Em um esforço para divulgar o seu conteúdo para mais leitores, os jornais estão cada vez mais fazendo acordos com empresas de tecnologia como o Facebook para reproduzir artigos em suas plataformas.
A prática, conhecida como conteúdo distribuído, é uma das turbulências recentes mais significativas para a indústria de notícias, de acordo com a Pesquisa Mundial de Tendências da Imprensa de 2016, produzida pela Associação Mundial de Jornais (WAN-IFRA, em inglês).
As conclusões do relatório, que pesquisou associações de jornais em todo o mundo, mostram que a leitura global de jornal está aumentando, particularmente em formato digital e em dispositivos móveis. Por exemplo, estima-se que pelo menos 40 por cento dos usuários globais da internet leem jornais online.
No entanto, parte desse aumento deve-se à publicação de artigos diretamente no Facebook (através de seus recursos de artigos instantâneos), Google, Twitter e outras plataformas tecnológicas.
Teemu Henriksson, coordenador de projeto da WAN-IFRA, disse à IJNet que a cada ano há certos temas quentes na indústria das notícias que vêm à tona quando os dados da pesquisa são compilados. O conteúdo distribuído é um fenômeno que a indústria ainda está tentando entender.
"Alguns dizem que é um dos maiores desenvolvimentos a acontecer na indústria de notícias, enquanto outros dizem que é potencialmente uma jogada arriscada entregar o controle sobre a distribuição e monetização do seu conteúdo a terceiros", disse ele. "Ninguém sabe realmente qual será a mistura certa para essas coisas, mas a tendência na indústria parece ser a de experimentar as coisas, experimentar e compartilhar descobertas."
Hennickson acrescentou que, embora os editores de notícias tivessem mais ou menos controle de seu conteúdo, a produção do jornalismo tornou-se mais complexa, de distribuir notícias a chegar ao público.
"Os editores de notícias precisam estar cientes de que estão perdendo a autonomia", disse ele. "Eles estão se tornando uma parte deste ecossistema maior e têm que fazer escolhas sobre a colaboração com outros jogadores."
James Breiner, analista de novas tendências e empreendedorismo de mídia, também disse que a ofensiva ao conteúdo distribuído é mais uma forma que os jornais estão perdendo o controle de suas marcas.
"Os leitores nem mesmo sabem que organização de mídia era a fonte de um artigo original, então isso é um problema", disse ele. "O grande ponto dos meios de comunicação importantes é a marca forte que as pessoas podem confiar, especialmente com todo o barulho na internet."
Outro tema quente causando dores de cabeça para os editores é o bloqueio de anúncios. A pesquisa descobriu que pelo menos 419 milhões de pessoas -- ou 22 por cento dos 1,9 bilhões de usuários de smartphones do mundo -- estão bloqueando anúncios na web móvel, o que significou que os bloqueadores de anúncios móveis subiram supreendentemente 90 por cento em 2015.
O fato de que os leitores estão tomando tais medidas proativas para evitar a publicidade chata e de baixa qualidade deve preocupar legitimamente os jornais e suas gestões, disse Breiner.
"Os editores estão todos muito assustados e percebendo que são culpados de causar este problema, criando publicidade irritante, intrusiva e feia", disse ele.
Em resposta ao surgimento de bloqueadores de anúncios, alguns editores de notícias estão tentando depender de publicidade nativa. No entanto, Breiner advertiu que nem todos os anúncios nativos são criados iguais. Como artigos, a publicidade nativa não vai funcionar se não oferecer valor para os leitores, disse ele.
No entanto, a maioria dos jornais atualmente obtém suas receitas de seu público, em vez de anúncios, o relatório da WAN-IFRA observou. Em 2015, US$90 bilhões, ou 53 por cento da receita total global para jornais, veio de assinantes pagantes.
Em geral, empresas globais de mídia estão cada vez mais focadas em suas audiências, disse Henricksson. Os editores estão realizando eventos para fortalecer os laços com as comunidades que servem e gerar novas receitas, bem como para iniciar modelos de adesão total.
Focar em uma audiência de nicho é realmente o melhor caminho a seguir para jornais, de acordo com Breiner, que insiste que os jornais estão na sua maioria perdendo o jogo de escala para o Google. Em vez disso, os jornais devem desenvolver "um público fiel, não grandes audiências".
"O que você realmente quer é que as pessoas voltem para o seu conteúdo várias vezes", disse ele. "Se você tem seu próprio aplicativo móvel, os usuários estão em seu aplicativo, você tem a propriedade. O que você quer ter é um conteúdo tão bom diariamente em seu boletim de e-mail ou em seu aplicativo móvel que as pessoas voltam todos os dias. As organizações de mídia podem fazer isso. Ainda têm a capacidade de fazer isso."
A Pesquisa Mundial de Tendências de Imprensa é publicada pela WAN-IFRA desde 1989. Mais dados da pesquisa podem ser encontrados em um banco de dados pesquisável. Os interessados em contribuir com dados sobre o trabalho no jornalismo para outra pesquisa em andamento pode fazê-lo aqui.
Imagem principal sob CC no Flickr via Esther Vargas. Imagem secundária cortesia do relatório da WAN-IFRA