Quatro documentários sobre jornalismo no México

por Julie Schwietert Collazo
Oct 30, 2018 em Jornalismo multimídia

Apesar dos nosso estilo de vida conectado e a capacidade de acessar os jornais mais importantes do mundo online, ter uma ideia do ecossistema jornalístico de um país pode ser difícil. Isso é especialmente verdadeiro quando a liberdade de imprensa do país está em perigo.

O grupo Repórteres sem Fronteiras chamou o México de "um dos países mais perigosos do mundo para jornalistas", observando que "a interseção do crime organizado com as autoridades políticas e administrativas" minou a liberdade de informação.

Mas o que isso significa na dia-a-dia? Em que tipo de ambiente os repórteres estão trabalhando? Sob que intensa pressão? E o que seus colegas no exterior, bem como leitores, precisam saber para entender como a notícia é produzida e publicada no México?

Estas questões, e muitas outras, são respondidas nestes quatro documentários sobre jornalismo o contemporâneo no México. Variando dramaticamente, tanto no estilo e duração, esses filmes explicam os contextos desafiadores em que reportagens são realizadas hoje no México.

Silencio Forzado (Silêncio Forçado)

Este documentário de 25 minutos, lançado em 2012 pelo Article 19, dá uma visão abrangente do ecossistema do jornalismo contemporâneo no México. Os entrevistados falam na maior parte em espanhol, mas alguns, incluindo os jornalistas estrangeiros que trabalham no México, falam em inglês, e todo o documentário é legendado, sendo totalmente acessível a um público bilíngue.

O que é particularmente notável sobre este documentário é que suas cabeças falantes são todos repórteres, editores e membros da família de jornalistas que foram mortos. Mulheres jornalistas estão bem representadas, o que é importante, já que a ênfase sobre os perigos de reportagem no México geralmente se concentram em repórteres masculinos quase que exclusivamente. "Silencio Forzado" também faz um bom trabalho em incorporar os meios de comunicação não só tradicionais, incluindo jornais nacionais e regionais e estações de rádio, mas também as publicações mais recentes, incluindo o site, Animal Político.

Presunto Culpable (Considerado Culpado) 

Enquanto este documentário de 88 minutos (em espanhol, mas com legendas em inglês) não é exclusivamente -- ou mesmo predominantemente -- sobre o jornalismo no México, o seu tratamento do assunto, bem como o seu próprio impacto dramático sobre a notícia, torna-o essencial.

"Presunto Culpable" foi concebido por dois advogados que estavam tentando exonerar o seu cliente, Antonio Zúñiga, depois que ele foi condenado falsamente por crimes que não cometeu. O documentário expõe todos os absurdos do sistema de justiça criminal do México, com base no caso forte de Antonio. A abundância de provas em favor de Antonio, no entanto, é completamente ignorada pelo sistema até que os advogados, finalmente, convencerem os juízes que lidam com o apelo a assistirem as filmagens que eles fizeram.

O lançamento do filme em 2011 quebrou todos os recordes de bilheteria no México para documentários e foi indicado a três prêmios Emmy, incluindo um na categoria de "Melhor Investigação Jornalística", mas também foi manchete por outra razão: apenas um mês após o lançamento, um juiz tentou proibir o filme. Esta tentativa de censurar o filme só o tornou mais popular e expôs ainda mais as relações escuras e muitas vezes sinistras entre as várias partes interessadas, incluindo a mídia, que deveria informar e proteger o público.

Los Demonios del Edén (Os Demônios do Éden)

Lydia Cacho é bem conhecida em todo o México por suas reportagens sobre a prostituição e tráfico sexual de crianças, embora ela não seja tão famosa fora do país, apesar dos inúmeros prêmios internacionais que recebeu por seu jornalismo investigativo. Lydia sofre por sua reportagem corajosa e intrépida, no entanto. Em 2006, uma conversa gravada entre um empresário e o então governador do estado de Puebla revelou que os dois homens estavam conspirando para sequestrá-la e estuprá-la. Ela foi, de fato, presa e espancada, e acabou levando o caso à Suprema Corte. Ela foi a primeira mulher a comparecer perante o tribunal como pleiteante.

"Los Demonios del Edén" é a versão documentária de um livro com o mesmo nome que define a conspiração, prisão e drama tribunal em curso. A reportagem de Lydia sobre pornografia infantil e pedofilia tinha sido publicada em jornais, mas foi a  história detalhada neste livro que provocou a ira daqueles que ela indicou como perpetradores.

O documentário de 2007 ressalta os perigos de reportagens sobre o crime organizado no México -- especialmente para mulheres jornalistas -- e traz esses perigos para a vida, mostrando o efeito devastador que tem nos indivíduos e comunidades, e, é claro, na própria Lydia.

 

Soy El Número 16 (Sou o Número 16)

Este documentário de 10 minutos, apresentado em animação, não é menos claro do que "Los Demonios del Edén" e, de fato, pode ser igualmente poderoso e comovente. Através de desenhos e narração, um jornalista conta seu sequestro em 2012.

Luis Cardona estava documentando sequestros no Estado de Chihuahua e tinha coberto 15 desses "sequestros." Como ele diz nos créditos do documentário, lançado este ano, "eu fui o número 16."

A escolha para animar esta história gráfica em vez de usar imagens de vídeo ou entrevistas dá um poder especial e faz com que seja em grande parte acessíveis a um público de língua inglês, mesmo com a narração em espanhol, sem legendas.

Imagem sob licença CC no Flickr via Kit