A SembraMedia.org, uma organização com quem trabalho que promove o desenvolvimento de mídia independente na América Latina, recentemente me pediu para fazer algumas previsões para 2018.
Eu realmente tinha apenas uma: a credibilidade será a nova moeda do jornalismo em 2018 e nos próximos anos.
Mas para entender melhor a previsão, aqui estão suas ramificações:
A mídia independente -- aquela baseada em servir o público ao invés de lucrar-- crescerá em importância ao revelar corrupção e responsabilizar autoridades.
Essas mídias independentes que servem o público em primeiro lugar, em vez de interesses políticos ou econômicos, ganharão credibilidade desafiando os poderosos.
Essa credibilidade terá um valor econômico que será monetizado através do apoio de ONGs, fundações, consumidores, doadores ricos e organizações orientadas a serviços.
O jornalismo continuará a sua transformação de um negócio para um serviço público, e os meios de comunicação tradicionais que veem o jornalismo como uma empresa acelerarão seu próprio declínio.
O foco da mídia tradicional em manter as margens de lucro fará com que continuem diminuindo suas equipes, seus produtos e seus serviços. Eles não terão a vontade nem os meios para fazer os investimentos necessários em pessoal e tecnologia para a transição para o mundo multimídia, interativo, multiplataforma e jornalismo interativo. (Há poucas exceções.)
A mídia de serviço público independente ampliará e aprofundará seu impacto através de colaborações entre fronteiras, instituições e outras mídias.
Exemplos: O apoio da ProPublica ao jornalismo investigativo no âmbito local; a tradução e distribuição da NPR da Rádio Ambulante, um podcast em espanhol sobre a América Latina; a colaboração do Ojo Publico do Peru com outras mídias latino-americanana nos Panama Papers e na investigação sobre o tráfico internacional de objetos de arte roubados.
Dizer a verdade face aos poderosos será mais arriscado.
A mídia independente será atacada implacavelmente pelas pessoas e organizações ameaçadas pelo jornalismo investigativo. Essas mídias sofrerão ataques cibernéticos de negação de serviço, defamação de suas organizações e assédio contra jornalistas individuais nas redes sociais, até mesmo ameaças e violência contra eles e suas famílias. Informações credíveis e verificáveis têm valor econômico; assim, publicá-las custa um preço alto.
Devido a esses ataques, a mídia de serviço público precisará de suporte técnico, jurídico e treinamento das muitas organizações que apoiam a liberdade de informação.
Entre as organizações que já estão ajudando estão a Global Investigative Journalism Network, o International Consortium of Investigative Journalists, o Committee to Protect Journalists, Reporters without Borders e o International Center for Journalists, entre outras.
Pela primeira vez, os consumidores de mídia se tornarão a principal fonte de receita para o jornalismo em vez de anunciantes.
O apoio virá em várias formas sob vários nomes: financiamento coletivo, doações, parcerias, associações, clubes e sociedades. A chave será que a mídia estabeleça um relacionamento de confiança, credibilidade e lealdade com seus públicos, fornecendo notícias e informações credíveis e acionáveis sobre assuntos que lhes interessam: saúde, educação, meio ambiente, tecnologia, economia e outros tópicos negligenciados pelas principais mídias. Na maioria dos casos, as pessoas que realmente pagam por notícias serão uma pequena porcentagem de usuários, mas seu apoio total será significativo.
Novas métricas de engajamento e lealdade serão desenvolvidas para ajudar a mídia independente a monetizar seus públicos.
As métricas antigas de visualizações totais e usuários únicos totais serão substituídas por aquelas que medem o tempo gasto em um artigo, o deslocamento de um cursor em uma página, onde focam os olhos de um usuário, quais itens compartilhados foram realmente lidos ou visualizados e outros.
O duopólio Facebook-Google reforçará seu domínio na publicidade digital em todo o mundo, mas a fraude publicitária relacionada criará oportunidades para a mídia de serviço público.
A compra, venda e segmentação automatizada que dominou a publicidade digital gerou ao mesmo tempo uma indústria ilícita em escala maciça em que robôs e não humanos geram visualizações de páginas e vídeo. Muitos grandes anunciantes globais, que perderam centenas de milhões de dólares com essa fraude, reduziram ou eliminaram seus gastos em anúncios digitais, como Craig Silverman documentou em suas investigações. A oportunidade para as mídias de serviço público? Elas oferecem aos patrocinadores e anunciantes um ambiente de mídia credível para suas mensagens.
Novas mídias digitais irão liderar a inovação nos novos formatos de contar notícias.
O Porcentual da Espanha, por exemplo, tem 60 clientes de mídia que assinam seu serviço que fornece gráficos de dados extraídos de bancos de dados governamentais sobre desemprego, saúde, pensões e outros indicadores econômicos. La Silla Vacia da Colômbia fornece mapas visuais das conexões entre as pessoas mais poderosas do país. Os podcasts como How I Built This oferecem a oportunidade de segurar a atenção dos usuários e, assim, gerar novas receitas de patrocinadores. Essas mídias têm a agilidade de inovar e experimentar.
Será um bom ano para a mídia digital independente em 2018.
Apesar de todos os desafios, estou otimista.
Este artigo foi publicado originalmente no News Entrepreneurs de James Breiner e é reproduzido na IJNet com permisssão. James Breiner é ex-bolsista Knight do ICFJ, tendo lançado e dirigido o Centro para o Jornalismo Digital na Universidade de Guadalajara. Visite seus sites News Entrepreneurs e Periodismo Emprendedor en Iberoamérica.
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