Plataforma de verificação age como primeira linha de defesa contra propaganda na Ucrânia

Oct 30, 2018 em Combate à desinformação

A manchete foi chocante.

"Vinte mortos e 200 hospitalizados depois de relatos de um vírus mortal ter vazado de um laboratório americano na Ucrânia."

O incidente supostamente ocorreu em um laboratório americano perto da cidade de Kharkiv, perto da fronteira russa. O Facebook e Twitter se agitaram com a notícia de infecções respiratórias agudas entre os militares do país. O site Pravda.ru e outros meios de comunicação russos saltaram a bordo.

Só tinha um problema: A história era falsa.

Uma investigação de verificadores de fatos do StopFake.org não encontrou relatos, fotos ou provas de que soldados ucranianos tinham contraído um vírus como reportado pela imprensa russa. O Ministério da Defesa da Ucrânia não sabia nada de uma doença em massa.

A Agência de Notícias Internacional Donbass, operando em uma região controlada por separatistas leais a Moscou, era a fonte principal da história.

O StopFake, apelidado de "Snopes da Ucrânia", tornou-se a primeira linha de defesa contra a névoa da guerra no país sitiado.

"A invasão, ocupação e desmembramento da Ucrânia em 2014 foram precedidos por uma blitz de propaganda altamente eficaz que fomentou confusão em áreas de língua russa e cegou ambos ucranianos e ocidentais para o que estava realmente acontecendo", disse uma coluna do Washington Post de 6 de maio. "Em resposta, as organizações ucranianas, como StopFake, começaram a expor e ridicularizar a propaganda russa."

Desde a sua criação, em março de 2014, o StopFake desmentiu cerca de 500 histórias -- a maioria dos meios de comunicação russos e cerca de 20 por cento de agências de notícias ucranianas. Os resultados são publicados no site em inglês, russo, holandês, espanhol, francês, italiano, romeno e búlgaro.

"Temos centenas de milhares de seguidores nas redes sociais", disse o cofundador do StopFake Yevhen Fedchenko. "Foi importante que o nosso projeto é apoiado por [pessoas de fora] que se voluntariaram para ajudar com tradução, questões técnicas e enviar links para [notícias] falsas em seus meios de comunicação locais."

Ele chamou o StopFake de "o principal centro de informações sobre propaganda russa na Ucrânia."

O projeto de crowdsourcing foi idealizado por professores, alunos e ex-alunos da escola de jornalismo da Universidade Mohyla de Kiev. A motivação: a ocupação da Crimeia em 2014 pela Rússia e uma campanha para retratar a Ucrânia como um estado fascista onde o anti-semitismo, racismo, homofobia e xenofobia prosperaram.

Fedchenko salientou que o StopFake está focado em padrões jornalísticos de informação e não tem laços políticos.

"Nós não tomamos partido e não produzimos propaganda ucraniana em resposta à propaganda russa", disse ele. "Dependendo do ciclo de notícias, 20 a 40 por cento do nosso público vem da Rússia."

No ano passado, o StopFake recebeu apoio financeiro do National Endowment for Democracy, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Checa e a Fundação Renaissance International, entre outros. O projeto depende principalmente de contribuições do público.

Aqui está uma amostra de informações que o StopFake desmascarou de autoridades russas e mídia estatal:

  • Em julho de 2014, a TV estatal russa provocou uma tempestade de críticas depois que foi ao ar um relatório não confirmado alegando que o exército ucraniano pregou publicamente um menino de três anos de idade a uma placa em um antigo reduto rebelde.
  • A Zvezda TV, conduzida pelo Ministério da Defesa da Rússia, informou que a Ucrânia estava à beira de uma catástrofe nuclear pior do que o Chernobyl devido ao aumento da utilização do combustível nuclear americano para alimentar usinas atômicas.
  • Durante uma entrevista à BBC, um ex-inspetor sanitário russo sugeriu que os Estados Unidos poderiam infectar mosquitos com o vírus zika na região do Mar Negro como uma forma de guerra biológica contra a Rússia.

O site StopFake fornece um tutorial que pode funcionar para verificadores de fatos em qualquer lugar do mundo, além de guias para checar fotos, vídeos do YouTube e muito mais.

Como verificar vídeos do YouTube: Esta seção direciona os espectadores para o Citizen Evidence Lab, um site da Anistia Internacional criado para fornecer ferramentas e lições aos jornalistas e trabalhadores de direitos humanos para ajudar a certificar vídeos gerados por usuários.

Como identificar o proprietário de um site: De acordo com o StopFake, a agência Kharkov Notícias informou falsamente que o presidente ucraniano, Petro Poroshenko estava bêbado e tinha sido removido de um voo de Kiev a Moscou.

Uma verificação do site da agência encontrou um endereço para a República Popular Luhansk, Luhansk, rua Pochtova n° 2 -- prova de que o site apoia abertamente militantes pró-russos no leste da Ucrânia. O StopFake usa SpyOnWeb para encontrar proprietários de sites.

Os fundadores da StopFake agora estão trabalhando para expandir seu alcance.

"Convidamos o público em qualquer lugar para enviar ideias para novas pesquisas através do botão "Report a Fake" (Denuncie uma Farsa) em nosso site", disse Fedchenko. "Recebemos até 20 por cento das nossas ideias para desmascarar [histórias] do nosso público, incluindo dentro da Rússia."

Imagem principal sob licença CC no Flickr via Ivan Bandura