Pioneiros da mídia oferecem conselhos financeiros para empreendimentos jornalísticos

por James Breiner
Oct 30, 2018 em Sustentabilidade da mídia

Quatro pioneiros do jornalismo digital na América Latina têm quatro diferentes soluções para o problema de como financiar uma organização de notícias independente.

Para Daniel Moreno, diretor-geral do Animal Politico no México, uma estratégia foi lançar uma extensão da marca chamada Animal Gourmet, uma publicação sobre gastronomia, que atrai um novo grupo de usuários e anunciantes.

Jorge Zepeda Patterson, fundador e editor do Sin Embargo (Por outro lado), no México, tem investidores pacientes e um modelo de publicidade online.

Para Juanita Leon, fundadora e editora do La Silla Vacía (A Cadeira Vazia), na Colômbia, a solução tem sido inovação constante. Além de ter conseguido doações de ONGs, o site gera receita a partir do seu clube de Super Amigos, de universidades e de patrocínio de grupos de discussão online.

E Oscar Castilla, diretor-executivo de um novo site de jornalismo investigativo no Peru, Ojo Público (Olho Público), ainda está pesquisando muitas possibilidades, incluindo o apoio de universidades e ONGs.

Todos esses veteranos do jornalismo impresso apostaram tudo no jornalismo digital e discutiram por que o fizeram durante uma mesa redonda que eu moderei no Terceiro Fórum Latino-Americano de Mídia Digital e Jornalismo no dia 9 de outubro, organizado pelo Centro de Pesquisa e Docência Econômica do México. (Aqui estão os vídeos de todas as sessões, em espanhol).

Animal Politico

Moreno, fundador da revista Cambio e ex-editor do diário Excelsior, disse que prefere o jornalismo digital ao modelo antigo. Jornalistas digitais podem ter uma conversa com o público como se estivessem "entre iguais", disse ele, e aprender sobre os temas que realmente importam para eles.

O Animal Politico foi fundado há quatro anos. No primeiro ano era apenas uma conta no Twitter que "testou as águas para ver se havia um mercado" para um tipo diferente de jornalismo, disse ele. Os fundadores queriam ver que tipos de tom e tópicos funcionavam com seu público-alvo, a geração do milênio, de 18 a 34 anos que não confia ou lê a mídia tradicional.

Os números do Animal Politico:

Moreno disse que a extensão de marca Animal Gourmet foi lançada para atrair novos anunciantes, em especial pequenas empresas. "As pequenas empresas são mais criativas, mais inclinadas a experimentar com programas na mídia social." Hoje, 70 por cento das receitas do animal Político vêm de pequenas empresas. Grandes anunciantes evitam o jornalismo investigativo controverso pelo qual o Animal Politico é conhecido.

Sin Embargo

A publicação, cujo slogan é "jornalismo rigoroso", foi fundada em 2011.

Zepeda Patterson é o ex-editor do jornal El Universal, e atualmente é colunista do El Pais da Espanha e cerca de 15 jornais no México. Ele disse que uma das dificuldades que mídia digital enfrenta é "a inércia de empresas e instituições", cujos líderes ainda estão vivendo no "mundo analógico" da imprensa e preferem ver seus anúncios lá.

O hábito é difícil de quebrar. No caso de seu antigo empregador, El Universal, ele disse que a edição digital tem 10 vezes os leitores da edição impressa, mas a edição impressa gera 10 vezes a receita de anúncios de digital.

Os números do Sin Embargo:

  • 32 empregados
  • 4,6 milhões de usuários únicos mensais
  • 10 milhões de page views mensais
  •  Receitas de publicidade digital cobrem 40 por cento dos custos operacionais
  • Os investidores são os irmãos Miguel e Pablo Valladares Garcia, presidente e diretor geral, respectivamente, do El Pulso, um diário de San Luis Potosi.

Zepeda Patterson disse que as receitas de publicidade dobraram a cada ano e que o tráfego do Sin Embargo está entre o quinto ou sexto lugar entre os meios de comunicação digitais no México.

Seu objetivo é que até 2016, o tráfego irá superar o de dois grandes sites de jornais diários, Excelsior e Milenio. Em um prazo mais curto, o plano para 2015 é ampliar para 63 empregados e cobrir 60 por cento dos custos operacionais, acima dos 40 por cento.

Enquanto muitas operações de notícias digitais tentam sobreviver através da agregação de conteúdo de outros sites, Zepeda Patterson acredita que "a única possibilidade para a geração de tráfego significativo é criando o seu próprio conteúdo."

La Silla Vacía

Este site de jornalismo investigativo na Colômbia tem sido inovador tanto na criação de novas formas narrativas como em novas fontes de receita.

Mas, no início, há cinco anos, "Tudo o que pensávamos era sobre jornalismo, não o modelo de negócio", admitiu Leon.

Em La Silla, eles tentaram várias formas de gerar renda, incluindo a oferta de consultoria em mídias digitais para terceiros. Eventualmente, abandonaram esse modelo por causa da quantidade de tempo que os tiravam de sua missão principal de desenvolver uma voz independente de notícias.

