Especialistas mundiais relatam que os primeiros anos de uma criança são cruciais para o resto da vida. A nutrição adequada e estimulação cerebral melhoram o crescimento físico e a capacidade de aprendizagem, enquanto a falta de bons cuidados e alimentação nos primeiros 1.000 dias pode levar à baixa estatura, mau desempenho escolar e salários mais baixos na idade adulta.
Qual é o papel dos jornalistas em trazer essas realidades à luz? Como repórteres podem melhor traduzir os dados disponíveis em matérias interessantes que mostram o que pode ser perdido ou ganho através de decisões tomadas nos primeiros anos de uma criança?
Dois especialistas em desenvolvimento na primeira infância compartilharam insights e dicas para jornalistas que cobrem essas questões no webinário de 8 de setembro organizado pelo Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês) e Strategic Impact Evaluation Fund (SIEF) do Banco Mundial.
Os especialistas foram Roger Thurow, ex-correspondente do Wall Street Journal, que agora é um pesquisador sênior do Conselho de Chicago para Assuntos Globais especializado em alimentos e agricultura global; e Sophie Naudeau, líder de soluções globais para o Desenvolvimento da Primeira Infância do Grupo Banco Mundial.
Thurow, cujo novo livro “The First 1,000 Days” ("Os Primeiros 1.000 Dias", em tradução livre) foi publicado em maio, baseou-se em sua experiência para oferecer estas dicas durante sua apresentação:
Personalize os dados
Os dados podem ser bons amigos de um jornalista -- porque as estatísticas e pontos de dados representam pessoas. Vá para a rua e combine algumas destas estatísticas e relatórios com as pessoas no campo. Por exemplo, descubra o que significa que 40 por cento das crianças em Uganda sofrem de anemia. Qual é o impacto disso? Como as pessoas estão superando? Quais são os programas governamentais lidando com esse problema? O que as empresas estão fazendo? O que as ONGs estão fazendo? Quando os leitores se importam com as pessoas que você está reportando, eles também vão se importar com os problemas.
Faça seguimento de seus protagonistas
Se pode, siga as pessoas e problemas ao longo do tempo. Isso é crítico na cobertura do desenvolvimento da primeira infância. Se você encontra mães, pais, crianças e famílias neste momento inicial do desenvolvimento, volte a visitá-los meses e anos depois. Assim verá como a intervenção importava ou não. Ou sem nenhuma intervenção, verá o que está acontecendo. Qual é a situação na aldeia ou nas escolas onde as crianças não estão aprendendo? O atraso no crescimento é uma sentença de subdesempenho. Como você pode ilustrar isso? Há tantos problemas que podemos ilustrar seguindo as pessoas.
Naudeau, que trabalhou no desenvolvimento da primeira infância na África, Ásia Oriental e Oriente Médio para o Banco Mundial, ofereceu o seguinte conselho aos jornalistas:
Fique de olho em quantidade e qualidade
Por exemplo, a ampliação da educação pré-escolar é algo bom de fazer, mas apenas se a qualidade é boa. Sabemos que a educação de má qualidade pré-escolar não gera impactos positivos para as crianças. Qualidade é fundamental. Então, quando você informa sobre a quantidade de serviços prestados em uma comunidade ou país, olhe para a qualidade dos serviços e inclua na matéria.
Não escreva só sobre problemas; escreva sobre as soluções, também
Estes são dois lados de uma moeda. De um lado, se não fazem nada -- não investem em uma alimentação correta, não capacitar os pais a envolverem-se na estimulação precoce -- então há dramáticas consequências negativas. Por outro lado, se investem em nutrição adequada, estímulo e proteção, as crianças estarão em uma trajetória muito mais promissora e poderão alcançar seu potencial na vida. É bom manter o equilíbrio entre as duas histórias -- o dramático e o positivo -- e manter esses dois lados da moeda à vista.
Para ver as apresentações completas, acesse este vídeo do webinário (em inglês):
Para saber como você pode participar do concurso de reportagem do ICFJ sobre o desenvolvimento da primeira infância, clique aqui.
Imagem principal sob licença CC no Flickr via Nevil Zaveri