Em todo o mundo, os jornalistas móveis estão produzindo matérias fascinantes com pouco mais do que um smartphone na mão. Esta série de cinco partes examinará como definimos o jornalismo móvel, como as salas de redação tradicionais estão se adaptando, as contribuições dos cidadãos, como o móvel está melhorando o jornalismo e a interrupção no jornalismo móvel.
O que você faz quando está escrevendo uma matéria sobre o tratamento de refugiados, mas não pode ir aonde eles estão?
Nauru, um dos centros de detenção da Austrália para os refugiados que chegam ao país de barco, fica em uma ilha no Pacífico -- só alcançável por um vôo de quatro horas e meia do continente australiano. Muitos jornalistas não podem fazer essa viagem.
O Canal 4 da Grã-Bretanha estava perdendo uma parte importante da história deles. Eles tinham especialistas sobre a questão, mas ninguém no terreno no centro de detenção. Eles perguntaram a John D. McHugh, fotojornalista e fundador do Verifeye Media, que reúne imagens de testemunhas, se ele tinha colaboradores na ilha. McHugh não tinha, mas dentro de 24 horas, ele foi capaz de identificar, localizar, contatar e contratar três refugiados no centro de detenção em Nauru.
Em 10 dias, cerca de nove pessoas gravaram depoimentos em vídeo sobre suas vidas diárias e os problemas que enfrentavam. McHugh e sua equipe foram capazes de verificar o conteúdo.
"Essa é a primeira vez que o Verifeye Media foi realmente usado corretamente", diz ele.
O Canal 4 não apenas publicou esses vídeos separadamente, mas os usou em suas matérias para criar um jornalismo mais atraente e preciso.
McHugh começou o Verifeye depois de perceber o potencial para o jornalismo ao incorporar novas tecnologias e contribuições de testemunhas oculares. Sua ideia não era substituir jornalistas, mas ser capaz de oferecer perspectivas diferentes de lugares difíceis de acessar como a Síria ou o Afeganistão.
Os cidadãos poderiam encaixar-se no jornalismo móvel, até certo ponto, contribuindo para a coleta de notícias quando é impossível para um jornalista fazê-lo. O Verifeye -- conforme seu nome que em inglês brinca com a palavra verificar e olho -- só lida com colaboradores confiáveis, de acordo com McHugh. A tecnologia móvel tornou possível fazer isso com um aplicativo que reúne todos os metadados. O Verifeye então faz verificação extra.
Com a diminuição do custo da tecnologia móvel, é menor a barreira para produzir conteúdo, especialmente fotos e vídeos, e alguns jornalistas estão preocupados com o que isso significa para sua indústria. Mas muitos jornalistas móveis, ou mojos, não estão muito preocupados.
"Eu não acho que todos podendo usar a tecnologia leva a que todos sejam jornalistas, porque o jornalismo não significa só ficar na frente da câmera, é também pesquisar e encontrar uma história", diz Björn Staschen, treinador de mojo e diretor do NextNewsLab da emissora alemã NDR.
Ivo Burum, um jornalista australiano e treinador de mojo, tinha visto a oportunidade de incluir as perspectivas dos cidadãos com a tecnologia, mesmo antes do advento dos celulares.
Como produtor executivo de um programa de negócios australiano, ele começou uma série de experimentos. Depois de um terrível incêndio florestal atingir a cidade de Canberra, as equipes de notícias partiram para cobrir a próxima notícia grande. Mas Burum queria ver uma imagem maior da história, então ele foi ao rádio e fez uma chamada. No dia seguinte, ele escolheu quatro famílias e ensinou-as a usar câmeras. Durante 16 semanas, as famílias filmaram suas vidas diárias depois do incêndio: problemas com companhias de seguros e destruição das casas que abrigavam seus pais idosos. Todo esse conteúdo foi usado para fazer um documentário.
Agora, como treinador de mojo, Burum treina jornalistas e comunidades indígenas.
"Mojo dá às comunidades remotas a possibilidade de contar suas histórias de uma perspectiva muito diferente", ele explica. "É mais do que apenas técnica para mim; mais do que um conjunto de ferramentas para jornalistas profissionais. Precisamos começar a ver o potencial do mojo."
Burum pratica, treina e também pesquisa sobre o tema do jornalismo móvel. Ele escreveu alguns livros e tem um Ph.D. Para ele, o jornalismo móvel é muito maior do que uma melhoria técnica no jornalismo; é um motor para a melhoria da democracia.
"O jornalismo móvel é um conjunto de ferramentas, uma linguagem que permite às pessoas contar suas próprias histórias e criar uma esfera pública mais diversa", diz ele.
É também uma maneira de contar histórias de forma diferente. Yusuf Omar, editor móvel do Hindustan Times, usou o jornalismo móvel para contar uma história de educação tradicional com novas perspectivas. Sua equipe pediu a seis estudantes que fizessem Snapchat por seis semanas tentando entrar na universidade. Eles mandaram o material para a redação e a equipe de Omar publicou suas histórias.
"Você capacita ainda mais pessoas e consegue que usuários participem do seu ecossistema", diz Omar.
No centro de detenção em Nauru, um homem cujo rosto está desfocado se abre sobre sua situação: "É como uma câmara de tortura. Estamos aqui há três anos e ficamos desanimados. A maioria está pensando em suicídio, incluindo eu."
A matéria do Canal 4 sobre o sistema de imigração da Austrália deu voz para aqueles que o governo australiano não permite falar publicamente. Muitas outras organizações de mídia estão vendo ativamente o jornalismo móvel como uma maneira de incluir suas audiências mais ativamente em sua produção. Numa altura em que as redações ainda têm problemas de diversidade, esta poderia também ser uma forma das organizações de mídia serem mais representativas e inclusivas.
Imagem principal cortesia de Yusuf Omar. Imagem secundária de John D. McHugh cortesia de McHugh.