Quando jornalismo e ativismo caminham juntos

por Omnia Al Desoukie
Jan 24, 2020 em Jornalismo digital
Mãos se tocando

As organizações de mídia e de ativismo historicamente funcionam em diferentes faixas. No entanto, há mais de uma década, um número crescente de organizações de ativismo começou a incorporar o jornalismo em seu trabalho para contar histórias importantes mas pouco reportadas.

The CARROT Co., que se autodenomina "experimental e baseada nas artes", é uma dessas organizações no Quênia caminhando na linha entre ativismo e jornalismo. The CARROT Co. usa vídeo para abordar questões como direitos das mulheres, desemprego jovem e esforços de paz global.

Este mês, The CARROT Co. lançará seu documentário "Frontline Women", que aborda a importância das mulheres nos processos da paz em toda a África. O documentário visa influenciar os chefes de Estado do continente a abordar questões de paz e segurança -- especialmente no que se refere às mulheres.

O documentário mostra os efeitos devastadores da guerra e dos conflitos em curso, concentrando-se especificamente na vida das mulheres. O filme será lançado durante a cúpula da União Africana em janeiro de 2020.

Segundo Taye Balogun, fundador e CEO do The CARROT Co, o documentário foi inspirado em um fórum da Oxfam em 2015, durante o qual as mulheres participantes discutiram o papel das mulheres e jovens na liderança política. Foi através dessas discussões que os organizadores do fórum perceberam que eram precisamente essas vozes que estavam faltando nas discussões da manutenção da paz.

A Oxfam contratou The CARROT Co. para produzir o "Frontline Women" com isso em mente. Através de documentários como esse, The CARROT Co. acredita que pode alcançar comunidades que jornalistas profissionais (especialmente jornalistas estrangeiros) não podem.

"No momento em que você entender [a cultura das pessoas], será capaz de interpretá-las", disse Balogun, fazendo uma distinção com a prática do jornalismo em que o jornalista estrangeiro chega num dia e vai embora no outro. “[Os jornalistas] ficam apenas dois dias, querem obter a história e publicá-la rapidamente. É um grande problema."

A organização se orgulha de entender o que está acontecendo em várias sociedades africanas e depois traduzir isso para um idioma e estilo que as pessoas comuns entenderão. É um modelo que Balogun descreve como localizando as informações.

"Estamos fazendo a ponte entre os formuladores de políticas e as massas", disse Balogun. “Sejam sobre as estruturas políticas ou o trabalho de desenvolvimento, [as mensagens] não estão sendo adaptadas às massas. Esse é um problema enorme, porque o trabalho é para as massas, mas por que a linguagem é tão difícil para um cidadão africano?” Para superar esse desafio, eles transformam a linguagem da política em histórias que as pessoas comuns podem entender.

Além do "Frontline Women", The CARROT Co. produziu vídeos sobre o desemprego dos jovens na Somalilândia e Puntland e sobre o papel das mulheres nos protestos que eclodiram no Sudão em 2019 sobre a inflação que levou à remoção do ex-presidente Omar al-Bashir. A organização trabalhou com parceiros como Oxfam, Crisis Action, Action Aid e Scratch Foundation.

Embora The CARROT Co. tenha tido sucesso ao criar projetos de multimídia para chamar a atenção para histórias não reportadas e traduzir questões complicadas em um idioma fácil de entender, a fusão de jornalismo e ativismo nem sempre é eficaz.

"A introdução das práticas jornalísticas significa que as organizações precisam pensar cuidadosamente em que grau esse trabalho pode prejudicar suas outras prioridades", disse Matthew Powers, professor da Universidade de Washington e autor do livro "NGOs as Newsmakers". 

As organizações de ativismo também podem usar outros métodos para mesclar jornalismo e a luta por direitos humanos, acrescentou Powers. "Muitas vezes, a cobertura vai além da simples documentação de um problema social e, em vez disso, oferece maneiras pelas quais o público pode tomar ações para solucionar esses problemas."

Há vozes a favor e contra essa fusão entre ativismo e jornalismo, mas pessoas como Balogun continuam enfatizando o potencial da parceria. Para ele, os jornalistas podem aprender muitas habilidades das organizações de defesa de direitos para desempenhar melhor seu trabalho, esclarecendo e dando voz às comunidades frequentemente sub-representadas nas notícias tradicionais. 


Imagem sob licença CC no Unsplash via Claudio Schwarz | @purzlbaum.