O candidato a presidente Fernando Villavicencio foi assassinado em plena campanha eleitoral no Equador. No dia 9 de agosto, o político foi atingido por cerca de 40 tiros quando saía de um ato de campanha em Quito rodeado de escolta. Era jornalista de profissão, tinha 59 anos e tinha uma luta constante contra a corrupção.
O presidente Guillermo Lasso decretou estado de exceção em todo o país e o alarme social contra a violência, insegurança e narcotráfico foi disparado. Em um recente encontro virtual entre especialistas equatorianos do Fórum de Reportagem de Crises Mundiais do ICFJ, foram compartilhados alguns pontos para entender a crise política e social que o Equador vive e o contexto do assassinato de Villavicencio.
A moderadora Talhíe Ponce, jornalista equatoriana e diretora da Indómita Media, começou com um dado duro: até o momento neste ano, cinco jornalistas se exilaram do país devido a ameaças de morte. Além disso, o candidato assassinado era jornalista, o que para ela "não é uma casualidade". E foi na eleição anterior que, pela primeira vez, Ponce viu alguns de seus colegas fazerem coberturas com colete à prova de balas para garantir sua segurança.
Porém, para Yalilé Loaiza, correspondente do Infobae no Equador, "o grande alerta vermelho" no jornalismo equatoriano ocorreu em 2018 com o sequestro e assassinato de três jornalistas do jornal equatoriano El Comercio, na fronteira com a Colômbia: Javier Ortega, Paul Rivas y Efraín Segarra. "O fato de o caso se manter impune há cinco anos torna gravíssimo o estado da liberdade de expressão e de imprensa no Equador", acrescentou Loaiza.
De acordo com ela, "há uma grande mensagem de impunidade: se atacamos um jornalista, se o matamos, se o sequestramos, se o agredimos nas redes sociais e não acontece absolutamente nada, podemos fazer isso com este e com todos os demais". Para Loaiza, o assassinato dos jornalistas do El Comercio foi "o alerta de que as instituições estão sendo corrompidas por um fenômeno que não tínhamos visto, como a impunidade, a proteção ao crime organizado e ao narcotráfico".
Para entender melhor a situação, Pedro Donoso, advogado e diretor do gabinete de comunicação estratégica e análise política ICARE, explicou algumas características da profunda crise generalizada que o Equador vive e o desgaste de suas instituições. De acordo com ele, "há um rompimento do tecido social que vem desde antes da pandemia, com efeitos evidentes no humor social".
Ele também disse que desde 2022 há três grandes preocupações em nível coletivo: 9 de cada 10 equatorianos são pessimistas em relação ao presente, somente 2 de cada 10 equatorianos confiam no Estado e em suas instituições, e somente 4 de cada 10 confiam em outras pessoas (confiança interpessoal). Isso, segundo Donoso, é uma "equação perfeita para a violência".
Neste cenário, os especialistas concordaram que o mapa político e social do Equador está mudando de forma vertiginosa e que ainda é difícil compreender para onde ele vai. Donoso acrescentou que "há uma guerra entre instituições" e quando "há uma deterioração institucional, a ordem não constituída começa a avançar".
Com relação à segurança dos jornalistas no Equador, Ponce compartilhou dados divulgados recentemente pela Fundación Periodistas Sin Cadenas: até o momento, em 2023, 188 jornalistas foram agredidos e 13 foram ameaçados de morte. A professora e pesquisadora Ana Paulina Escobar também considerou que a crise no Equador não começou há dois anos, mas sim há pelo menos 20 anos.
"As crises estão baseadas em conflitos sociais, e a partir da pandemia se somaram à crise sanitária; também há as catástrofes naturais. O crime organizado e o narcotráfico se somam à cobertura da crise social e política. E os jornalistas enfrentam permanentemente estes fatos", disse Escobar.
De acordo com a pesquisadora, juntamente a este panorama, é preciso ter em conta "as dificuldades de acesso à informação" por parte dos jornalistas, o que tem gerado desconfiança nas fontes de informação. Há também a desconfiança e a desqualificação da imprensa, que vão desde ameaças verbais a ameaças físicas e de morte. As consequências vão desde a autocensura dos jornalistas até o exílio ou o abandono da profissão.
Escobar enfatizou que as associações jornalísticas no Equador "não têm força ou não são um respaldo para o exercício do jornalismo". E há uma ausência de políticas públicas em relação à segurança de jornalistas e ausência de protocolos de proteção por parte dos veículos. Também existe "um desconhecimento do papel dos jornalistas por causa da desconfiança que foi contagiando desde as instituições de poder até os espaços acadêmicos e sociais".
Para pensar como fazer frente à situação atual de segurança enfrentada pelos jornalistas no Equador, Escobar compartilhou algumas pautas para se considerar. De acordo com ele, deve haver mais compromisso por parte dos veículos, do Estado e das associações profissionais com a segurança dos jornalistas na hora de exercer a profissão. "É preciso criar a consciência do importante papel desempenhado pelos meios de comunicação e pelos jornalistas. Talvez não seja o momento de levar e mostrar sua carteira de jornalista nas coberturas porque isso faz de você um alvo."
A pesquisadora também considerou que "os jornalistas deveriam integrar protocolos de segurança em sua rotina de cobertura, pensar de forma simplificada, pensar até em seguro de vida". Escobar mencionou que seria importante para os veículos pensarem em "alternativas editoriais" e em fazer "jornalismo colaborativo". Ela disse que "pode-se integrar três tipos de jornalismo colaborativo: a parceria entre veículos tradicionais e nativos digitais; a parceria entre jornalistas empregados em veículos e jornalistas freelance; e o jornalismo transfronteiriço".
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Imagem por Yamil Salinas Martínez com licença Creative Commons no Flickr.