Pesquisa revela que buscadores são as plataformas mais usadas para ler notícias

Feb 2, 2025 em Jornalismo digital
pessoa no computador

As plataformas de tecnologia são onipresentes na vida contemporânea das sociedades e condicionam a maneira como as informações são obtidas pela sociedade. Porém, seriam elas uma força positiva ou negativa para as democracias? Como se dá o consumo de notícias através dessas plataformas? 

Foi com o objetivo de responder a essas e outras perguntas relacionadas que o relatório “What do people want? Views on platforms and the digital public sphere in eight countries” do Reuters Institute buscou analisar o papel das plataformas digitais nos ambientes midiáticos atuais e a percepção pública dos benefícios e problemas que elas trazem, especialmente quando se trata de notícias sobre política.

De que plataformas estamos falando?

O relatório se concentrou em cinco tipos de plataforma: mídias sociais (Facebook, X etc.); mecanismos de busca (Google, Bing, entre outros); redes de vídeo, como YouTube e Vimeo; apps de mensagens (WhatsApp, Facebook Messenger...); e chatbots de IA generativa, como o ChatGPT e Google Gemini. A pesquisa foi feita em oito países: Brasil, Argentina, Alemanha, Japão, Coreia do Sul, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos.

 

Consumo de notícias

Segundo o estudo, as ferramentas de busca são as plataformas mais usadas para ler notícias (45%), seguidas das redes sociais (41%) e redes de vídeos (30%). Apps de mensagens (15%) e IA generativa (7%) figuram por último. Sites e apps de notícias (59%) e TV (57%), entretanto, ainda são os meios mais usados em relação a qualquer plataforma.

“A pesquisa vai ao encontro da nossa percepção sobre o atual estado do consumo de notícias. Eu só acrescentaria que as redes sociais estão perdendo um pouco seu lugar de distribuição nesse momento”, afirma Sérgio Spagnuolo, diretor do Núcleo Jornalismo, site de notícias especializado em tecnologia e redes sociais.

Ambivalência de plataforma

No geral, foram encontradas evidências do que se chama de "ambivalência de plataforma". Ou seja, muitas pessoas usam plataformas para obter notícias sobre política ao mesmo tempo em que permanecem céticas em relação às informações que veem nelas por estarem preocupadas com questões como desinformação, preconceito, privacidade e liberdade de expressão. Ao mesmo tempo, os indivíduos também apreciam os benefícios sociais e pessoais mais amplos, como o fácil acesso a informações e permanecerem conectados com amigos e familiares.

“As pessoas têm percebido cada vez mais que as plataformas não são totalmente idôneas. Talvez por isso ainda recorram às ferramentas de busca para garantir alguma autonomia na busca por informação”, afirma Edson Capoano, doutor em Jornalismo pela PROLAM-USP e professor de Jornalismo da ESPM-SP. 

Como atrair o público para sua mídia?

De acordo com Spagnuolo, para se aproximar do seu público, o Núcleo tem cada vez mais investido em distribuição direta, especialmente via newsletters, e em criação de comunidade. “Pra gente é a única forma de crescer com qualidade e gerar valor para nossa audiência”. Segundo Spagnuolo, os usuários chegam ao site da seguinte forma: cerca de 60% por mecanismos de busca, 25% por tráfego direto, 10% via redes sociais e 5% por outros canais.

Para Capoano, os meios jornalísticos precisam disputar a atenção das pessoas com as narrativas digitais vigentes e, portanto, para atrair o público precisam, além de oferecer informação de qualidade, investir no storytelling, na interação e geração de comunidades e na gestão moral e emocional dos conteúdos. “Em outras palavras, abandonar a ideia de que informação boa é apenas fria e técnica”, sintetiza.

Jornalistas em baixa?

A maioria das pessoas é cética em relação às plataformas digitais como fonte de notícias e informações sobre política, revela o relatório. 37% confiam em redes de vídeo e 31% em apps de mensagens. A mídia social é confiável para 30% e a IA generativa, 27%. Os mecanismos de busca são um caso atípico, confiáveis ​​para a maioria (55%).

Questionados sobre o que une as pessoas em vez de afastá-las, apps de mensagens e mecanismos de busca são as plataformas as quais os entrevistados acreditam que, no geral, os unem. Em contraste, os pesquisados acham que a mídia social os divide. Comparando as plataformas com outros atores na sociedade, muito mais pessoas acham que jornalistas, a mídia noticiosa e políticos dividem a sociedade mais do que qualquer plataforma.

Para o professor da ESPM, esse resultado sugere que os usuários veem uma conexão mais direta entre os cidadãos pelas plataformas do que por intermediários que compõem a opinião pública. “O sentido de união citado na resposta está de acordo com a formação de grupos de interesse das plataformas”, afirma.

Questionada sobre o tema, a assessoria de imprensa do Google afirma que, como mecanismo de busca, a empresa fornece acesso aberto a informações de uma variedade de fontes, perspectivas e pontos de vista. “Nossos sistemas de classificação têm como objetivo destacar informações que sejam relevantes e confiáveis para consulta. Diversos estudos de terceiros comprovaram que o Google entrega resultados de qualidade demonstravelmente superior em comparação a outros mecanismos de busca”, informa a assessoria.

Em relação ao jornalismo, Capoano afirma que o descrédito revelado pela pesquisa vem de fatores como discursos de ódio e comunicadores independentes que simulam técnicas jornalísticas, mas que, na verdade, emitem apenas opinião sem checagem. “Eu vejo com desconfiança a afirmação de que há um ‘descrédito do jornalismo’ simplesmente porque as pessoas mudaram seus hábitos de consumo de informação e devido aos insistentes ataques ao jornalismo por parte de grupos e indivíduos que preferem que ele não exista”, analisa Spagnuolo.

Responsabilidade no uso das informações

Sobre desinformação e fake news, mais de um terço dos entrevistados em média sentem que áreas como desinformação (39%), uso indevido de IA generativa (38%) e tratamento de dados pessoais por empresas de tecnologia (36%) estão recebendo pouca atenção dos formuladores de políticas, especialmente no Brasil.

Além disso, a maioria em cada país acredita que as plataformas deveriam assumir a responsabilidade por mostrar informações falsas publicadas por seus usuários. Para o diretor do Núcleo, não há saída sem a regulação das plataformas. “O ambiente de desinformação ainda é muito forte e tem se provado cada vez mais difícil de ser tratado sem a ajuda das grandes plataformas, as quais têm dado cada vez mais sinais de que não querem se envolver. Sem regulação, fica impossível qualquer remédio”, avalia.

O Google, por sua vez, diz que os sistemas de classificação da empresa são projetados para priorizar informações úteis. Além disso, a plataforma também oferece ferramentas para ajudar as pessoas a avaliarem por si mesmas o que encontram. E alega ainda que, nos últimos anos, por meio da Google News Initiative, ela tem apoiado o jornalismo profissional, investindo em ferramentas, treinamentos e recursos para ajudar as redações a prosperarem. 

Segundo Capoano, com o anúncio das mudanças da META, que encerrou seu programa de checagem de fatos, esses temas ficam agora na berlinda. “O jornalismo vai seguir enxugando gelo ao checar e repercutir informações que circulam nas plataformas. Acredito que investir na comunicação com os usuários, ressaltando a importância dessa checagem, pode fazer com que esse desafio se transforme em valor ao campo jornalístico”, finaliza.


Foto: Canva