A campanha presidencial de 2016 nos Estados Unidos gerou um clima político volátil em todo o país.
Como resultado, as organizações de mídia americanas estão fornecendo treinamento de segurança a repórteres que vão cobrir as duas convenções políticas nacionais, assim como fazem para enviados a zonas de guerra.
Para Frank Smyth, diretor do Global Journalist Security (GJS), estas precauções fazem sentido totalmente.
"Sou jornalista há quase 30 anos", disse o ex-correspondente de guerra. "Eu nunca vi esse nível de preocupação sobre qualquer evento político interno. As pessoam falam sobre a turbulência na DNC [Convenção Nacional Democrata], mas a RNC [Convenção Nacional Republicana] tem potencial para ser muito mais violenta."
A Convenção Nacional Republicana ocorre de 18 a 21 de julho em Cleveland; enquanto os democratas vão se reunir de 25 a 28 de julho na Filadélfia. Segundo reportagens, há confrontos entre os manifestantes -- particularmente em Cleveland, onde Donald Trump é o candidato republicano.
Uma matéria no Constitution Atlanta-Journal observou que "vários especialistas em segurança, participantes da convenção e até mesmo potenciais manifestantes temem que Cleveland possa explodir em violência como na convenção democrata de 1968, em Chicago", onde milhares apareceram para se opor à Guerra do Vietnã. Jornalistas foram pegos desprevenidos na briga, entre feridos e presos.
Há previsões de que até 50.000 pessoas possam ir a Cleveland para participar da convenção ou realizar protestos, manifestações e atos de desobediência civil. A cidade tornou-se um ímã para grupos diversos como Bikers for Trump, Black Lives Matter, Coalizão para Acabar com Trump, Partido New Black Panther e Code Pink, preparando o palco para a agitação civil e violência.
Ohio tem leis que permitem portar armas em público, o que pode piorar a situação. Armas são proibidas dentro da Arena Quicken Loans. Fora é uma outra questão.
Há meses, a equipe de segurança de Smyth fornece treinamentos de conscientização de distúrbios civis, seminários de segurança e videoconferências para dezenas de jornalistas que vão para as convenções.
O diretor de treinamento do GJS, Paul Burton, que ajuda a preparar e administrar esses treinamentos, descreveu um comício simulado do Trump em que os instrutores, posando de simpatizantes raivosos e repórteres "bullies", gritam palavrões e obrigam os jornalistas a sair. A cena é semelhante ao que ocorreu em comícios do Trump durante a temporada das votações primárias.
"Nesse caso, [jornalistas] devem pensar em como abrandar [as tensões] e sumir de lá", disse Burton. "O treinamento ajuda a desenvolver uma consciência situacional."
Policiais fora de serviço são contratados para fazer exercícios em que jornalistas são presos, algemados e arrastados. Sangue falso aparece quando um colega é atacado e ferido. Jornalistas são ensinados a tratar queimaduras, ossos quebrados e ferimentos no peito.
Burton também fala aos participantes como "descongelar" o cérebro quando acontece um perigo.
"Como um cervo na frente de faróis, você fica congelado no local", disse ele. "Falamos sobre como fazer com que o cérebro funcione novamente."
Ele também introduz técnicas de respiração de militares para restaurar o equilíbrio. Os instrutores discutem conselhos práticos, como o que vestir e o que fazer para evitar ser alvejado por manifestantes ou policiais.
Smyth, consultor sênior de segurança de jornalista do Comitê para a Proteção dos Jornalistas, postou um artigo listando recomendações para aqueles que vão para as convenções. Entre suas sugestões:
- Ponha de lado a pressão competitiva e forme times de jornalistas para um ficar de olho no outro.
- Pratique a consciência situacional: Esteja ciente dos grupos e forças no terreno. Saiba com antecedência as suas dinâmicas, tendências e interações anteriores com a imprensa.
- Identifique-se se necessário: Mostre suas credenciais de imprensa, quando necessário, mas mantenha-as guardadas para evitar de serem pegas ou roubadas.
- Conheça as rotas de entrada e saída.
- Não responda à provocação. Os participantes e manifestantes, tanto dentro como fora dos locais, podem tentar molestar, intimidar ou mesmo atacar a imprensa. Praticar técnicas de conscientização, evasão e fuga é uma obrigação.
O Clandestine Reporters Working Group, que oferece conselhos de segurança para jornalistas e agentes de direitos humans, dá dicas de preparação para a cobertura das convenções. Entre as recomendações estão:
- Conheça a vizinhança da convenção, ruas e transportes públicos. Coordene rotas de fuga.
- Não fique no meio da rua durante as marchas, protestos e outros distúrbios civis.
- Não se aproxime de manifestantes bloqueando o tráfego, especialmente aqueles em corrente humana.
- Se vai cobrir um protesto extra-oficialmente como freelancer, não sinalize sua atividade de imprensa e misture-se nas multidões, como de costume. Use equipamento de proteção por baixo da roupa.
- Mantenha uma distância segura da destruição de propriedade e ataques.
- Carregue informação de contato de assistência jurídica com você.
Além disso, o Reporters Committee for Freedom of the Press dispõe de uma hotline 24/7 oferecendo ajuda legal gratuita para "jornalistas que enfrentam prisão, detenção e outros obstáculos enquanto cobre as convenções ou protestos afiliados a elas."
Em Cleveland, o número da hotline é 216-861-7694. Na Filadélfia é 215-988-9782.
Imagem principal sob licença CC no Flickr via PBS NewsHour. Imagem secundária sob licença CC no Flickr via 5chw4r7z.