Rádio nigeriana capacita mulheres para cobrir questões de gênero

Mar 14, 2024 em Diversidade e Inclusão
Woman in yellow shirt holding notepad

Falta representatividade feminina na cobertura jornalística na Nigéria.

As mulheres estão mais propensas a serem incluídas em coberturas sobre entretenimento e questões domésticas, por exemplo, do que em reportagens sobre política, educação, saúde e meio ambiente, de acordo com um estudo de 2020 sobre os jornais nacionais no país. Quando elas aparecem no noticiário, o tom tende a ser negativo.

A rádio WFM 91.7, emissora nigeriana comandada por mulheres lançada em 2015, vem buscando lidar com esse déficit. A rádio destaca mulheres e os problemas enfrentados por elas, focando em questões como representatividade das mulheres na política, mortalidade materna, equidade de gênero e violência de gênero.

"Os problemas das mulheres parecem ser relegados ao segundo plano", diz Esther Alaribe, diretora de programas da WFM 91.7. "É por isso que queremos fazer algo diferente, dedicando tempo à causa das mulheres e assegurando que estamos mantendo esse problemas prioritários e dando visibilidade a eles." 

Em 2022, a rádio fundou o Centro de Rádio das Mulheres com financiamento e apoio da ActionAid Nigeria, ONU Mulheres, o Nigerian Women Trust Fund e a MacArthur Foundation. A iniciativa capacita repórteres investigativas em redações da Nigéria para produzir matérias que investigam questões de interesse público.

"O objetivo é conseguir capacitar mulheres jornalistas que trabalham para diferentes redações para que elas tenham o conjunto de habilidades para produzir reportagens investigativas e incisivas" , diz Alaribe. 

Capacitação das jornalistas 

Por meio do Programa de Capacitação de Repórteres Investigativas, um dos cursos do Centro, as repórteres aprendem habilidades fundamentais para cobrir temas que afetam as mulheres e têm pouca cobertura da mídia. O treinamento aborda narrativa, ética jornalística e como ter acesso a documentos importantes. As aulas também se aprofundam em técnicas de jornalismo investigativo, verificação de fatos, jornalismo de dados e segurança digital.

Após o curso, as participantes são acompanhadas individualmente com mentoras experientes dos principais veículos impressos e de radiodifusão do país para orientações editoriais e treinamento para suas reportagens. As jornalistas também sugerem pautas para receber subsídios do Centro.

Mais de 135 jornalistas já participaram do programa de capacitação até o momento. No ano passado, o Centro também treinou 75 repórteres de política da Nigéria sobre como cobrir com precisão as eleições gerais do país.

"O curso foi bem organizado e superou minhas expectativas", diz uma das participantes, a jornalista freelance Rukaiyatu Idris. "Os instrutores conseguiram detalhar as informações e relacionar suas apresentações àquilo que jornalistas encontram nas coberturas."

Mariya Shuaibu Suleiman, jornalista multimídia da BUK FM que participou do programa de jornalismo investigativo em 2023, diz que não tinha conhecimento nem habilidades prévias em reportagem investigativa. "O curso me expôs as realidades da reportagem investigativa", diz. "Ele me equipou com habilidades que aplico no meu trabalho."

Reportagens de impacto

Usando as habilidades obtidas no curso, Idris está trabalhando atualmente em uma matéria sobre como sobreviventes de violência de gênero estão buscando justiça em Borno, cidade no nordeste da Nigéria. 

"O curso contribuiu muito para o desenvolvimento da minha matéria, a começar pelo acompanhamento, porque tinha mentoras a quem informar sobre o progresso da minha reportagem", diz Idris. "Aprender como convencer fontes a se abrirem e como estruturar minha matéria em um formato narrativo de fato fez com que ela ficasse atrativa."

Outras matérias produzidas pelas participantes incluem uma investigação sobre como sobreviventes da insurgência do Boko Haram com HIV são estigmatizadas, e o impacto de protestos separatistas no sudeste da Nigéria em resposta ao aumento da violência contra mulheres e suas consequências econômicas.

Angea Nkwo, jornalista que cobriu os protestos, diz que participar do curso "abriu seus olhos".

"Eu tive acesso a algumas das melhores mentes da mídia que compartilharam ideias", diz. "Eu fiz novas amigas incríveis e aprendi como produzir reportagens, principalmente sob uma perspectiva feminina, como analisar um relatório, a fazer apuração com informações e fontes e, mais importante, contar histórias de mulheres."

Há planos para capacitar mais mulheres no país, diz Alaribe.

"Estamos começando a perceber que as mulheres agora estão mais confortáveis para falar sobre seus próprios problemas", diz.


Foto por Iwaria via Iwaria.