Precisa cobrir sistemas de saúde? Leve em consideração estes conselhos

Jul 8, 2024 em Temas especializados
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As boas coberturas de temas de saúde são um desafio adicional para o jornalismo. Apesar de ser absolutamente primordial em nossas vidas, o assunto costuma ser abordado de forma secundária, exceto em situações nas quais, devido à sua relevância, ele necessariamente passa para o primeiro plano da agenda.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define os sistemas de saúde como a soma de todas as organizações, instituições e recursos empregados com o objetivo de melhorar a saúde.

Por isso, um elemento indispensável para abordar a saúde do ponto de vista jornalístico é saber como funcionam os sistemas e como eles são financiados, e ter clareza sobre os atores envolvidos, além de outros que, embora não estejam dentro do sistema diretamente, também o impactam.

Por sua vez, um fator fundamental para poder compreender o funcionamento dos sistemas de saúde na América Latina é a mercantilização da saúde, convertida cada vez mais em um bem de consumo e não em um direito fundamental.

A América Latina é a região mais desigual do mundo e essa característica também se reflete na saúde, com desigualdades marcadas que atravessam em maior ou menor medida todos os sistemas do continente — um tema que vem sendo tratado em espaços regionais como a CEPAL.

Os problemas mais comuns que afetam a maioria dos usuários, os destinatários finais do sistema (ainda que permanentemente relegados ao segundo plano na cobertura jornalística de saúde), são o tempo de espera para uma consulta especializada, a lentidão dos diagnósticos e a dificuldade de acesso a medicamentos, dentre outros.

Os ministérios da saúde de cada país, os articuladores, os prestadores de serviço tanto públicos como privados e os usuários são os elementos mais notáveis dessa cadeia, mas também há outros atores que não podem ser deixados de lado. 

Por exemplo, os médicos e as entidades que os agrupam, assim como as entidades dos funcionários não médicos que trabalham na saúde.

Outro grande agente que opera, e muito, dentro da saúde é a indústria farmacêutica que, com o seu poder econômico, tem os meios para poder garantir um lugar na agenda de saúde em função de seus próprios interesses.

A chave do acesso às fontes de informação 

De acordo com o jornalista argentino Pablo Esteban, para uma boa cobertura da saúde  — como em qualquer outra área do jornalismo — é fundamental o acesso às fontes de informação.

Esteban diz que, atualmente, um dos principais problemas existentes na cobertura de saúde na Argentina é a falta de resposta por parte das autoridades do ministro da saúde do país. “Isso é essencial porque, por exemplo, para se comunicar com fontes oficiais, tudo está muito burocrático e centralizado em poucas vozes.”

 

Deixar claras as diferenças entre o setor público e privado

Como acontece em boa parte da América Latina, um dos problemas comuns nos sistemas de saúde é a pouco virtuosa complementação entre o sistema público e privado. 

“Na enorme maioria dos casos, as pessoas que usam o sistema público é porque não têm a possibilidade de fazê-lo no outro lado. Desse modo, muitos usuários não podem ter acesso a um serviço de saúde adequado. Este é um problema estrutural na Argentina que deveria estar acompanhado de uma política de estado que vá mais além dos governos do momento. Mas isso não acontece, porque cada governo que chega ao poder através de um partido diferente age como se começasse tudo de novo. Então tudo fica mais difícil, e dar continuidade às coisas bem feitas às vezes é dificultoso”, diz Esteban.

Escutar os usuários, o elo mais fraco da cadeia

A jornalista uruguaia Amanda Muñoz afirma que outra dificuldade comum é que predominam na agenda de saúde as propostas dos ministérios e laboratórios que, com o lançamento de seus produtos, conseguem centralizar o foco da atenção. Em contrapartida, outros atores, como os usuários, são mais silenciados e não têm espaço na imprensa.

Saber priorizar os problemas importantes

Para Muñoz, os veículos publicam muitas notícias sobre saúde, mas o problema é que o foco muitas vezes não está nos problemas mais importantes.

“Não há uma proporção de matérias em função dos principais problemas de saúde ou dos principais problemas do sistema de saúde. Por exemplo, as matérias sobre como funciona o sistema de saúde do Uruguai e quais ajustes são necessários representam uma quantidade ínfima se levarmos em conta a importância desses assuntos. O problema é que este é um assunto complexo de se entender.”

Tentar combater os subregistros e desequilíbrios no noticiário

Para o jornalista colombiano Carlos Francisco Fernández Rincón, o subregistro e o desequilíbrio na informação são problemas comuns dos veículos na hora de cobrir a área. Segundo ele, há com frequência um desinteresse dos veículos, que por sua vez estão condicionados pela carência de força argumentativa, pouca solidez conceitual e superficialidade com a qual esses temas são tratados em muitas redações.


Imagem por Hush Naidoo Jade Photography via Unsplash.