Sensores para cobertura de problemas sanitários e ambientais

por Irene Wangui
Mar 19, 2019 em Jornalismo de dados
Nuvem

Um projeto que usa sensores de qualidade do ar de baixo custo para monitorar a poluição do ar em seis grandes cidades africanas está fornecendo dados que jornalistas estão usando pela primeira vez para melhorar a cobertura de preocupações relacionadas à saúde e ao meio ambiente.

Lançado em 2017 em resposta à falta de dados sobre a qualidade do ar nas cidades africanas, o  sensors.AFRICA utiliza sensores montados localmente para medir e registrar poluentes do ar, enquanto meios de notícias locais usam os dados coletados para informar sobre os níveis de poluição, e ativistas comunitários, para defender um ar mais limpo.

O sensors.AFRICA é um projeto do Code for Africa, a maior iniciativa de jornalismo de dados e tecnologia cívica do continente, estabelecida em colaboração com o Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês). Sua equipe de tecnólogos reuniu e implantou os sensores em vários locais, incluindo em Nairóbi, Lagos, Kampala, Dar es Salaam, Durban e Joanesburgo.

Em Durban e Joanesburgo, o Code for Africa associou-se ao Open Data Durban para implantar sensores de qualidade do ar em escolas locais, onde os alunos são treinados sobre como usar e interpretar os dados para melhor informar e beneficiar suas comunidades.

A equipe também realiza treinamentos para jornalistas e comunidades locais sobre como construir seus próprios sensores a partir de kits fornecidos pelo projeto, além de manter um painel público onde cidadãos, jornalistas, pesquisadores e reguladores podem acessar e baixar livremente dados de todos os sensores da rede. 

Em Nairóbi, onde o projeto começou, 42 sensores implantados em toda a cidade e seus arredores ficam sob responsabilidade de voluntários da vizinhança e grupos comunitários. Alguns também ficam em organizações de mídia locais e escolas primárias, bem como em uma universidade.

Em Mukuru Kwa Reuben, um assentamento informal ao leste de Nairóbi, dois sensores estão hospedados na estação de rádio comunitária, Ruben FM. De acordo com o gerente da estação, Thomas Odhiambo, há muito tempo os moradores preocupam-se com a qualidade do ar na região, devido às várias indústrias que operam nas proximidades.

"Tivemos vários casos de doenças respiratórias relatados no centro de saúde local e sempre suspeitamos que são causados ​​pela inalação de ar tóxico", disse ele.

“Nossa equipe de rádio teve a iniciativa de fazer uma reportagem investigativa sobre isso usando os dados fornecidos pelo Code for Africa, e também entrando em contato com a direção dessas indústrias”, acrescentou.

O projeto levou a resultados positivos. Em Syokimau, um bairro residencial a 20 quilômetros do distrito comercial central de Nairóbi, quatro sensores foram instalados depois que os proprietários reclamaram de nuvens grossas de fumaça que emanavam de uma fábrica de aço nas proximidades.

Smoke from the steel manufacturing plant as seen in the Syokimau neighborhood.

Fumaça da fábrica de aço no bairro de Syokimau. Foto: Associação dos Moradores de Syokimau.

De acordo com funcionários da Associação de Moradores de Syokimau, os moradores fizeram várias queixas sobre a poluição do ar para a Autoridade Nacional de Meio Ambiente (NEMA, em inglês) em 2016 e 2018, com pouco sucesso. Diante disso, eles entraram em contato com a equipe sensors.AFRICA e instaram sensores no início de 2019 para ajudar a monitorar a qualidade do ar.

Quando os sensores mostraram que os níveis de poluição na vizinhança eram consistentemente mais altos do que os níveis médios diários recomendados pela Organização Mundial da Saúde, os moradores fizeram uma parceria com um blogueiro popular para lançar uma campanha intensiva para exigir que a fábrica reduzisse seus níveis de poluição. Eles também iniciaram uma campanha de mídia social com a hashtag #StopEndmorPollution para exigir ações adicionais da NEMA.

"Os residentes têm sido incrivelmente proativos no uso de dados dos sensores", disse David Lemayian, bolsista Knight do ICFJ que trabalha como diretor de tecnologia do Code for Africa.

“Eles monitoram constantemente os níveis de poluição de nosso mapa de qualidade do ar, e quando os sensores ficam vermelhos para indicar altos níveis de partículas, eles se alertam através de um grupo de WhatsApp na vizinhança”, explicou ele. “Nesses casos, alguns até tiram fotos e vídeos das nuvens grossas de fumaça vindas da fábrica de aço, mantendo registros da data e da hora em que os níveis de poluição são particularmente altos, para serem usados ​​como prova.”

An air quality sensor deployed in Syokimau, Kenya.

Um sensor de qualidade do ar implantado em Syokimau, no Quênia. Foto: equipe do sensors.Africa.

A Associação de Moradores de Syokimau acabou conseguindo uma reunião com a NEMA depois que um blog que publicou dados dos sensores chamou a atenção da autoridade ambiental.

Em meados de fevereiro, a fábrica anunciou em entrevista à Kenya Television Network que havia instalado um ciclone adicional para limpar suas emissões e que a usina estava operando de acordo com os regulamentos.

"É encorajador ver cidadãos em Syokimau e em outros lugares usando dados da rede de qualidade do ar do sensors.AFRICA, para defender um ambiente mais saudável", disse Chege James, tecnólogo do Code for Africa e diretor do sensors.AFRICA.

A equipe do sensors.AFRICA espera expandir o projeto em 2019 com a implantação de mais sensores de qualidade do ar nas principais cidades do Quênia, Tanzânia, África do Sul e Nigéria, graças em parte a uma doação concedida pela Global Partnership for Sustainable Development Data.


Irene Wangui é consultora do programa com foco em África no Centro Internacional para Jornalistas. 

Imagem principal sob licença CC no Unsplash via Eberhard Grossgasteiger