor na CUNY em Nova York, lembrou de ter lido um artigo no New York Times sobre como um local famoso da cidade recebeu seu nome. Esse artigo foi escrito em 1904. Eduardo gostou do artigo sobre o Times Square. Mas não foi o New York Times que sugeriu que ele lesse o artigo; ele teve que encontrar. Hoje em dia, nós ainda procuramos por conteúdo, e ele disse que depende do usuário obter o conteúdo que quiser.

"Precisamos saber o que precisamos fornecer para as pessoas", acrescentou. Ele quer que as organizações de mídia sejam mais proativas.

A empresa de Michal, Lemmeno, quer fornecer as melhores análises sobre aplicativos de mensagens a organizações de mídia. Com base no engajamento dos leitores com o artigo -- que citação sublinharam, que adesivo usaram, etc. -- Lemmeno irá analisar a reação.

"Se [leitores] engajam com uma determinada imagem ou frase, podemos dizer que esta é a parte do conteúdo mais engajante deste artigo", disse ela. "Então, quando você [a empresa de mídia] muda para outros canais de distribuição, certifique-se de usar essa parte do conteúdo."

Ambos Lemmeno e Flying Content foram destaque durante a conferência da Global Editors Network em Viena em junho.

Tradução: "Emojis são uma maneira realmente personalizada de engajar com nossos usuários em aplicativos de bate-papo..."

Michal agora viaja entre Tel Aviv, Londres e Nova York. Sua equipe de seis pessoas está trabalhando atualmente com uma grande editora dos Estados Unidos, que ela não pode revelar. Ela disse que espera lançar Lemmeno em setembro.

Eduardo trabalha na TV Globo e espera lançar Flying Content para sites WordPress em dois a três meses.

Imagem principal sob licença CC no Flickr via Justin.li