O objetivo e o mantra se tornou, "Ganhar dinheiro enquanto dormimos". Então eles decidiram se concentrar na criação de uma comunidade mais forte entre os seus usuários fiéis. "É mais fácil rentabilizar uma comunidade do que um monte de cliques."

Três anos atrás, La Silla criou o clube de Super Amigos, cujo slogan é "defender o jornalismo independente" e cujos membros têm gerado US$50.000 para a publicação.

A Fundação Ford patrocina uma seção do site dedicada à cobertura do setor de mineração, em particular o seu impacto ambiental e social.

La Silla também oferece a universidades uma assinatura de um serviço chamado IQ do la Silla, que permite colocar comentários de seus livros online. E criou eventos patrocinados, especificamente uma série de debates públicos promovidos por uma universidade.

Em novembro La Silla vai lançar uma série patrocinada de fóruns de discussão online. Uma organização de liderança se juntou para patrocinar um fórum sobre liderança.

Os números do La Silla:

  • 5 jornalistas
  • Despesas anuais de US$480.000
  • 500.000 usuários únicos por mês, até 1 milhão de páginas vistas
  • Clube dos Super Amigos, US$50.000 em três anos
  • O site oferece consultoria a outros meios de comunicação independentes em tudo -- administração, parte editorial, financiamento -- e vende um livro com todas essas lições.

No lado do jornalismo, La Silla usou jornalismo de dados para contar histórias de maneiras novas, como o mapeamento das conexões entre as famílias de superpoderosos, empresas e políticos que exercem influência indevida sobre questões críticas que afetam o país.

El Ojo Publico

Castilla admitiu que antes de iniciar este site investigativo no Peru, ele passava pouco tempo em redes sociais e não sabia nada sobre o lado comercial da mídia.

Ele teve de aprender muitas coisas novas, incluindo um ditado usado por programadores: "Feito é melhor que perfeito". Em outras palavras, você tem que se concentrar na visão grande e seguir em frente, mesmo que todos os detalhes da plataforma ainda não estejam perfeitos.

Para Castilla, uma vantagem do jornalismo digital é a habilidade de publicar dados como informações financeiras de todos os prefeitos da região de Lima.

Entre as coisas que os empresários de jornalismo digitais têm que manter em mente, Castilla aprendeu, são:

  • Contratar bons programadores
  • O design e usabilidade do site são fundamentais para atrair e manter os usuários
  • Conhecer seus usuários através de Analytics e outras medidas
  • Como usar as redes sociais para distribuir conteúdo e construir a comunidade.

Publicidade nativa, conteúdo patrocinado

Um membro da plateia perguntou aos painelistas se eles consideravam aceitar publicidade nativa ou conteúdo patrocinado como tantas publicações nos EUA e a Europa já começaram a fazer.

Sin Embargo não considerou, disse Zepeda Patterson. "Isso significa andar na corda bamba e é um caminho muito perigoso", em que uma veículo de notícias arrisca prejudicar sua credibilidade.

Leon do La Silla concordou. "Nós não aceitamos conteúdo patrocinado, nem criamos conteúdo para terceiros", disse ela. "Sou alérgica a isso."

Para Moreno do Animal Politico, é uma questão de ser transparente e honesto com os usuários sobre o que é conteúdo editorial e o que é publicidade. O Animal Politico aceitou publicar comunicados de imprensa do presidente do país, que são claramente identificados como publicidade paga. O importante, Moreno disse, é que o usuário não deve ter nenhuma dúvida sobre qual é qual.

O futuro do jornalismo digital

Todos os quatro membros do painel (e moderador) estão otimistas, apesar de todos os desafios e incertezas.

Moreno disse: "Nós não somos jornalistas digitais, porque não temos o dinheiro para fazer uma publicação impressa. Somos jornalistas digitais porque acreditamos que representa o futuro, porque temos outras maneiras de definir o conteúdo, porque temos outras maneiras de contar histórias.

"Estamos no Animal Politico, porque é um lugar onde podemos ser quem somos. Nós não fazemos parte de alguma empresa gigante com interesses comerciais extremamente complicados. Aqui podemos abordar os assuntos que nos interessam e o que achamos que vale a pena. [Na mídia digital] você vai trabalhar três vezes mais duro, mas será três vezes mais divertido."

Leon disse: "É a primeira oportunidade na história para os jornalistas estabelecerem seus próprios veículos. É a primeira oportunidade para trabalhar para si próprio, em vez de para algum poder político ou algum chefe que grita com você. Claro, você vai falhar algumas vezes, mas no final pode triunfar."

Zepeda Patterson observou: "Estou mais otimista em relação aos sites que têm conteúdo especializado. Há oportunidades em nichos, nos portais destinados a pequenas comunidades e anunciantes que estejam interessados em chegar a essas comunidades."

Castilla ofereceu incentivo àqueles na plateia que podem estar pensando sobre como iniciar os seus próprios veículos de comunicação. "Este é um momento histórico", ele disse: "Vá em frente. Não importa se é um blog ou um site. Faça isso, é a minha recomendação."

Este post foi publicado originalmente no blog News Entrepreneurs de James Breiner e é reproduzido na IJNet com permissão.

Imagem principal sob licença CC no Flickr via Ken Teegardin